2008-05-21 04:20:00
O Brasil deverá demorar pelo menos mais sete anos para ocupar o posto que um mundo cada vez mais ávido por alimentos, e em especial por soja, espera do País, o de maior produtor global, de acordo com avaliação do economista sênior da Austin Rating, Nelson Carneiro.
Isso significa, segundo a agência classificadora de risco de crédito brasileira, que a produção nacional cresceria, em média, cerca de 2 milhões de toneladas por safra até 2015, para atingir 75 milhões de toneladas e assim finalmente ultrapassar os Estados Unidos, atualmente os maiores produtores.
"Na produção de soja em grão, o Brasil deve passar os Estados Unidos e chegar ao posto de maior produtor mundial. Mas é uma coisa que não vai acontecer antes de 2015", afirmou ele, baseado em um estudo elaborado pela agência.
Alguns participantes do mercado têm uma posição mais otimista do que a Austin. O presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Carlo Lovatelli, por exemplo, admitiu em entrevista recente que a safra brasileira poderia crescer para cerca de 70 milhões de toneladas já na próxima temporada (2008/09).
Isso significaria um salto significativo na comparação à produção atual (2007/08), estimada pelo governo em 59,5 milhões de toneladas, contra 58,3 milhões na temporada anterior.
"Faz pouco sentido projetar uma nova dinâmica de crescimento sem bases que a suportem. Basicamente, a produção do Brasil nunca cresceu muito e não há fatos novos que digam que ela vai ter um salto", declarou o economista, observando que o preço está alto há algum tempo e "mesmo assim a produção não decolou".
Carneiro disse ainda que o aumento da produção de soja costuma acompanhar o PIB, e o Brasil tem o menor crescimento entre os emergentes, considerando Rússia, Índia e China.
"E isso acontece por falta de condições estruturais diversas: burocracia nos negócios, leis de uso de terras, impostos sobre mão-de-obra e insumos."
Ele lembrou também que a produção dos norte-americanos, estimada em 2008 em 84,5 milhões de toneladas, será "decrescente" no longo prazo, porque eles estão dedicando mais campos ao milho. Em 2015, os EUA estariam produzindo 74,8 milhões de toneladas, segundo a Austin.
China – Na avaliação do economista, a China, que atualmente importa 3 milhões de toneladas de óleo de soja, deixará de importar o produto e deverá ampliar as compras do grão, que viria de Brasil, Estados Unidos e Argentina.
"O mundo vai perder o principal importador desse produto (óleo). A produção lá dentro vai conseguir empatar com o consumo (até 2014). Hoje em dia o que acontece é que o consumo é tão grande que o processamento de soja não dá conta, por isso precisam importar", declarou, ponderando que o objetivo dos chineses é industrializar o produto internamente.
"Há notícias de empresas chinesas comprando fazendas no Brasil, eles estão cientes de que o negócio deles não vai ser plantar", completou.
Carneiro estimou a produção de óleo de soja da China em 2015 em 15,5 milhões de toneladas, para um consumo de 15 milhões.
Para ele, o Brasil – com empecilhos tributários para exportar derivados de soja e incentivos para vender o grão – e Argentina, o maior exportador mundial de farelo e óleo, terão de buscar outros mercados, como a Índia, onde o consumo de óleo ainda é relativamente pequeno e tende a se ampliar.
Da mesma forma, o Brasil tende a se tornar um exportador de soja para a Argentina, que privilegia vendas de derivados.
"Ela tem pouca soja em grão e vai ser importadora líquida. E no longo prazo é até possível que o Brasil tenha que comprar o produto industrializado argentino, é como uma soja brasileira fosse para lá em grão e voltasse envasada."
