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quarta-feira, 17 de abril de 2024

Pesquisador cria identificação digital para boi

2008-03-17 03:20:00

O currículo do pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuária) Gado de Corte Pedro Paulo Pires contrasta com sua simplicidade.

Doutor em Clínica Veterinária, mestre em Parasitologia Veterinária e pioneiro mundial em pesquisas de rastreabilidade eletrônica em bovinos, Pedro Paulo desconhece a arrogância que poderia ser conferida por seus títulos.

A humildade o torna solícito a ponto de fazer parênteses numa reunião com produtores e pesquisadores franceses – interessados em conhecer mais sobre o sistema de rastreamento eletrônico – para atender a equipe do Midiamax.

Nesta entrevista, o pesquisador fala sobre o funcionamento e vantagens do sistema de rastreamento eletrônico, que permite ao produtor coletar informações de bovinos com grande precisão e sem nenhum contato físico com os animais.

Midiamax – Pedro Pires, qual a finalidade do sistema de rastreamento pesquisado pela Embrapa?
Pedro Paulo Pires – Nós queremos que cada animal, dentro da propriedade, seja controlado, que a sua produção seja conhecida e medida. Para isso, o produtor tem que conhecer cada animal. E conhecer um animal com marca de ferro quente não existe mais. Colocar brinco também inviabiliza totalmente o nosso sistema. Por outro lado, a identificação eletrônica permite identificar cada animal no próprio campo, enquanto ele pasta.

Midiamax – Como funciona o rastreamento eletrônico? As informações seriam enviadas de um chip para um software? É isso?
Pedro Paulo Pires – Isso mesmo. O software faz as análises e mostra se vale a pena manter um animal na pastagem. Esse é o nosso foco: usar a zootecnia de precisão para melhorar a produção. Com um clique você pode enviar todas as informações sobre cada animal para as certificadoras. E, pelo sistema manual, o produtor tem que pegar um papel, ir ao mangueiro para poder identificar se é macho, Nelore, dois anos de idade, peso tal… Isso a gente não precisa fazer mais.

Midiamax – Como os animais são pesados no campo?
Pedro Paulo Pires – A gente faz um corredor no meio do pasto. Pode ser um corredor de acesso à água, por exemplo. E ali, no chão, é instalada uma balança do lado de um identificador eletrônico. Quando o animal for beber água, vai passar por aquele corredor, e já é identificado. As informações são transmitidas para o software lá no escritório.

Midiamax – Então, a atualização das informações é constante?
Pedro Paulo Pires – A atualização é diária, em tempo real.

Midiamax – A Embrapa é pioneira no rastreamento eletrônico?
Pedro Paulo Pires – De bovinos sim. Nós começamos a trabalhar com chip há onze anos. Ninguém falava de Sisbov, de certificação. Nós criamos um chip que é colocado no subcutâneo, na prega do umbigo. Esse é exclusivo da Embrapa.

O chip do estômago, que a gente adaptou para bovinos, já era usado em ovinos na Europa. Nós desenvolvemos um chip anatômico para bovinos. Ao mesmo tempo, também desenvolvemos um que é instalado no umbiguinho do bezerro assim que ele nasce.

Midiamax – Não há risco de o animal expelir o chip, que é colocado no estômago?
Pedro Paulo Pires – Não, porque o chip foi desenvolvido para ficar preso. Ele é pesado. Pesa 70 gramas. O chip não sai nas fezes e nem é regurgitado. Ele fica acomodado no fundo do estômago.

Midiamax – A Embrapa já chegou ao modelo ideal de chip?
Pedro Paulo Pires – Cada dia a gente inventa uma moda. Agora a idéia é desenvolver um chip que meça a temperatura do animal. A informação é transmitida para um software de análise de risco. Se o produtor observar que o animal está com febre, corre até lá para ver o que está acontecendo.

Midiamax – Os produtores têm aderido ao sistema?
Pedro Paulo Pires – Cada vez mais, só que esse “mais” ainda é pouco. Isso porque o preço é alto e os produtores ainda resistem ao uso de computador.

Midiamax – É preciso muito conhecimento técnico para lidar com os equipamentos?
Pedro Paulo Pires – Não. O software é simples. Mas para uma mão-de-obra, que, às vezes, é analfabeta, a dificuldade por ser grande. Mas isso vai mudar. E está mudando rapidamente. Vai ser muito comum.

Midiamax – O senhor tem idéia de quantas fazendas já adotaram esse sistema no Brasil?
Pedro Paulo Pires – Poucas. Acho que não passam de dez. E os produtores que usam são pessoas diferenciadas. Tem fazendas com esse sistema em Mato Grosso do Sul, Goiás, São Paulo e no Rio Grande do Sul… E tem produtor grande do Pará querendo colocar também.

Midiamax – Qual o custo médio para o produtor?
Pedro Paulo Pires – Ele vai precisar de um computador, uma balança eletrônica, uma leitora e um chip para cada animal. Um computador é R$ 2 mil, uma balança é R$ 7 mil, uma leitora vai ser R$ 3 mil. O mais caro é o chip para cada animal. Cada chip custa, em média, R$ 8. Mas o chip é reaproveitável. Quando o animal morre, pode usar o chip em outro. Mas a Embrapa não vende nada disso. A Embrapa desenvolve. Quem comercializa são as empresas que produzem essa idéia da Embrapa. E o preço é deles.

Midiamax – Os produtores interessados em implantar o sistema recebem alguma orientação de manejo dos equipamentos?
Pedro Paulo Pires – As empresas quem vendem o produto que são as responsáveis pela capacitação, assistência técnica e garantia do produto. Embora isso seja verdade, a Embrapa também ajuda o produtor como sempre ajudou. Mas a responsabilidade técnica da venda e assistência produto não é da Embrapa, porque não é a Embrapa que vende.

Midiamax – Parece que o maior obstáculo para a disseminação do sistema de rastreamento eletrônico está na resistência do produtor.
Pedro Paulo Pires – O que leva à resistência não é o preço, mas, sim, uma mudança de comportamento. Não que o produtor seja resistente por uma simples resistência, mas porque se trata de uma mudança muito grande de comportamento. E a gente tem encaminhado isso tudo com muita atenção, dedicação e cuidado, porque o produtor é nosso parceiro e a Embrapa é parceira do produtor.

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