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quarta-feira, 24 de abril de 2024

O que pode pesar para Luciano Huck sobre candidatura a presidente

2018-02-16 03:04:00

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Direito de imagem

REUTERS

Image captionA expectativa é que Luciano Huck anuncie nos próximos dias se vai ou não disputar

A especulação sobre a possível candidatura de Luciano Huck à Presidência da República já dura meses.

Em novembro, o apresentador da TV Globo chegou a dizer, em artigo no jornal Folha de S.Paulo, que não se candidataria. Mas seu nome voltou a ganhar força com a confirmação da condenação do atual líder nas pesquisas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que pode ser barrado pela Lei da Filha Limpa. E na semana passada, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso elogiou o apresentador e sua possível entrada na disputa, dizendo ainda que ele tem o "estilo do PSDB".

A expectativa é que uma decisão definitiva seja anunciada nos próximos dias.

Mas o que pode pesar na decisão de Huck? De um lado estão as vantagens de poder vender a ideia de renovação na política e de ser conhecido pela população, e de outro, eventual pouco tempo de TV e fatores como impacto financeiro e em sua carreira no mundo do entretenimento. Confira a análise de cientistas políticos.

O QUE PODE PESAR A FAVOR

1. Não ser do meio político

Com os desdobramentos da operação Lava Jato e a investigação e prisão de diversos políticos, a avaliação geral é que o clima não está muito favorável aos "políticos profissionais". Algo que não é exclusividade brasileira.

Em vários países do mundo, há o fenômeno da ascensão dos chamados "outsiders"- figuras que se apresentam como "de fora da política". É o caso, por exemplo, do presidente norte-americano, Donald Trump, eleito em 2016.

Luciano Huck pode se beneficiar dessa atmosfera de repulsa a partidos e políticos, adotando o discurso da mudança e do "novo". E é isso que ele vem fazendo em entrevistas, artigos e discursos.

"Na minha geração, eu consigo enxergar competência, gente engajada e que eu admiro em vários setores. Na política é muito difícil conseguir encontrar muita gente da nossa geração que está a fim de servir de fato e que esteja fazendo um bom trabalho. Então, o que a gente precisa no Brasil é renovação", disse ele em mensagem gravada em vídeo e divulgada no dia 3 de fevereiro em um evento em São Paulo.

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Image captionLuciano Huck pode se beneficiar de clima desfavorável a 'políticos profissionais' | Foto: Divulgação/TV Globo

Para o cientista político Cláudio Couto, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), dos atuais potenciais candidatos, o apresentador de TV é o que mais "explicitamente" representa a ideia de alguém que não integra o mundo político. "É óbvio que o que está movimentando as pessoas em torno dele e está fazendo essa candidatura plausível é o desgaste da classe politica tradicional", diz.

"Essa questão dele ser externo à política, um outsider, com certeza é um ponto positivo. É algo muito buscado pelos eleitores. Ele é economicamente independente, então não depende de um grupo especifico. E tem liberdade para escolher o vice-presidente", completa o professor de Ciência Política Ricardo Caldas, da Universidade de Brasília (UnB).

2. Capacidade de comunicação e visibilidade

Um ponto que reduz custos da campanha e facilita a captação de votos é o fato de Huck já ser amplamente conhecido entre a população. Seu "Caldeirão do Huck" é o programa de maior audiência da TV brasileira na tarde de sábado.

Além disso, o apresentador é, obviamente, um comunicador de talento, o que pode facilitar o contato com eleitores e a conquista do voto dos indecisos.

"O fato de ele ser bom comunicador traz uma vantagem. E ele é muito conhecido. O tempo que um partido precisaria para apresentar o candidato não vai ser necessário para o Luciano Huck", avalia Couto.

"Um caso parecido é o do ator Arnold Schwarzenegger, eleito governador da Califórnia, em 2003. Ele teve que convencer eleitores numa campanha curta, mas era uma cara conhecida, o que facilitou a vitória", completa o cientista político e professor Lúcio Rennó, da UnB.

3. Uso da internet

Se Huck se filiar a um partido pequeno – segundo os relatos na imprensa, ele estaria conversando com o PPS – e não tiver muito tempo de propaganda na TV, ele pode aproveitar a internet para difundir suas ideias e dar gás à campanha.

É o que tem feito, por exemplo, o deputado fluminense Jair Bolsonaro, segundo colocado nas pesquisas e que deve concorrer pelo nanico PSL.

"A grande questão é saber articular a campanha. A internet, que é potencialmente mais barata, tem um alcance muito grande. O Bolsonaro não tem muito dinheiro, mas está fazendo um barulho danado porque ele conseguiu montar um pequeno exército na internet", destaca Couto, da FGV.

A página de Huck no Facebook tem atualmente 17,6 milhões de seguidores. Bolsonaro é seguido por 5,2 milhões de perfis e Lula, por 3,2 milhões.

4. Capacidade de captar votos de Lula e Bolsonaro

Com a polarização entre eleitores de Bolsonaro e Lula, há um movimento em busca de candidatos "moderados".

"Existe um grande grupo heterogêneo na população que pode ser visto como de centro. Essas pessoas não têm uma adesão ideológica específica e costumam votar de forma pragmática", explica Rennó.

Com um discurso de defesa do liberalismo econômico, mas sem abrir mão de políticas sociais, Huck pode vir a captar eleitores "de centro" e conquistar votos de adeptos menos ferrenhos de Lula e Bolsonaro, segundo os especialistas ouvidos pela BBC.

"Ele captura votos dos dois. Certamente se posiciona como um candidato de centro. Agora, a quantidade de votos vai depender do tempo que Lula vai se manter na campanha e da capacidade do PT de apresentar um candidato viável para eventualmente substituir o ex-presidente", pondera Caldas.

Segundo Couto, essa postura "moderada" atribuída a Huck causa desconforto a outros pré-candidatos com perfil semelhante, como o governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB).

O QUE PODE PESAR CONTRA

1. Tempo de propaganda na TV e fundo partidário

Até agora, apenas o PPS se ofereceu oficialmente para "abrigar" a candidatura de Huck, caso ele decida concorrer na eleição de outubro. O partido elegeu dez deputados federais em 2014 e terá pouco tempo de propaganda eleitoral na TV caso não se una a outras legendas para somar os minutos das inserções.

A distribuição do tempo é proporcional ao tamanho das bancadas da Câmara. O cálculo final vai depender do número de candidatos e da aliança que os partidos formarão na disputa. No entanto, siglas como PSDB e PT, que pretendem lançar nomes próprios, terão muito mais tempo de propaganda que o PPS, por causa do tamanho superior de suas bancadas – o PT tem 57 deputados, e o PSDB, 46.

Os recursos do fundo partidário também são distribuídos proporcionalmente à quantidade de parlamentares eleitos por cada partido. Em janeiro, o PPS recebeu apenas R$ 734 mil dos R$ 62,9 milhões distribuídos às legendas. Enquanto isso, o PT obteve R$ 8,4 milhões e o PSDB, R$ 7,1 milhões.

"Se tiver só o tempo (de TV) do PPS isso torna muito complicada a chanca de vitória da campanha. É importante que eles consigam alianças para aumentar o tempo de TV e o financiamento", diz Couto.

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Image captionTempo de propaganda na TV e financiamento têm impacto relevante no resultado eleitoral | Foto: Elza Fiúza/Ag. Brasil

Ricardo Caldas destaca, porém, que, se Huck começasse a se sair bem em pesquisas de intenção de voto antes do início oficial da campanha, ele poderia atrair outros partidos.

Na última pesquisa Datafolha, o apresentador aparece com 6% das intenções de voto, o mesmo percentual de Alckmin, em um cenário com Lula como candidato. Sem o petista na disputa, esse percentual sobe para 8%.

"O fundo partidário não é decisivo. O ponto principal é o índice de intenções de voto. Se a pessoa não decola, ninguém quer saber dela e ela não consegue financiamento. Se ele conseguir ultrapassar a barreira dos 10%, os partidos vão começar a aderir", avalia o professor da UnB.

2. Carreira na TV e vida pessoal

Uma das principais perguntas do momento é: será que Huck vai querer deixar para trás a carreira como apresentador – e os milhões que recebe em salário e publicidade?

"Ele vai perder muito dinheiro, ganha mais de US$ 10 milhões (R$ 32 milhões) por ano", afirma Caldas.

"A TV Globo já ameaçou que, se ele concorrer, também tirariam o programa da esposa dele, Angélica. Se multiplicarmos a perda de dinheiro por dois, é muita coisa. Podem começar a especular qual a contrapartida esperada na intenção de ser presidente", acrescenta.

Segundo o noticiário, a ideia de uma candidatura também enfrentava resistência em sua família.

3. Inexperiência

Ao mesmo tempo em que ser uma figura "de fora da política" pode beneficiar Huck na campanha, a inexperiência política pode prejudicá-lo caso eleito. Isso porque, para governar, um presidente precisa ser capaz de compor maioria no Congresso Nacional para aprovar propostas.

Os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva formaram alianças com partidos e distribuíram cargos, para conseguir votos no Legislativo. Dilma Rousseff também formou uma coligação ampla, mas não tinha a mesma habilidade para negociar com o Legislativo – dificuldade que se tornou evidente durante o processo de impeachment que a retirou do cargo.

"O Brasil é um país difícil de governar. É difícil construir maioria. Alguém sem experiência vai encontrar uma desvantagem na hora de montar o governo. Principalmente se ele for candidato por um partido pequeno", afirma Lúcio Rennó.

E, apesar do clamor por renovação, especialistas avaliam que o perfil do Congresso brasileiro não vai mudar muito na eleição de 2018.

"Lidar com o Congresso não é uma tarefa para amadores. Que o diga a Dilma. É difícil que o próximo Legislativo seja muito diferente, tendo em vista os candidatos que se despontam. Para lidar com um Congresso como esse é preciso ter afinidade com o modo de fazer política", afirma Couto.

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Image captionInexperiência política pode dificultar governabilidade – especialista citam Dilma como exemplo | Foto: Senado Federal

A inexperiência também pode estar influenciando o índice de rejeição de Huck entre eleitores da elite brasileira. Pesquisas de opinião mostram que ele encontra resistência, sobretudo, entre homens com maior escolaridade e renda.

Para os especialistas ouvidos pela BBC Brasil, isso se explica, em parte, pelo temor de que o apresentador não tenha capacidade técnica para governar o país.

"Entendo que existe um questionamento sobre a competência dele como gestor público entre esses eleitores", avalia Rennó.

"Ser apresentador de TV e trabalhar na iniciativa privada é uma coisa. Querer ser presidente sem ter tido experiência e sem saber montar uma base de apoio é outra. A população que tem nível de escolaridade mais elevado e conhece o sistema político pode questionar isso. Esses eleitores também são mais avessos ao risco, porque, de uma forma ou de outra, estão envolvidos no sistema atual."

Rennó destaca que, se o PSDB decidir lançar Huck candidato, essa resistência do segmento da população com maior escolaridade pode ser contornada. Mas, embora FHC tenha demonstrado simpatia pelo apresentador, a chance de seu partido abrir mão da candidatura de Alckmin atualmente é considerada pequena.

"Alckmin"Direito de imagemLEONARDO BENASSATO/REUTERS
Image captionSegundo Claudio Couto, perfil de Huck ameaça eventuais rivais de centro, como Alckmin

4. Pouca capacidade de captar votos nos 'extremos'

Huck pode ter dificuldade em captar os votos nos extremos, ou seja dos eleitores mais "à esquerda" e mais "à direita", dizem os especialistas.

Por um lado, o discurso mais "progressista" de Huck em questões "morais" ou de "costumes" pode afastar eleitores mais conservadores e religiosos.

"Ele integra um grupo de pessoas associado ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que defende a liberação de drogas, o aborto, e o casamento homoafetivo. Se ele vier a defender isso publicamente, pode ter problemas", diz Caldas.

"Estamos no meio de uma onda conservadora. Saímos de um governo de centro-esquerda, estamos num governo de centro-direita e há a expectativa de uma guinada à direita. Se ele se posicionar mais como centro-esquerda, ele vai perder essa onda", completa.

Por outro lado, a defesa do liberalismo econômico deve afastar eleitores mais à esquerda, que defendem uma participação maior do Estado na economia.

"Acho que ele tende a ter mais sucesso entre o eleitorado antipetista, principalmente entre os mais antenados, que acompanham a situação econômica do pais", afirma Rennó.

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