2015-11-17 21:09:00
Transtornos psiquiátricos e comportamentais tem afastado mais de 10% dos professores universitários da rede pública estadual, em Mato Grosso do Sul. A Universidade Estadual de MS (UEMS) fez um levantamento e identificou esse problema no Estado. O reflexo disso é o risco de carência de profissionais e prejuízo para os alunos que ficam na berlinda e podem ter aulas interrompidas.
Além disso, a UEMS é o principal pólo produtor estaudal de pesquisa em Mato Grosso Sul. São 7.554 alunos em todo o Estado, matriculados em pelo menos 20 cursos de graduação e mais de 25 em pós-graduação. A instituição tem campus em 15 municípios e são mais de 600 professores (457 são os concursados).
Nesse estudo, foi identificado que entre 2011 e 2014, a média do período de afastamento dos professores com esses problemas foi de 39 dias. Esse tempo foi considerado pelos pesquisadores como muito longo e causa prejuízos para o servidor e o próprio aluno.
“Eu sentia que o máximo que eu fazia não era bom o suficiente. Isso mexeu com minha autoestima e foi agravando até se tornar uma depressão grave”, relatou uma professora universitária ao grupo de profissionais que realizou o estudo pela UEMS. Segundo a assessoria de imprensa da universidade, a referida professora tem boa remuneração. Essa docente ficou afastado do trabalho para tratamento por dois anos.
“Às vezes a gente quer abraçar o mundo, sala de aula, pesquisa, iniciação científica, mostrar produção e se esquece que a vida é somatório. Tem que ter a vida pessoal, a social, a profissional e a religiosa, quando desequilibra esse quadrante, a gente acaba ficando sujeito a uma depressão”, disse a professora, via assessoria de imprensa.
CENÁRIO PODE SER PIOR
Essa porcentagem ainda pode ter contornos maiores. Isso porque, segundo a psicóloga Nauristela Paniago, da Divisão de Desenvolvimento de Pessoas da UEMS, o levantamento foi feito com base na Classificação Internacional de Doenças (CID) e somente 31% dos registros pesquisados constavam esse dado.
"Estes dados são fundamentais para que a instituição, juntamente com o Estado, possa primeiro conhecer integralmente as dimensões do problema e, em seguida, criar uma estratégia eficiente de prevenção e acompanhamento de cada caso”, alertou.
A pró-reitora de desenvolvimento humano e social da UEMS, Adriana Rochas, informou que a instituição prepara a criação de uma estrutura com psicólogos e assistentes sociais para atender servidores.
“É preciso observar se a pessoa está se irritando facilmente, ou não conversa, ou atrasa muito os planos de trabalho, ou não consegue cumprir”, ressaltou a pró-reitora, informando que os professores devem reconhecer o problema e procurar por ajuda.
“Tudo tem início, meio e fim. Para as pessoas que estão passando por isso, meu conselho é não acreditarem que é o fim do mundo, porque não é", reconheceu a professora que aceitou falar do problema, via assessoria de imprensa da UEMS.
TRANSTORNOS NA REDE
O superintendente de Administração de Pessoas da Secretaria de Estado de Educação (SED), Welinton Fernando Modesto da Silva, reconheceu que o afastamento por transtornos mentais também atinge professores da rede estadual de educação básica.
“Deste ponto de vista, tanto a UEMS quanto a rede estadual de ensino têm o mesmo perfil, ou seja, a grande maioria das licenças que são concedidas aos servidores, também tem esse perfil”, disse o superintendente.
Os afastamentos e o processo de readaptação dos servidores causa prejuízo direto ao ensino. "Não tenho mecanismo legal para substituí-lo imediatamente a não ser por uma chamada de concurso. Isso cria para a estrutura de trabalho um desequilíbrio no quadro de servidores que é essencial para o funcionamento da unidade”, explicou o superintendente.
PROFISSÃO DE RISCO
Pesquisa da Universidade de Brasília (UNB) indicou que os professores estão entre as categorias profissionais mais vulneráveis à Síndrome de Esgotamento Profissional, doença conhecida também como Síndrome de Burnout.
Os resultados desse trabalho foram publicados no Portal do Professor, do Ministério da Saúde. O resultado encontrado é que 15,7% dos mais de oito mil professores da educação básica da rede pública na região Centro-Oeste, incluindo Mato Grosso do Sul, sofrem dessa doença.
“A enfermidade acomete principalmente profissionais idealistas e com altas expectativas em relação aos resultados do seu trabalho. Na impossibilidade de alcançá-los, acabam decepcionados consigo mesmos e com a carreira”, explicou a pesquisadora e psicóloga Nádia Maria Beserra Leite, da UNB, via assessoria de imprensa da UEMS.
Veja abaixo vídeo produzido pelo Canal Futura que detalha a síndrome.