2009-08-24 17:06:00
A televisão foi durante 50 anos considerada a arma mais poderosa nas campanhas eleitorais. Quem discute o assunto prevê que esse reinado, se não acabou, está seriamente ameaçado.
Em 2010, as eleições no Brasil, incluindo Mato Grosso do Sul, serão um marco histórico nas possibilidades do uso das mídias sociais em campanhas políticas. O tema foi discutido em Workshop no Sebrae, no fim de semana.
Basta observar o que já está acontecendo com um número cada vez maior de políticos plugados nas redes sociais, especialmente no twitter, microblogging que permite interatividade com mensagens, os chamados posts, de até 140 caracteres.
Foi pelo twitter que a imprensa de todo o país teve acesso às declarações do senador por Mato Grosso do Sul, Delcídio do Amaral, e do seu colega paulista Aluízio Mercadante, após a absolvição do presidente do Senado Federal, José Sarney, no Conselho de Ética. Quando a tevê levou a notícia ao ar, à noite, milhares e milhares de brasileiros já estavam inteirados de tudo que havia acontecido na votação. E mais do que isso: já debatiam o assunto entre eles com manifestações endereçadas diretamente aos parlamentares.
“Não tenho dúvida de que já em 2010 o Brasil vai experimentar o poder das mídias digitais. Em curtíssimo prazo essas novas mídias vão mudar o nosso país. O twitter, que em 2008 era apenas o 22° na preferência dos usuários brasileiros e hoje já ocupa o terceiro lugar, é uma dessas novas mídias com o poder de friccionar a informação de uma maneira que eu nunca tinha visto antes”, comentou o apresentador do programa CQC, da Band, Marcelo Tas, durante palestra no Workshop de Mídia Social promovido pelo Sebrae-MS, nesta última sexta-feira à noite, em Campo Grande.
Segundo Tas, as mídias digitais abriram as portas do mundo para que as pessoas participem de tudo e façam sugestões e cobranças em todos os níveis. “Interatividade. Essa é a marca principal da era das mídias digitais. Com elas os brasileiros ficaram mais participativos e interessados em tudo o que acontece, até na política. A televisão ainda não se deu conta disso, mas é insano ignorar essa mudança”, adverte.
“Mídia social é interação. As pessoas podem ler e compartilhar informações, notícias e conteúdos, numa mistura social e tecnológica, que mudou o que antes era um monólogo”, afirmou Edney Souza, do blog Interney e diretor de operações da empresa Pólvora Comunicação, durante Congresso Brasileiro de Mídias Sociais.
Sem custo – Além da interatividade, há um outro fator que põe as mídias digitais em posição de vantagem sobre a televisão e a publicidade tradicional, que certamente será levado em conta por alguns candidatos já nas eleições de 2010: o custo.
Na chamada rede social o único custo é o da imagem, devido ao altíssimo grau de exposição à opinião pública. Nela é possível fazer a divulgação de idéias e até de produtos sem ter que pagar nenhum Real por isso.
“Acabou a era das grandes empresas de publicidade e propaganda, que dominavam o mercado. No modo tradicional o cliente compra interesse, gastando R$ 20 milhões para produzir e R$ 80 milhões para divulgar. Isso já era. Agora, qualquer adolescente com um computador pode produzir um comercial ou uma campanha com a mesma qualidade, sem as barreiras mercado/veículo/consumidor. Essas barreiras foram dissolvidas pelas mídias sociais”, disse Tiago Luz, da empresa Interactive/SearchCast, um especialista em marketing online, formado em Business pela Saint Mary’s University of Canadá.
Segundo ele, as novas mídias colocaram o público à frente da indústria da comunicação. “Diferente da propaganda tradicional, que empurrava o produto para o consumidor, agora há a reação imediata e você fica logo sabendo o resultado, se o teu produto é bom ou ruim. Quem ainda não se deu conta disso está andando para trás”, ressalta.
O desafio – Como em tudo na vida tem vantagens e desvantagens, no caso das mídias sociais o grande risco pode estar exatamente na exposição do usuário ao interagir com o público.
“Isso é um desafio, pois a chance de reação contrária é de 100%. É preciso ter um plano de controle de crise. Se você reagir a altura da provocação certamente colocará tudo a perder”, lembra Guilherme Valadares, criador e editor-chefe da revista online PapodeHomem, e palestrante sobre blogs e mídia social como negócios e tendências.
Em Mato Grosso do Sul, a “moda” começou com o senador Delcídio do Amaral, mas hoje já tem entre adeptos a senadora Marisa Serrano, os deputados estaduais Paulo Duarte e Pedro Kemp, os deputados federais Antonio Carlos Biffi e Geraldo Resende, e o ex-governador Zeca do PT já utilizam o twitter. Delcídio é atualmente o mais popular dos políticos sul-mato-grossenses na rede com 3.600 seguidores que acompanham seus passos em tempo real.