2007-01-26 13:15:00
Na Revista Sou Mais Eu “Aqui quem faz a revista é você”, um dos donos da história do último exemplar é o juiz federal Odilon de Oliveira. Em reportagem de Daniele Zebini, o magistrado retrata o seu cotidiano difícil onde é obrigado a viver cercado de seguranças (policiais federais), por conta do prêmio que teria sido oferecido à sua cabeça que inclusive corresponde ao próprio título da matéria.“Minha cabeça vale US$ 500 mil”. No subtítulo “Só nos últimos dois anos condenei mais de 100 traficantes. Agora eles oferecem dinheiro a quem me matar”.
Odilon de Oliveira, 57 anos afirma no desabafo à revista que os meio milhão de dólares de recompensa para sua morte são oferecidos pelos traficantes da fronteira Brasil/Paraguai e as ameaças chegam por telefone, cartas anônimas e recados. “Comecei a julgar traficantes em Campo Grande em 1994. Logo depois minha casa foi metralhada por 12 tiros. A partir daí nunca mais tive sossego. Dez anos depois, em 2004, fui transferido para Ponta Porã, lá estruturei uma nova Vara de Justiça. As ameaças só aumentaram, minhas condenações também”, contou Odilon.
PISTOLEIRO
O juiz federal segue com seu relato de perseguição e coragem lembrando que um pistoleiro tentou tirar a sua vida em Ponta Porã. “Durante quase um ano tive que morar no hotel dos oficiais do Exército. Lá eu podia ser monitorado pela Guarda Militar. Apesar do forte esquema de segurança, um pistoleiro pulou um muro de 2,5 metros para me atacar na madrugada de 12 de abril de 2005. Ele foi rechaçado a tiros. Imagino que quisesse testar o poder de fogo do Exército ou mostrar a força do tráfico, algum tempo depois fui morar no hotel comum. Após uma semana suspeitos foram vistos rondando o local e a segurança achou melhor eu me mudar”, lembrou o magistrado.
GABINETE
Na reportagem que ocupou duas páginas da revista (44 e 45) Odilon relembra quando foi obrigado a morar no gabinete de trabalho durante este período crítico de sua vida profissional. “Ao sair de lá, um telefonema do Serviço de Inteligência de Campo Grande informou que estávamos sendo seguidos. Não tive outra opção senão morar em meu local de trabalho, o gabinete. Montei um posto da Polícia Federal em frente à minha sala, com três beliches. Os agentes dormiam ali comigo. Nossa vida era essa: a gente comia, dormia e fazia audiências sempre sob ameaças. Nessa época minha família morava em Campo Grande e eu ia visitá-la de 15 em 15 dias, acompanhado por vários agentes da Polícia Federal” relatou.
VIGIADO 24 HORAS POR DIA
Desde julho de 2005 o juiz Odilon de Oliveira é vigiado 24 horas por dia pela Polícia Federal. “Desde julho de 2005, voltei a morar com a minha mulher e meus dois filhos, de 22 e 28 anos, minha filha mais velha, de 31, mora em outro estado. Não estou mais encarcerado como antes, mas minha situação não mudou muito. Continuo sob o mesmo esquema de segurança, andando em um Mercedes blindado para tiros de Fuzil AR-15, com escolta da Polícia Federal 24 horas por dia. Minha mulher reclama muito da minha profissão. Não vamos a eventos sociais, porque além de nós dois, há sempre outros sete ou oito agentes conosco. Pouco ando pela cidade. Além do meu gabinete e da minha casa, praticamente freqüento apenas o salão de beleza e uma academia de musculação, sempre com o mesmo esquema de segurança. Quase nunca saio com a minha família para não colocá-la em situação de risco”, conclui Odilon de Oliveira.
VEJA
O juiz federal Odilon de Oliveira também foi destacado na edição da Revista Veja, de 10 de janeiro de 2007, em reportagem que aborda a criminalidade no Brasil. Em um dos parágrafos a matéria enfoca que a corrupção que fermenta o comércio ilegal no Paraguai também ocorre no outro lado da fronteira, pois nos últimos três anos mais de uma centena de policiais rodoviários e agentes da Receita e Polícia Federal brasileiros foram presos, por participação em esquemas de contrabando, tráfico de drogas e armas. “A frouxidão com que o governo brasileiro combate a corrupção e controla a fronteira contribui para a manutenção dessa bilionária economia clandestina”. A Veja identifica desta forma o entrevistado: afirma o juiz federal Odilon de Oliveira, de Mato Grosso do Sul. Oliveira tem a autoridade de quem já condenou mais de 120 traficantes brasileiros. A maior parte deles usava o Paraguai como plataforma para suas atividades criminosas.
Após a entrevista de Odilon o jornalista que assina a matéria comenta que fica claro, portanto que apenas um esforço conjunto dos dois países conseguirá fechar essa imensa porteira permanentemente aberta ao tráfico e ao contrabando.