2007-02-09 08:00:00
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) decidiu manter interditados os municípios de Eldorado, Japorã e Mundo Novo, na área de risco sanitário, por conta da persistência de atividade viral para a febre aftosa na região. Os três municípios estão interditados desde outubro de 2005, por conta de um foco da doença.
Na tarde de ontem, as autoridades sanitárias do Estado apressaram-se em explicar a decisão do Mapa, divulgada por meio de "nota técnica", e justificar que a permanência da interdição não significa a existência de novo foco da doença na região.
O temor de um novo foco assombra os produtores da região de fronteira, que tiveram gado abatido e perda significativa de receita, conseqüência direta para a economia nos municípios. Conforme o ministério, o trabalho na região foi efetuado em duas etapas, a primeira ocorreu entre março e julho de 2006 em 382 propriedades resultando em 9.947 amostras de sangue bovino de 6 a 24 meses. O resultado indicou reatividade, situação que foi apontada como reação à vacina, o que comprometeu o resultado e manteve a interdição das propriedades.
Entre outubro de 2006 e janeiro de 2007, novo estudo envolveu animais entre 6 e 24 meses de 444 propriedades, totalizando 11.449 amostras. De acordo com o Mapa, nesta etapa 2,7% dos bovinos apresentaram reação, sendo 4,9% em Japorã. O Mapa identificou, ainda, aumento que considerou significativo de reatividade nas amostras colhidas nos municípios, o que levou à conclusão de que a circulação viral persiste nas três cidades. Também foram colhidas 12.763 amostras em 483 propriedades do restante do Estado, onde ficou comprovada ausência de atividade viral para a febre aftosa.
O Mapa considerou satisfatório o trabalho sanitário efetuado nos três municípios, mas permanece a interdição. Essa condição deve permanecer, ainda, entre seis e nove meses, segundo avaliação do diretor-presidente do Iagro (Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal), Roberto Bacha. Neste período, os trabalhos na região serão intensificados, com acompanhamento da vacinação dos bovinos com idade abaixo de 12 meses.
Quanto ao impacto da manutenção da interdição sobre o pleito de Mato Grosso do Sul de retomada do status de zona livre de febre aftosa com vacinação junto à OIE (Organização Internacional de Epizootias) há uma incógnita. A secretária de Produção e Turismo, Tereza Cristina Corrêa da Costa, explicou que a entidade fez recomendações orais ao Mapa para definição pelo Estado.
Zona restrita Entre essas recomendações estão a criação das chamadas áreas de restrição nas fronteiras. Tais recomendações, que já foram inclusive discutidas por representantes de todos os Estados na CNA (Confederação Nacional de Agricultura) ainda não foram oficializadas. No sábado, dia 10, representantes do governo do Estado, do Mapa e do setor produtivo analisam as recomendações e tomam uma posição, que deve ser comunicada à OIE até dia 14, como afirmou a secretária.
Tereza Cristina explicou que cabe ao Estado definir como vai agir em relação ao que diz a OIE. Porém, deixar de atender às “recomendações” pode significar aos produtores do Estado assistir do limbo o crescimento do mercado mundial da carne de corte. Com perdas significativas, todo o setor sofreu o impacto do foco. “Hoje o Estado já é uma zona restrita porque não exporta para 53 países. Não é oficial, mas tem a restrição”, disparou o presidente da Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul), Ademar da Silva Júnior.
Silva Júnior reconheceu que o setor produtivo deve pedir ajuda para o governo do Estado para enfrentar a restrição, porém não disse como isso poderia ocorrer porque as medidas não foram oficializadas. Oficial, contudo, é a nota do Mapa e as declarações do governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli (PMDB), que foi o primeiro a falar sobre a área de restrição e sustentou por duas ocasiões diferentes, uma delas diante de representantes do setor produtivo.
À secretária de produção, Puccinelli afirmou que quer ver o problema resolvido. E, pelas demonstrações das autoridades sanitárias, Mato Grosso do Sul pode dobrar-se à OIE, que dita as regras econômicas da alimentação e que finalmente em maio divulga a posição sobre o status sanitário do Estado.