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terça-feira, 22 de julho de 2025

Clodovil chega aos 70 e mantém língua afiada

2007-06-17 15:32:37

Antes de tomar posse como deputado federal, em fevereiro deste ano, o estreante Clodovil Hernandes avisou: “Depois de mim, Brasília nunca mais será a mesma”. E não foi. Talvez o mais polêmico e, definitivamente, o mais elegante parlamentar completa 70 anos neste domingo (17). Os amigos garantem que não haverá festa. No máximo, uma reunião para os mais chegados.

O estilista, apresentador de TV e deputado federal se recupera de um acidente vascular cerebral (AVC) sofrido dia 5. E parece viver uma fase de reclusão. Conhecido por sua personalidade geniosa e por sua língua afiada, Clodovil tem escolhido o silêncio como forma de proteção.

Os últimos meses não têm sido fáceis para o deputado, protagonista de episódios desagradáveis em Brasília. Em abril de 2006, ao pisar no Palácio do Planalto, onde fez uma entrevista para seu programa de TV, criticou as mulheres ao declarar que elas ficaram "ordinárias" e que "hoje em dia, trabalham deitadas e descansam em pé". 

E não parou por aí. Mesmo pedindo desculpas à classe feminina por meio de uma carta, voltou a atacar uma delas no mês seguinte. A vítima foi justamente uma colega de trabalho, a deputada Cida Diogo (PT), a quem chamou de feia no Plenário da Câmara.  “Eu tenho culpa que ela nasceu feia, gente?", perguntou ele aos jornalistas?

Cuspindo na xícaraÉ esse Clodovil explosivo que o cabeleireiro Rubens Gonçalves de Souza, o Rubinho, de 62 anos, considera “magnânimo”. Amigo do estilista há 44 anos, Rubinho admite que o deputado não pode sair por aí falando o lhe “dá na telha”, mas diz que “tira de letra” os momentos em que o estilista explode. “Brigamos duas vezes. E ele que provocou. Depois, apareceu com um buquê de flores da porta da minha casa. Ele é assim. Não espere do Clodovil um pedido de desculpas”.

Durante as mais de quatro décadas de amizade – o cabeleireiro conheceu Clodovil em festas de pessoas em comum e fazia os penteados das noivas vestidas pelo estilista – Rubinho diz ter histórias memoráveis sobre o amigo. Uma delas ocorreu há mais de 20 anos, em Buenos Aires. “Estávamos em um hotel e encontramos, descendo do elevador, umas socialites amigas do Clodovil. Ficamos bebendo no bar do hotel e, em certo momento, pedimos café de saideira. O maître disse que não serviam café após as 18h”.

Rubinho conta que Clodovil insistiu com o maître, que argumentou: “Só servimos no quarto. São normas do hotel”. Segundo o cabeleireiro, o estilista respondeu: “Então manda servir oito cafés no meu quarto, que eu vou descer de camisola rosa e tomar aqui embaixo”. Com medo de a promessa ser cumprida, o maître cedeu e levou as xícaras até a mesa de Clodovil, que disparou: “Agora pode levar de volta, porque eu não sei se vocês cuspiram no café”, relatou Rubinho, rindo e reproduzindo as palavras do amigo.

A polêmica mais recente envolvendo deputado ocorreu em 31 de maio, quando Clodovil foi "convidado" pelo comandante a se retirar de um avião. O motivo foi a disputa por um assento com outro passageiro, que, por erro da companhia aérea, estava com o bilhete para o mesmo lugar. 
Cinco dias depois, Clodovil acabou internado em São Paulo, após sofrer um AVC. Recebeu alta na segunda-feira (11) e, desde então, se mantém recluso na casa de um amigo, em São Paulo, de acordo com sua assessoria de imprensa. Por este motivo, os amigos esperam uma comemoração sem excessos. “Ele não gosta de surpresas. No máximo, vamos estourar um champanhe”, diz Gláucio Agabiti, de 55 anos, amigo de Clodovil há mais de 30.

Para ele, a palavra que melhor definiria o estilista é surpreendente. “Ele nos surpreende a cada dia. Estava na sala de exames do Sírio-Libanês (hospital onde ficou internado por causa do AVC) para fazer uma tomografia quando viu um cordão azul em uma pequena bolsa de pano do hospital. Ele olhou e disse: ‘É essa a cor do cadarço que quero colocar na cortina da minha casa”, conta o amigo.

Trajetória Nascido em 17 de junho de 1937, na pequena Elisiário, cidade a 402 km de São Paulo, Clodovil foi adotado por um casal de origem espanhola. Não conheceu seus pais verdadeiros e estudou em colégio interno. Homossexual assumido, não casou e nem teve filhos. Durante as sete décadas de vida, trilhou uma trajetória de sucesso.

Formou-se professor, fez teatro, mas ficou famoso quando virou estilista de alta costura e apresentador de TV. Um de seus primeiros trabalhos na televisão foi no início da década de 80, quando apresentou o "TV Mulher", da TV Globo, voltado para o público feminino. Na época, dividiu o cenário com a jornalista Marília Gabriela e com a sexóloga e hoje ministra do Turismo, Marta Suplicy.
Com a fama, passou a viver no luxo, nunca escondendo o gosto pelo sofisticado. “Dinheiro é uma questão de cada um de nós. Eu só consigo viver no meio da beleza”, disse Clodovil, após a reforma de seu gabinete na Câmara dos Deputados.

A sala reúne obras de arte, auto-retratos, pratarias e até um baú com pele de onça. Mas o que mais chama atenção é a escultura em bronze de uma cobra Naja, apelidada ‘Marta’ e usada como pé da mesa do parlamentar. A reforma do gabinete custou R$ 200 mil e Clodovoi afirmou que tirou o dinheiro do próprio bolso.

Em março de 1978, durante o lançamento de sua coleção outono-inverno para aquele ano, disse: “Claro que existe mercado para a alta-costura. Em qualquer país. Em todos eles existe uma elite”. Em seguida, emendou: “O prêt-à-porter é uma necessidade sociológica”, declarou Clodovil, como sempre, sem meias palavras. 
Com a fama, passou a viver no luxo, nunca escondendo o gosto pelo sofisticado. “Dinheiro é uma questão de cada um de nós. Eu só consigo viver no meio da beleza”, disse Clodovil, após a reforma de seu gabinete na Câmara dos Deputados.

A sala reúne obras de arte, auto-retratos, pratarias e até um baú com pele de onça. Mas o que mais chama atenção é a escultura em bronze de uma cobra Naja, apelidada ‘Marta’ e usada como pé da mesa do parlamentar. A reforma do gabinete custou R$ 200 mil e Clodovoi afirmou que tirou o dinheiro do próprio bolso.

Em março de 1978, durante o lançamento de sua coleção outono-inverno para aquele ano, disse: “Claro que existe mercado para a alta-costura. Em qualquer país. Em todos eles existe uma elite”. Em seguida, emendou: “O prêt-à-porter é uma necessidade sociológica”, declarou Clodovil, como sempre, sem meias palavras. 








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