2007-04-29 08:16:00
Os produtores de vinho brasileiro querem conquistar espaço em terras estrangeiras. Com bebida sobrando nos estoques em razão do baixo consumo interno – que cresce 10% ao ano sobre uma base pequena -, os produtores concentram esforços para vender vinhos finos a outros países. Para atingir esse objetivo, os brasileiros adotaram uma estratégia original: vender o vinho nacional como "bebida exótica".
No ano passado, foram exportados 3,41 milhões de litros segundo o Instituto de Economia Agrícola (IEA), volume ínfimo em relação aos 23,8 bilhões de litros bebidos anualmente no mundo.
No caminho em busca de um lugar ao sol entre os grandes produtores mundiais, o Brasil tem um grande desafio pela frente: convencer o mundo de que, apesar da pouca tradição, o país pode sim se consolidar como um respeitado fabricante de vinhos finos.
Tarefa nada fácil em um setor no qual grande parte dos líderes têm longa tradição, como França, Itália, Espanha, Portugal e Alemanha, chamados fabricantes do "velho mundo". Além disso, os produtores nacionais têm de enfrentar países como EUA, Chile, Austrália, Nova Zelândia, Argentina e África do Sul, que nos anos 70 eram apenas 5% da produção mundial, e hoje já respondem por 50% do total fabricado.
"É um caminho recém-iniciado. Ainda temos muito a percorrer", diz o presidente executivo do Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), Carlos Raimundo Paviani. "A boa notícia é que as vendas vêm crescendo a cada ano de forma significativa e concreta", ressalta. Nos três primeiros meses de 2007, as exportações de vinho brasileiro somaram US$ 450 mil, crescimento de 120% em relação ao ano passado.
A maior parte da produção do Brasil é de vinhos de mesa – mais populares e mais baratos -, variedade que representa 80% da produção do país. O Rio Grande do Sul é o principal produtor nacional: fabricou 346,4 milhões de litros de vinhos, sucos e derivados em 2006, 90% do total, segundo dados da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra) e do Ibravin.
Embora não existam números oficiais de produção desses estados – apenas o Rio Grande do Sul tem registros, segundo o Instituto de Economia Agrícola – São Paulo e Pernambuco também se destacaram nos últimos anos.
Desde 2002, representantes dos principais fabricantes do Brasil resolveram unir forças no grupo "Wines from Brazil", que tem o objetivo de divulgar o vinho nacional pelo mundo e hoje conta com 20 empresas participantes.
Segundo a gerente de promoção comercial do grupo, Andreia Gentilini Milan, o Brasil tem pontos favoráveis para conquistar apreciadores estrangeiros: primeiro, a bebida fabricada no Brasil tem qualidade e é bem recebida nas degustações e feiras promovidas no exterior. Além disso, vem sendo classificada como "exótica" pela imprensa especializada internacional, imagem que pode render bons frutos para os negócios. A estratégia deu certo e conquistou consumidores de países como os Estados Unidos, a Alemanha e a Inglaterra, onde o interesse por produtos brasileiros é grande.
"Estamos buscando esse nicho de vinho exótico nos restaurantes e lojas especializadas pelo mundo. O Brasil não tem o volume de produção que a Argentina tem, que o Chile tem, e isso impede o país de ter um preço competitivo. Por isso, buscamos colocar valor agregado no produto, como a imagem diferenciada", diz Andreia.
Para o presidente do Ibravin, a imagem é atribuída à bebida por causa da falta de tradição no setor. "Nosso vinho é exótico porque é uma surpresa, ninguém sabia que nós éramos produtores de qualidade", diz.
Primeiros passosExistem alguns requisitos para quem quer transformar uma vinícola em exportadora. O primeiro é produzir vinhos finos, que têm maior demanda no mercado internacional. Para isso, é preciso investimento: fabricar este tipo de bebida requer instalações mais sofisticadas que a dos fabricantes de vinhos de mesa. "No Brasil, muitos empresários estão reconvertendo os vinhedos para começar a produzir vinhos finos", diz Andreia.
Outra qualidade necessária para exportar é paciência. Entre a decisão do empresário até o embarque das primeiras garrafas, existe um tempo médio de 8 a 12 meses de espera.
A empresária Deyse Maria Ceschini Tanuri, diretora executiva da Champagne Georges Aubert, vinícola localizada em Garibaldi, no Rio Grande do Sul, exportou em abril sua primeira remessa de 1,8 mil garrafas para o Canadá. "É um processo lento. Antes das vendas tivemos que mandar amostras para lá, encontrar um importador. Depois o importador vai fazer contatos nas lojas especializadas e ver se eles se interessam", diz a executiva.
Para ela, ganhar dinheiro com as exportações é um objetivo de longo prazo. " Ainda não vale a pena porque não estamos exportando tudo o que precisamos. Mas precisávamos começar. E a receptividade tem sido boa", diz.