2011-06-03 16:48:00
Após completar sua quinta temporada na Itália, o goleiro Rubinho, 28, revelado pelo Corinthians e titular do Torino na Série B, que teve no último domingo seus planos de retornar à elite do futebol italiano frustrados, falou com à Folha por telefone e disse que gostaria de retornar ao clube paulista.
Rubinho disse que só voltaria ao Brasil para atuar no Corinthians. Caso contrário prefere seguir na Europa, mesmo depois de uma temporada difícil na segunda divisão italiana. "Sou corintiano. Nasci como jogador lá e o clube abriu muitas portas na minha carreira."
"Meu objetivo é ficar na Europa por mais tempo. Só mudaria meu projeto no caso de um convite do Corinthians. Aí largaria tudo e iria nadando para o Brasil. Nada contra os outros clubes brasileiros, mas o coração fala mais alto", disse o goleiro.
No Corinthians, foram quatro anos e 45 jogos (54 gols sofridos). Estreou há quase dez anos, em julho de 2001, na vitória sobre o Colo Colo por 2 a 0, no Chile, pela extinta Copa Mercosul, mas teve poucas chances como titular.
A melhor delas foi vivida em 2003, quando disputou 20 partidas seguidas –18 pelo Brasileiro e duas pela Copa Sul-Americana. No final de 2004, sem espaço na equipe, foi cedido ao Verona e depois ao Vitória de Setubal, iniciando sua trajetória na Europa.
"Minha passagem foi ótima. Depois do Ronaldo [ex-goleiro], eu fui o primeiro goleiro a estrear no profissional com 18 anos. Fiz alguns jogos e não fui titular mais vezes porque era o mais novo e tinha forte concorrência. O clube tinha o Doni, depois trouxe Dida e Fábio Costa", analisou Rubinho, que hoje vê Júlio César numa situação mais favorável.
"Eu acompanhei a carreira dele desde o amador. Ele passou muito tempo na reserva e subiu com vontade. No começo você pega até pensamento, depois dá uma acomodada. Alguns erros são pela falta de experiência, outros por excesso de confiança. Ele é bom e o pessoal tem de ter mais calma", disse.
TEMPORADA
Rubinho revelou que enfrentou uma das temporadas mais complicadas na Itália. O Torino terminou a Série B em oitavo, mas na última rodada tinha chance de promoção. Precisava vencer o Padova, sexto, em casa, para ficar com a vaga do rival na repescagem que vai definir o último representante na Série A.
Em caso de vitória, disputaria a respecagem ao lado de Novara, Varese e Reggina. Atalanta e Siena, líder e vice-líder da Série B, respectivamente, foram promovidos diretamente. Como perdeu por 2 a 0, vai amargar mais uma temporada na Série B.
Dos 42 jogos do time, Rubinho participou de 26 e sofreu 27 gols, além de ter defendido dois pênaltis. Por causa da derrota na última rodada, o brasileiro disse que o clima foi de tensão entre os jogadores e de protestos por parte da torcida.
Nunca vi nada igual. Durante o campeonato o clube demitiu o técnico [Franco Lerda] e dez dias depois o contratou de novo. A torcida pega no pé do presidente desde a primeira rodada. Uma hora depois da minha apresentação já tinha torcedor no treino xingando. Foi uma temporada onde meus cabelos brancos vieram a tona", revelou.
Rubinho disse também que a crise fora de campo –o presidente Urbano Cairo anunciou a venda do clube para próxima temporada– atrapalhou o rendimento da equipe, que ficou boa parte da disputa entre os seis primeiros.
"Por mais que a pressão tenha sido concentrada no presidente, não tem como o jogador não sentir. Você entra em campo querendo não perder, querendo não errar, temendo a pressão, mas acaba ocorrendo o contrário. Jogamos sem tranquilidade, sabendo que a qualquer instante tudo pode virar uma guerra", disse.
"Guardada as proporções, a torcida do Torino lembra a do Corinthians. São muito fanáticos e você os encontra em toda parte, embora não sejam tão numerosos."
O goleiro disse também que por pouco não foi para a Roma, mas o Palermo (com quem tem contrato até junho de 2013) acertou seu empréstimo para o clube de Turim.
"Foi uma negociação complicada. Eu iria substituir o Doni, que estava de saída da Roma. Faltando 15min para o encerramento da janela de transferência o Doni não saiu e a Roma desistiu do negócio. Aí o único lugar que sobrou foi o Torino. Era acertar com o clube ou ficar no Palermo, onde seria terceira opção", disse.
"Não me arrependo de ter vindo para o Torino. Se ficasse no Palermo, iria jogar um ou outro jogo. Aqui é cidade ótima, fui titular", comentou, acrescentando que não vai continuar no clube. "Só se negociarem minha compra. Mas são 3 milhões de euros (cerca de R$ 6 milhões), o que é muito para o clube."
Rubinho ainda comentou sobre a camisa grená que o Corinthians lançou na última semana e disse que a notícia repercutiu de forma positiva na Itália. Lançado como terceiro uniforme, a camisa tem a cor grená em memória ao time do Torino, que teve seus jogadores mortos em um acidente aéreo em 1949. Naquele mesmo ano, o clube paulista jogou um amistoso com a camisa da mesma cor.
"Algumas pessoas vieram falar comigo sobre essa homenagem. Sentiram-se prestigiados e felizes por serem lembrados do outro lado do oceano. Eu achei a camisa muito bonita."
CONTUSÕES E FALTA DE ESTRUTURA
Rubinho sofreu duas contusões nessa temporada. A primeira foi mais complicada e por pouco não encerrou a temporada do goleiro mais cedo. Foram cerca de 90 dias em tratamento, entre o final de novembro e o início de fevereiro.
"Fiquei três meses parados com um problema no pescoço. Eu tratava, a dor passava e quando voltava a treinar ela aparecia. Ficava com o pescoço travado. Teve um dia que chorei de raiva. Fui colocar o uniforme de treino e o pescoço travou. Fui em vários especialistas e não tinha jeito", explicou.
"Cogitei voltar ao Brasil para tratar, mas um médico em Milão diagnosticou a lesão. Era uma problema de articulação. Iniciei o tratamento, tomei medicação e dez dias depois voltei a jogar", disse.
"A outra lesão foi um estiramento na coxa direita no jogo contra o Atalanta, no segundo turno. Fui dar um pique até o meio de campo para chutar uma bola e acabei me lesionando. Fiquei dez dias parado e voltei bem", disse.
"Tem jogador que pensa que na Europa tudo é maravilhoso, mas quando ele vem jogar aqui descobre que não é bem assim. Na Itália, tirando Milan, Inter e Juventus, os clubes não têm muita estrutura, é tudo precário. O Torino aluga um centro de treinamento, aluga uma academia, mas falta material. O departamento médico tem profissionais jovens e até ingênuos em certas situações", finalizou.