2007-01-20 09:37:00
O terno azul com a gravata bordô do advogado; a gravata, comprida, abaixo da linha do cinto do delegado, destoando de seu sapato marrom, já fora da moda. Ontem, Ronaldo Esper, de 62 anos, não alfinetou ninguém. Essas e muitas outras pessoas passaram horas a seu lado, depois de ele ser flagrado com dois pequenos vasos de cimento, que, segundo a polícia, seriam produtos de furto de um túmulo do cemitério do Araçá. Por volta das 23h30, Esper foi transferido, com a cabeça coberta e algemado, para o 91º DP.
Famoso estilista, Esper tem quadro no programa SuperPop, apresentado por Luciana Gimenez na Rede TV!, no qual dá suas agulhadas em personalidades que não estão na moda. Ele foi detido pela manhã e estava na carceragem do 23º Distrito Policial (Perdizes)às 23 horas. Ele seria transferido, mas o local ainda não havia sido confirmado. Com ele, a polícia apreendeu dois vasos de um túmulo não identificado até o início da noite.
Segundo o delegado que lavrou o auto de flagrante, Júlio Carlos Rolim, os objetos estavam em uma sacola antiga, marrom, de ir à feira. Depois de retirar os vasos do local, por volta das 9 horas, seguia para seu carro, um Fusca ano 95, prata, estacionado dentro do cemitério.
Um jardineiro, que não teve o nome revelado pela polícia, percebeu a ação e achou estranho. Contou que abordou o estilista, que confessou a tentativa de furto. Agentes da Guarda Civil Metropolitana foram chamados. Ouvidos pelo Estado, alguns afirmaram que ele confessou que furtaria os vasos. Mas antes havia dito ao jardineiro que iria visitar o jazigo de uma tia.
Na internet, vasos semelhantes estão à venda por R$ 212,85, incluída a entrega em domicílio.
Rolim contou que, em conversa informal, antes de dar início ao depoimento, Esper novamente confessou o furto, pois gostou dos vasos. “É réu confesso.” O delegado disse ainda que o estilista havia visto os objetos uma semana antes, quando esteve no cemitério e chegou a bater com seu carro em alguns túmulos.
Mais tarde, sem algemas, vestindo jeans, camisa quadriculada de branco e azul, paletó e tênis, Esper mudou seu depoimento na frente do escrivão. “Ele falou que ia levar os vasos de um túmulo para outro”, disse o delegado.
Rolim contou que Esper alegou tomar medicamentos fortes por causa de “profunda depressão” e que eles lhe dariam “força para fazer o que quiser”. “Quando ele toma, tem de ficar em casa porque a pessoa acha que pode fazer qualquer coisa, até matar”, disse o delegado.
Tentativa de furto é inafiançável pela polícia. Mas seus advogados podem tentar um habeas-corpus ou arbitrar fiança com a Justiça.
Sem escolaridade universitária, Esper estava muito abalado. Até chorou, contou seu advogado, Marcelo Furman. “Ele não está acostumado a freqüentar este tipo de lugar”, disse. Furman afirmou que tudo não passa de um “mal entendido”. “Ele é vítima de uma situação particular que eu não posso abrir à imprensa, mas vocês vão ficar sabendo”, disse o advogado, na delegacia, aos jornalistas. Segundo ele, não há confirmação de que seu cliente tenha confessado o furto.
O escritório de Furman já trabalha para conseguir a liberdade provisória do estilista. A defesa será com base nos “fatos relatados pelas pessoas no local”. Por meio de nota, a Rede TV! informou lamentar o fato e vai aguardar a investigação para se pronunciar. O Serviço Funerário do Município não se pronunciou e proibiu que funcionários do cemitério comentassem o caso.