A greve dos motoristas do transporte coletivo de Campo Grande entrou no terceiro dia nesta quarta-feira (17). A paralisação mantém a suspensão do serviço e prejudica cerca de 110 mil usuários. Aproximadamente mil trabalhadores participam do movimento.
Na terça-feira (16), foi realizada uma audiência de conciliação na Justiça do Trabalho entre a Prefeitura de Campo Grande, o Consórcio Guaicurus e o Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Coletivo Urbano da Capital. Na ocasião, a Justiça determinou que os motoristas retornassem ao trabalho nesta quarta-feira, decisão que não foi aceita pela categoria.
Mesmo após orientação do presidente do sindicato, Demétrius Ferreira, para que os trabalhadores retomassem as atividades, os motoristas decidiram manter a greve. Segundo ele, o retorno só vai ocorrer após o pagamento dos valores reivindicados.
“Enquanto o Consórcio Guaicurus não efetuar o pagamento que está condicionado a voto dos trabalhadores, mesmo com toda a fala dos desembargadores, falando da legislação, que tem que rodar. O trabalhador está revoltado, não vai voltar. Vai seguir com a greve”, afirmou.
Durante a audiência, a Justiça definiu que os ônibus deveriam circular com 70% da frota das 6h às 8h30. Das 8h30 às 17h, o percentual estabelecido foi de 50%. Já das 17h às 20h, a frota deveria voltar a operar com 70%, retornando a 50% após esse horário.
Em caso de descumprimento da decisão, foi fixada multa diária de R$ 200 mil ao sindicato. No momento em que o desembargador anunciou a penalidade, os motoristas deixaram o plenário.
Segundo a Justiça do Trabalho, o valor devido para o pagamento aos motoristas é de R$ 1,3 milhão. Questionados durante a audiência, representantes do consórcio e da prefeitura afirmaram não ter recursos para realizar o pagamento imediato, e não houve acordo sobre esse ponto.
Enquanto a administração municipal e a Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos (Agereg) afirmam que não há inadimplência e que todos os repasses estão em dia, o Consórcio Guaicurus sustenta que a paralisação é resultado de uma dívida acumulada desde 2022, relacionada ao descumprimento de um termo aditivo do contrato.
Prejuízo para comércios
A Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Campo Grande estima que o comércio da capital sul-mato-grossense pode ter prejuízo de R$10 milhões com a greve dos motoristas do transporte coletivo.
O presidente da CDL, Adelaido Figueiredo, divulgou um vídeo nas redes sociais afirmando que está indignado com o município e os prejuízos causados ao comércio da cidade.
“Estamos enfrentando uma greve do transporte público que vai gerar, só para o setor de comércio e serviços, um prejuízo de mais de R$10 milhões, em uma semana que é extremamente decisória para que possamos ter o resultado eficiente no Natal de 2025. Nossos trabalhadores não estão conseguindo chegar nos espaços de trabalho, o nosso consumidor não está conseguindo se deslocar para o consumo”, relata Adelaido.
Consórcio aponta dívida de R$ 39 milhões
Já o diretor-presidente do Consórcio Guaicurus, Themis de Oliveira, afirmou que a paralisação tem origem no descumprimento do quarto termo aditivo do contrato, firmado em março de 2022.
Segundo ele, o termo criou a diferença entre a tarifa pública, paga pelo usuário, e a tarifa técnica, que seria a remuneração real do consórcio.
“Tarifa pública é o que as pessoas pagam a hora que vão entrar dentro de um ônibus. E a tarifa técnica é a tarifa que realmente é a tarifa de remuneração do consórcio.”
Atualmente, de acordo com Themis, a tarifa técnica é de R$ 6,57, enquanto o usuário paga R$ 4,95.“O município teria que pagar essa diferença de R$ 4,95 para R$ 6,57. Infelizmente, isso nunca foi pago.”
O presidente do consórcio afirma que a dívida acumulada chega a R$ 39 milhões. “Hoje, a dívida chega em R$ 39 milhões. Só nos últimos 12 meses, de novembro de 2024 a outubro de 2025, ela chega em R$ 8,5 milhões.”
Ele também citou valores em aberto referentes ao transporte de estudantes da rede estadual, que dá mais R$ 4,8 milhões.

O diretor-executivo da Agereg, Otávio Figueroa, disse que a agência possui todos os comprovantes de pagamento realizados pelo município.
Segundo ele, a prefeitura repassa recursos ao consórcio por meio de subvenção, aprovada anualmente pela Câmara Municipal, como forma de reequilíbrio contratual.
“Foi uma discricionariedade da chefe do Poder Executivo, da prefeita, que entendeu por bem passar esse recurso como forma de reequilíbrio contratual e ela passou rigorosamente esse ano em dia, tanto que esse último agora, que ainda não venceu, foi antecipado.”
De acordo com Figueroa, somente em 2025, o consórcio recebeu mais de R$ 35 milhões em repasses do município, somando subvenções e vale-transporte.
Ele também afirmou que o município arcou com gratuidades, isenções de ISS e pagamentos relacionados a estudantes, servidores e usuários da assistência social e da saúde.
Fonte: Mirian Machado, g1 MS



