Redação
O Instituto Eduardo Dutra Lescano (IEDL) chega aos 13 anos de atuação em dezembro consolidado como uma das iniciativas sociais mais reconhecidas de Amambai. Criado a partir da dor da perda de Eduardo, de 11 anos, vítima de um acidente de trânsito em 2012, o projeto nasceu da tentativa da mãe, Marilene Dutra Silveira, de transformar o luto em legado. No decorrer dessa trajetória, o instituto abrigou ações culturais, esportivas, educacionais e de acolhimento emocional para crianças, adolescentes, mulheres e famílias inteiras.
Marilene, conhecida carinhosamente como Fofa, contou ao jornal A Gazeta que as origens do IEDL começaram quando o professor de violão do filho, Luciano Islaurralde Escobar, sugeriu reunir amigos para cantar as músicas preferidas de Eduardo em algumas comunidades como forma de homenageá-lo. “Por trás desse convite havia também a preocupação em me alegrar, me tirar do luto, mostrar que nós, como pais, demos a ele as oportunidades para realizar os sonhos que tanto tinha, como ser jogador de futebol e um bom violeiro, coisas que muitas crianças da nossa sociedade não tinham a oportunidade por falta de apoio dos pais ou até mesmo por condições financeiras”, afirmou.
Treze anos depois, Fofa afirma que é difícil enumerar o que passa pela cabeça ao olhar para a trajetória percorrida, acreditando que o tempo e a fé sustentaram a caminhada e que viu respostas surgirem para a curta vida do filho. Segundo ela, o crescimento tornou o IEDL uma referência e transformou vidas, incluindo a dela e a do esposo. “Escuto muito das pessoas que atendemos que o Instituto se tornou uma extensão da nossa família e da nossa sociedade. Isso me emociona e me dá forças para continuar”, complementou.
Entre as conquistas mais marcantes, Marilene destaca o respeito e a credibilidade obtidos na comunidade, mas considera ainda mais valioso ver o espaço reconhecido como um ambiente de acolhimento e esperança, onde vidas, especialmente de mulheres em sofrimento, são transformadas diariamente.
De acordo com Marilene, a transformação também é visível entre as crianças. “Vemos muito a mudança de chegarem tímidas, inseguras e com poucas perspectivas, e depois se descobrirem, ganharem confiança, aprenderem a sonhar e acreditar no próprio potencial, descobrirem talentos. Elas desenvolvem valores, disciplina e senso de pertencimento — e isso reflete diretamente na escola e em casa.”
O IEDL acumula uma ampla lista de projetos: coral, canto, teatro, ballet, futebol, violão, teclado, artesanato, além do grupo de Mães Enlutadas e, mais recentemente, judô e futebol feminino. Todos, segundo ela, têm impacto direto no desenvolvimento das crianças; porém, o judô chamou atenção nos últimos anos pelo comprometimento dos alunos, pelo baixo índice de desistência e pelos reflexos positivos na disciplina e no rendimento escolar.
Momentos marcantes não faltam na memória de Fofa. Ela conta que eventos como o primeiro musical sobre a história do IEDL, batizado de “Uma História que se Conta e Encanta”, permaneceram gravados pela emoção envolvida, e ainda recorda com carinho o dia em que 118 crianças conheceram um cinema pela primeira vez. Outro episódio marcante ocorreu em 2016, quando o grupo de mães Laços de Amor Eterno foi levado a um pesqueiro e ao shopping em Dourados, sendo que algumas estavam tendo essa experiência pela primeira vez.
O instituto se mantém por meio de parcerias com a Prefeitura de Amambai, através dos convênios do FMIS, SEDESC e FMDCA, além de bazares, promoções, da tradicional Festa do Carneiro e do apoio espontâneo da comunidade. Apesar disso, a sustentabilidade financeira permanece como desafio constante, já que os recursos variam anualmente. A equipe precisa também de capacitação, renovação de materiais e adaptação às novas demandas sociais.
Já em andamento, um dos maiores sonhos é a construção da nova sede do IEDL, que permitirá ampliar o atendimento, oferecer novos cursos profissionalizantes e fortalecer o impacto social junto às famílias. Os planos para os próximos anos incluem finalizar a sede, expandir os projetos socioculturais, oferecer cursos de geração de renda e fortalecer iniciativas voltadas a crianças, adolescentes e mulheres.
Quando pensa no legado que deseja deixar, Fofa afirma que espera transmitir às futuras gerações a ideia de que é possível transformar dor em oportunidade, dignidade e esperança. “Que as futuras gerações olhem para o Instituto e entendam que, mesmo em meio às dificuldades, é possível acolher, educar e transformar vidas com amor e compromisso. Muitas vezes, um abraço, um aperto de mão ou um sorriso é o melhor caminho”, afirmou, ressaltando esperar que o IEDL “seja lembrado como um espaço que abriu portas, resgatou sonhos e mostrou que cada criança, adolescente e mulher tem valor, tem voz e merece um futuro melhor — independentemente de classe social, crença ou raça.”
Ao final da entrevista, ela fez um convite a quem deseja ajudar, mas não sabe como: “Antes de mais nada, eu faria um convite para conhecerem nossa sede. Ver de perto, conversar com nossos usuários e perceber que essa ajuda fica aqui mesmo, beneficiando nossa comunidade. Toda ajuda conta — e faz diferença. Às vezes pensamos que só grandes gestos transformam realidades, mas, na verdade, é a soma das pequenas atitudes que sustenta o nosso trabalho. Quem quer ajudar pode começar do jeito que puder: divulgando o Instituto, participando das ações, oferecendo um talento, tempo ou recurso. O importante é dar o primeiro passo. Quando a gente decide estender a mão, Deus sempre mostra o caminho certo para servir.”












Fonte: Grupo A Gazeta



