O estudante de medicina A.I. foi vítima de um golpe virtual que começou em uma conversa por aplicativo de relacionamento voltado ao público gay. O caso ocorreu em Mundo Novo (MS), quando um homem se passando por policial o acusou de trocar mensagens íntimas com um adolescente. A vítima alega ter perdido cerca de R$ 2,5 mil para evitar uma suposta denúncia.
Ao g1, a vítima contou que recebeu uma mensagem de um rapaz que se identificou como Henrique. A conversa, segundo o estudante, foi rápida e superficial — comum na plataforma — e envolveu troca de fotos, inclusive íntimas, após o suposto Henrique afirmar ter 18 anos.
Horas depois, o estudante recebeu uma ligação de um homem que se apresentou como policial. Ele alegava que o jovem com quem o estudante havia conversado era, na verdade, um adolescente de 14 anos com autismo.
O falso policial disse que o garoto teria sido “pego pela mãe”, entrado em crise e quebrado objetos em casa. Para evitar uma prisão preventiva, o estudante deveria arcar com os prejuízos.
Assustado e com medo, o estudante concordou com o acordo proposto. O homem exigiu R$ 3.440 e orientou que ele compartilhasse a tela do celular durante uma chamada de vídeo. “Achei que, por ele dizer que era policial, não faria nada de mal comigo”, contou.
Durante a ligação, que durou cerca de quatro horas, o golpista instruiu a instalação de diversos aplicativos de pagamento, como PicPay, RecargaPay, InfinityPay e NGCache.
O estudante conseguiu transferir R$ 1 mil via Pix para uma conta em nome de uma mulher, mencionada no boletim de ocorrência. Com os limites noturnos do banco excedidos, ele ainda conseguiu enviar mais R$ 500 por meio do Mercado Pago.
“Estou no prejuízo. Eles viram meus dados, meus cartões, meu endereço, meu CPF. Tenho medo do que podem fazer com isso”, afirmou.
A pressão continuou. O suposto policial dizia que promotores e juízes aguardavam a conclusão das transferências e exigia novos comprovantes. Como as transações estavam sendo realizadas após as 23h, o homem permitiu que o estudante continuasse os pagamentos no dia seguinte.
O estudante aproveitou o intervalo para relatar o ocorrido à mãe, que identificou o golpe. “Ela disse que nenhum policial pede dinheiro. Pegou meu celular e mandou mensagens exigindo a devolução do valor.”
“Eu ainda acreditava que ele era policial. Comecei a chorar. Fui ao banco e vi várias operações que nem fui eu que fiz.” O estudante registrou boletim de ocorrência e foi informado por um policial que outros casos semelhantes já haviam sido denunciados, alguns com prejuízos de até R$ 20 mil.
As transações foram contestadas junto aos bancos e aplicativos de pagamento, mas nem todas foram canceladas. O PicPay, por exemplo, alegou não haver indícios de fraude, mesmo com o boletim em mãos. “Achei um insulto à minha inteligência”, disse o estudante, que teme ter que arcar com valores que não pode pagar.
Ele também denunciou o caso ao Grindr, solicitando mais segurança na plataforma, como verificação de identidade e exigência de fotos reais. Até o momento, não recebeu retorno nem assistência do aplicativo.
“Hoje, meu maior sentimento é de justiça. Quero que isso não aconteça com outras pessoas. Achei que o aplicativo fosse mais seguro, mas é muito perigoso”, concluiu.
O g1 teve acesso à foto utilizada pelo suspeito, que corresponde à imagem de um delegado de polícia de Caxias, no Rio Grande do Sul. Em contato com a autoridade, o delegado informou que golpes semelhantes já haviam ocorrido com o uso de sua foto. Segundo ele, os golpistas pesquisam imagens de policiais no Google e as utilizam para aplicar fraudes.
“É uma situação bem difícil, mas é importante a gente continuar conscientizando as pessoas para que tenham conhecimento desse golpe e saibam que policial não faz exigência alguma, isso é crime de corrupção ativa e passível de demissão e prisão do servidor que faz isso”, esclareceu o delegado que teve a imagem utilizada pelos suspeitos.
O g1 tentou contato com a delegacia de Mundo Novo para saber atualizações sobre o caso, mas não teve retorno até a atualização desta reportagem. Caso é investigado pelo município
Fonte: Débora Ricalde, g1 MS



