Por Clesio Damasceno
O setor da construção civil em Amambai vive um dos momentos mais desafiadores dos últimos anos. Assim como ocorre em todo o país, a combinação de juros elevados, inadimplência recorde e crédito cada vez mais caro tem dificultado o acesso ao financiamento e reduzido o ritmo de obras na cidade.
Para agravar o cenário, a região enfrentou três safras agrícolas frustradas em sequência, o que impactou diretamente o comércio e a renda das famílias. “A esperança é uma boa safra agora”, desabafa um empresário local do ramo de materiais de construção.
Venda de materiais cai e setor sente retração
Proprietários e gerentes de lojas de materiais de construção confirmam o momento difícil. Segundo levantamento feito por A Gazeta, as vendas caíram entre 20% e 25% em comparação ao mesmo período do ano passado.
O movimento nas lojas tem se concentrado em pequenas compras, voltadas principalmente a reformas e manutenções, e não a novas construções.
“Hoje, os faturamentos das lojas de materiais para construção poucos são de financiamentos imobiliários devido às altas taxas” diz um gerente de loja.
Com a retração, profissionais ligados ao setor, como pedreiros, gesseiros, vidraceiros e serralheiros, também sentem os efeitos. A expectativa é de queda na demanda por serviços nos próximos meses.
Famílias preferem financiar construção própria
Com crédito mais difícil e mais caro, em Amambai, o número de pessoas que optam por financiar a construção da própria casa é muito maior do que aqueles que pensam em adquirir um imóvel pronto.
Segundo Nadine, representante da Caixa Econômica Federal no município, essa mudança ocorre principalmente por causa dos altos valores dos imóveis prontos, que ultrapassam o orçamento de muitas famílias.
“A maioria das famílias em Amambai tem renda mensal abaixo de R$ 5 mil. Isso faz com que as parcelas fiquem altas e a pessoa acabe desistindo. Além disso, é preciso dar uma entrada de cerca de 20% do valor do imóvel, o que também pesa bastante”, explica Nadine.
Atualmente, a agência local da Caixa possui 12 financiamentos habitacionais em andamento: 11 são para construção e apenas um para compra de imóvel pronto.
Como funciona o financiamento para construção
Para conseguir o crédito da Caixa destinado à construção, o interessado precisa atender a alguns requisitos básicos:
Comprovar renda familiar (formal ou informal);
Ter terreno próprio com documentação regularizada;
Apresentar projeto aprovado pela prefeitura;
Não possuir outro financiamento habitacional ativo.
A Caixa financia até 80% do custo total da obra, com prazos de até 35 anos. As parcelas não podem ultrapassar 30% da renda familiar bruta, e os recursos são liberados em etapas, conforme o avanço da construção.

“O sonho da casa própria é possível, mas exige planejamento. A Caixa tem modalidades novas e acessíveis, e nossa função é orientar o cliente para escolher o que cabe no bolso”, conclui Nadine.
Perspectiva moderada e esperança em nova safra
Enquanto o crédito segue restrito e o poder de compra ainda não se recupera, o setor da construção civil em Amambai mantém a expectativa de um novo fôlego com a próxima safra agrícola. Uma boa colheita pode significar mais renda no campo e, consequentemente, maior circulação de dinheiro no comércio e nas obras.
Mesmo diante das dificuldades, o espírito empreendedor e a força de trabalho local continuam sendo a base de sustentação do setor.
“Amambai sempre foi uma cidade de gente trabalhadora. Se o campo reagir, a construção reage junto”, resume um empresário do setor.






