Raquel Fernandes
Dentre tantos habitantes que marcaram a trajetória de Amambai em seus 77 anos de história, cada um contribuindo à sua maneira para o desenvolvimento do município, há aqueles que representam, em sua própria vida, a essência da cidade. Dona Silvarina José Siqueira, com sua simpatia e acolhimento, é uma dessas pessoas. Ao receber a equipe do Jornal A Gazeta, fez questão de oferecer hospitalidade e carinho, colocando em prática a simplicidade que caracteriza o povo de Amambai.
Uma vida entrelaçada à cidade
Nascida em 2 de janeiro de 1948, Silvarina cresceu acompanhando as transformações de Amambai. Com apenas 24 anos, mudou-se da fazenda para a cidade, onde construiu sua família e ajudou a escrever capítulos importantes da história local.
Casada com Floriano Benites, viveu um casamento de amor e companheirismo. Juntos, tiveram sete filhos, que mais tarde lhes deram 16 netos e cinco bisnetos — todos lembrados com carinho um a um, enquanto contava nos dedos para não esquecer de ninguém. “Não posso deixar nenhum de fora”, disse, rindo com ternura.
Foram anos de vida a dois, celebrados sempre com festa no aniversário de casamento. A despedida veio neste ano: em fevereiro, Floriano faleceu, deixando saudades e lembranças de uma vida inteira construída lado a lado.
O quintal que guarda memórias
Silvarina é daquelas pessoas que encontram na própria casa motivos para sorrir. Com zelo, cuida de um quintal florido, onde plantas e flores dão vida ao espaço, inclusive um pé de jabuticaba, de 45 anos, que guarda uma bagagem de memórias.
Com orgulho, ela mostra a árvore carregada de frutinhas ainda verdes, mas que logo estarão maduras. “Eu mesma subo no pé para pegar jabuticaba. Gosto demais e sempre ofereço para quem vem me visitar”, disse, com a alegria de quem vê na partilha um gesto de afeto.
Trabalho, fé e solidariedade
A vida de Silvarina também foi marcada pelo esforço. Ainda jovem, acordava às quatro da manhã para preparar salgadinhos e geladinhos, que os filhos ajudavam a vender nas ruas. O trabalho ajudou a sustentar a família e ensinou o valor da união.
Sempre ativa na comunidade, ajudou a fundar a Associação de Moradores da Vila Jussara e atuou na Pastoral da Criança, onde arrecadava ingredientes para preparar sopões distribuídos às famílias que mais precisavam. Doou tempo, energia e amor para que ninguém ficasse desamparado.
De sua mãe, Dona Bernardina — que faleceu este ano, aos 107 anos — herdou o dom do benzimento, prática que mantém até hoje como forma de fé e cuidado.
A força da simplicidade
O lazer de Silvarina está nas coisas simples: ir a bailes, jogar baralho com amigos, tomar chimarrão. Foi também da simplicidade que veio um de seus maiores orgulhos. Quando conquistou a aposentadoria, aos 55 anos, realizou um sonho: comprou sua bicicleta. Até hoje, ela a exibe com alegria e usa para ir aos bailes e resolver as tarefas do dia a dia.
Ao ver sua foto tirada para esta reportagem, se emocionou. “Nossa, eu pareço muito a minha mãe”. Um reflexo de que a história dela é também continuidade da história de Bernardina, a mulher guerreira que lhe ensinou coragem, fé e amor à vida.
Conselho de vida
Aos 77 anos, Dona Silvarina guarda uma sabedoria simples e valiosa. Quando perguntada sobre o que aconselha às mulheres de hoje, ela responde sem hesitar:
“Viver muito. Conversar, porque hoje as pessoas não conversam mais. Sorrir. Tomar chimarrão. E, acima de tudo, fazer o bem para os outros.”
O legado de quem acolhe
Mais do que números ou obras, a vida de Dona Silvarina simboliza o verdadeiro espírito de Amambai: gente simples, de coração aberto, que constrói a cidade não apenas com trabalho, mas com gestos de solidariedade e afeto.
Em seus 77 anos, Amambai guarda muitas histórias. Mas a trajetória de Silvarina mostra que, acima de tudo, a cidade é feita de pessoas que, como ela, espalham fé, esperança e hospitalidade.
Fonte: Grupo A Gazeta