2023-10-01 18:06:22
Os combustíveis sintéticos são estudados há pelo menos 100 anos e ultimamente tem recebido maior atenção. O motivo? Leis de proibição futura para a venda de carros a combustão em todo o mundo. Nos últimos anos, mais notícias sobre a chamada gasolina sintética (e-Fuel) parecem soar como uma tábua de salvação para os motores térmicos. Mas o que é verdade nessa história?
De fato há muitos estudos e notáveis avanços na produção de e-Fuels pelo mundo. Gigantes como a Liebherr, ZF, Bosch, Repsol, Mahle, ExxonMobil e Siemens Energy, lideram essa pesquisa enquanto no meio acadêmico há muitos cientistas que são contrários a essa tecnologia. E se existem empresas pesquisando essa tecnologia é porque há no mínimo alguma preocupação com o futuro ou interesse em ter uma solução alternativa a eletrificação. Ou as duas coisas.
Como é feita a gasolina sintética?
A gasolina sintética é extraída a partir do carvão ou também de residuais agrícolas, óleos vegetais e até mesmo pneus velhos combinados com CO2 da própria atmosfera. Por meio de reação química obtida por eletricidade se obtém o combustível que é o metanol convertido em gasolina. Mas na disso é novo. O próprio biodiesel adicionado em parte nos motores a combustão já contém misturas de óleos residuais e gorduras animais.
Existe outra alternativa que é a ligação de hidrogênio obtido com eletrólise de água e gás carbônico para obter metanol sintético. Com um catalisador ele é sintetizado para produzir combustível.
E o que mais chama a atenção da gasolina sintética é a questão da sua aplicabilidade. Sua logística não irá depender de mudanças nos postos de combustíveis e todo sistema que já conhecemos. É líquido, transporta-se por caminhão e o motor a combustão aceita a novidade sem adaptações.
Onde a gasolina sintética é produzida?
Existem plantas piloto de gasolina sintética na Austrália, Estados Unidos e Chile. Hoje se produz cerca de 130 mil litros por ano de combustível sintético. Até 2025 serão 55 milhões de litros chegando até o fim da década em 550 milhões de litros de gasolina e-Fuel. Mas isso depende e também da geração limpa de energia e por isso essas fábricas precisam de energia limpa também: eólica ou solar.
Porém a capacidade de produção desse combustível ainda é muito limitada, de custo produtivo elevado e estará longe de abastecer a demanda mundial por gasolina. A Fórmula 1 vai usar combustível sintético a partir de 2025 e a Porsche testa essa solução em seus carros começando pelas produções limitadas como o 911 GT3 R recém lançado. Será um longo caminho.
Da mesma forma, a Europa que vem se movimentando contra a meta de proibir a venda de carros a combustão a partir de 2030 também não pode contar apenas com combustíveis sintéticos. E como sabemos 42% da fonte de energia na Europa é limpa e 58% tem fonte suja. O Reino Unido não faz parte da UE e não irá proibir a venda de carros a combustão interna pelo menos até 2035. Até mesmo a França e a Alemanha se movimentam contra a proibição a princípio prevista para 2035. Mesmo que seja possível ampliar a produção de e-Fuel na Europa, dificilmente ele irá suprir a grande demanda.
Claro que o Brasil tem vantagem. Temos etanol desde o final dos anos 1970 e uma engenharia avançada no desenvolvimento desse combustível que tem emissões. O etanol emite menos da metade de CO2 em relação a gasolina, o resíduo do etanol vira biomassa e reduz a emissão de carbono em 60%. E um carro atual emite 28 menos poluentes do que um carro produzido em 1980. A tecnologia por si só ajuda a reduzir emissões mesmo em motores térmicos. Sabemos que carros a diesel desregulados é que são os grandes vilões.
Seja como for, a gasolina sintética é uma boa ideia mas está longe de ser considerada uma substituta da eletrificação. A indústria como um todo já investiu muitos bilhões de dólares em seus esforços no desenvolvimento de modelos híbridos e elétricos, sistemas de baterias mais eficientes e leves e mesmo que haja limitação para obter minerais usados nessa produção a tecnologia também ajuda em processos mais simples para geração e armazenamento de energia.
Esse “transatlântico” no mar resulta nas novidades que estamos vendo todos os dias. Pode até demorar mais porém a eletrificação parece mesmo um caminho sem volta em todos os países incluindo o Brasil.