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quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Primeiro censo da população de rua de Mato Grosso do Sul vai nortear políticas públicas

Gilmar dos Santos Gonçalves mora em uma das principais avenidas de Campo Grande, mas quase ninguém vê.

A moradia dele está escondida.

É um barraco improvisado, com pedaços de madeira, escorado na encosta do rio Anhanduí, no meio da Norte-Sul – antigo apelido da avenida Ernesto Geisel e suas continuações, chamada assim por cortar a cidade de uma ponta a outra.

Há 20 anos ele mora na Capital, sobrevivendo de doações e da venda de materiais recicláveis e convivendo com incertezas de quem não tem praticamente nada. “Comida, quando as pessoas não dão na rua, a gente pede”, conta. “Sempre morei na rua aqui em Campo Grande. Na minha cidade também, em Goiás, morava no meu barraquinho na beira do rio, assim”.

Para entender quantas pessoas estão na mesma situação que ele e incluí-las nas políticas públicas, o Governo de Mato Grosso do Sul somou esforços com a Defensoria Pública Estadual e a Prefeitura de Campo Grande e deu início, nesta semana, ao primeiro censo da população de rua do Estado. Também participam do levantamento a Segem/Segov (Secretaria-Executiva de Gestão Estratégica) e o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). 

A secretária de Estado de Assistência Social e dos Direitos Humanos (Sead), Patrícia Cozzolino, explica que a iniciativa vem no sentido de dar dignidade a essa população.

“Essa decisão foi tomada aqui no gabinete por mim e pelo secretário Anderson Warpechowski (adjunto) buscando contabilizar as pessoas em situação de rua no Município de Campo Grande para que este número e as condições nas quais elas se encontrem sejam subsídio para as políticas públicas de Estado que ainda vão surgir e também para adequação dos programas sociais e benefícios que existem à disposição das pessoas sul-mato-grossenses”, informa. 

Primeiro censo da população de rua de Mato Grosso do Sul vai nortear políticas públicas
Censo da população de rua na Capital (Foto: Monique Alves)

Na primeira etapa do censo, funcionários da SAS (Secretaria Municipal de Assistência Social) e do programa Mais Social, da Sead, foram a campo fazer a contagem das pessoas.

A coordenadora do Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos (Nudedh), defensora pública Thaisa Raquel Medeiros de Albuquerque Defante, conta que o trabalho começou no ano passado. 

“A Defensoria Pública de MS mobiliza a realização do 1º Censo da População em Situação de Rua desde 2024 e, por isso, essa primeira etapa da contagem é uma importante conquista para a Defensoria, para essas pessoas, que por diversos motivos estão nessas condições, e para todo o município de Campo Grande. Esse trabalho em grupo permitirá o alinhamento e a construção de políticas públicas mais efetivas. A intenção é evitar que pessoas cheguem às ruas; criar condições para que aquelas que já estão, consigam sair; e, principalmente, assegurar dignidade a quem permanecer”, afirma.

Primeiro censo da população de rua de Mato Grosso do Sul vai nortear políticas públicas
Governo de MS participa desta iniciativa na Capital (Foto: Monique Alves)

Já a secretária de Assistência Social e Cidadania do município, Camilla Nascimento, reforça a importância do levantamento.

“O crescimento dessa população nos últimos anos é notável, mas até então não havia dados concretos voltados exclusivamente para a população em situação de rua porque nunca houve um censo para mostrar realmente o tamanho e o perfil dessa população em Campo Grande. Por isso, realizar essa contagem e a caracterização do perfil dessas pessoas é fundamental para que nossas ações sejam eficazes e possam orientar futuras políticas, levando qualidade de vida a essa população, já que nenhuma gestão consegue fazer política pública sem estudo, por isso a importância de um diagnóstico inicial. A partir do Censo, teremos um ponto de partida sólido para a construção de políticas sociais mais direcionadas e integradas com os atores que atuam na Assistência Social”, avalia.

Vida difícil

O trabalho pode impactar na vida de Gilmar dos Santos, que se equilibra, na encosta íngreme, na frente da barraca improvisada, com o auxílio da corda que serve de varal. Enquanto um metro acima os carros passam rápido pelo prolongamento da Presidente Ernesto Geisel, avenida que dá acesso a um shopping, a um ginásio esportivo e a um grande parque público, o tempo passa em outro ritmo lá embaixo e ele parece já não ter certeza do tempo e nem da própria idade.

“Quando as pessoas perguntam, eu digo que tenho 60 anos”, diz. O sonho dele é ter melhores condições para trabalhar com reciclagem. “Eu sou tão ignorante. Eu queria uma reciclagem, trabalhar para mim mesmo. Eu começo a melhorar de vida, alguém vem e leva tudo. Uma vez me levaram 10 metros de reciclagem”, finaliza.

Fonte: Paulo Fernandes, Comunicação da Sead

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