Após mais de uma década de buscas, pesquisadores localizaram, em julho deste ano, um ninho de harpia (Harpia harpyja), também conhecida como gavião-real, em Corumbá (MS), no Pantanal. A descoberta foi feita no Maciço do Urucum, uma região de vegetação densa e de difícil acesso.
A confirmação do ninho é considerada relevante para aprofundar o conhecimento sobre o comportamento da espécie e fortalecer estratégias de conservação. A dificuldade em localizar o ninho reflete uma das principais características da espécie: o comportamento reservado.
Segundo o biólogo Gabriel Oliveira, que atua no monitoramento da espécie, a harpia é uma ave de hábitos reclusos. Além disso, a pequena quantidade de aves da espécie que ainda existem no Brasil torna os registros ainda mais difíceis.
“Onde ainda existe, ela costuma evitar áreas abertas e prefere viver oculta sob a copa das árvores, o que torna sua observação algo raro e especial”, explica.
A espécie carrega uma série de características:
- 🚫Classificação como “quase ameaçada” de extinção;
- 🌿Baixa taxa reprodutiva;
- 🦅Técnicas eficientes de caça;
- 🌱Preferência por locais altos e isolados para construção dos ninhos;
- 🕊️Hábitos discretos.
🚫 Classificação como “quase ameaçada” de extinção
A harpia é classificada como “quase ameaçada” de extinção pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Segundo especialistas, o número de registros da espécie tem diminuído em várias regiões do país.
🌿 Baixa taxa reprodutiva
A baixa taxa reprodutiva também contribui para a vulnerabilidade da espécie. De acordo com o biólogo Gabriel Oliveira, a harpia costuma colocar dois ovos por vez, mas apenas um filhote sobrevive.
O período de incubação é de aproximadamente 56 dias, e o filhote permanece dependente dos pais por até dois anos. Por essa razão, a espécie só se reproduz a cada três anos.
🌱 Preferência por locais altos e isolados para construção dos ninhos
A harpia prefere locais altos e isolados para construir seus ninhos, utilizando árvores de grande porte, geralmente com mais de 40 metros de altura.
No caso do ninho encontrado em Corumbá, a estrutura foi construída em uma árvore mais baixa que o habitual, mas em uma área de difícil acesso. As aves constroem plataformas grandes com galhos, revestidas com vegetação macia, para acomodar os filhotes.
🕊️ Técnicas eficientes de caça
A harpia adota uma tática de espera para caçar. Segundo o biólogo, a ave permanece imóvel em pontos estratégicos por longos períodos, aguardando o momento ideal para atacar. Sua habilidade de voar com agilidade entre os galhos facilita a perseguição das presas.
A presença da harpia em determinada área indica a existência de um ecossistema preservado. A espécie depende de florestas contínuas e extensas, com territórios que variam de 20 a 35 km² por casal.
Por essa razão, é considerada uma espécie-bandeira para a conservação das matas tropicais. Como predadora, ajuda a controlar a população de mamíferos que vivem nas árvores e mantém o equilíbrio do ambiente.
🦅Hábitos discretos
A harpia habita florestas de baixada e regiões montanhosas de até 2.000 metros de altitude. Embora possa ser encontrada em fragmentos florestais menores, necessita de boa disponibilidade de presas.
A espécie apresenta hábitos discretos, pousando entre a folhagem e raramente voando acima do dossel ou em áreas abertas.
Sua distribuição original se estendia do sul do México até a Bolívia, nordeste da Argentina e grande parte do território brasileiro. No Brasil, ocorre principalmente na Amazônia e em áreas protegidas da Mata Atlântica, com registros também no Cerrado e no Pantanal.
Fonte: Nadine Lopes, g1 MS