Clesio Damasceno
A unidade de Amambai da UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul) vai iniciar um novo curso de Agroecologia Intercultural Indígena, com 30 alunos indígenas Guarani/Caiuá, no próximo mês de agosto. A reportagem do Jornal A Gazeta esteve na unidade e falou com o gerente da unidade, Flávio Rodrigues Lhopes.
Desde 2023, a unidade local passou a atender somente alunos indígenas, dentro de um projeto de criação de um polo intercultural, e apenas os remanescentes dos cursos de Ciências Sociais, que há 18 anos vem sendo oferecido, e História, que conta com oferta há mais de 20 anos, ainda continuarão estudando até se formarem, em meados de 2027. Nesses dois cursos há 45 alunos ainda caminhando para a conclusão.

Em 2023, dentro do projeto de uma unidade intercultural, a UEMS começou o curso de Pedagogia Intercultural Indígena, com 50 alunos. O curso foi uma exigência que o Ministério Público fez aos municípios de Amambai e Caarapó, sobre a necessidade de formar-se professores indígenas para atuarem nas escolas indigenas dos dois municípios. Dentro do convênio especifico estabelecido com as prefeituras, foram oferecidas 25 vagas para Amambai e 25 vagas para Caarapó.
As aulas do curso, iniciado em 2023, são ministradas em sistema de regime de alternância (blocos condensados) em datas específicas no calendário anual. Em média os alunos têm de 4 a 5 módulos de aulas por ano, sendo 15 dias de aulas em período integral, quando os alunos pernoitam em alojamento na unidade da UEMS, e a alimentação é oferecida pelas prefeituras dos dois municípios.
DEMAIS CURSOS
Nesse mesmo sistema de regime de alternância (condensado), a UEMS também passou a oferecer em fevereiro desse ano, mais um curso, o de Pedagogia Intercultural Indígena – 2ª Licenciatura, que conta com 40 alunos indígenas, oriundos das regiões de Amambai, Caarapó, Tacuru, Aral Moreira, Paranhos e Juti.
“As aulas nesse sistema condensado, ou seja, de tempo em tempo, funciona em duas modalidades: Tempo Universidade, que é o tempo que o aluno permanece na universidade, aulas teóricas (15 dias, sendo que aos sábados eles retornam para suas localidades de origem e voltam na segunda para mais uma semana), e o Tempo Comunidade, desenvolvimento prático onde os alunos, nas suas comunidades, desenvolvem projetos que completam a grade de estudos”, explica Flávio Lhopes.
A transformação da unidade da UEMS de Amambai como pioneira na inclusão e valorização cultural dos povos indígenas, desde 2023, já gerou bastante questionamento acerca de preterir a participação de alunos não indígenas. Se por um lado a universidade facilita o acesso aos estudantes indígenas, por outro, tira do restante da população o direito de ter uma universidade pública que ofereça cursos no município.
CALENDÁRIO DE AULAS
O sistema do calendário de aulas em período condensado estipulou os seguintes períodos letivos durante o ano de 2025: O Curso de Pedagogia Intercultural, iniciado em 2023, segundo calendário acadêmico vigente, ficou com blocos de aulas de 17 a 28 de fevereiro; de 05 a 16 de maio; de 25 de agosto a 05 de setembro e de 27 de outubro a 08 de novembro. Fora desse período os alunos têm o Tempo de Comunidade, onde eles desenvolvem atividades nas suas localidades de origem.
O curso de Pedagogia Intercultural – 2ª Licenciatura, iniciado em fevereiro desse ano, com 40 alunos, teve o calendário de aulas definido nas seguintes datas: Tempo Universidade: 17 a 28 de fevereiro, de 31 de março a 12 de abril, de 28 de julho a 08 de agosto e de 22 de setembro a 04 de outubro. O tempo de Comunidade é feito nos intervalos dessas datas.

BOLSA PERMANÊNCIA
Com o intuito de apoiar a permanência do estudante indígena até o término dos cursos, o Governo Federal, através dos programas da CAPES (PARFOR – Programa de Formação de Professores da Educação Básica) e do Ministério dos Povos Indígenas, oferecem apoio financeiro através da bolsa permanência.
Os 40 alunos que iniciaram o curso de Pedagogia Intercultural Indígena em fevereiro desse ano recebem mensalmente R$ 700,00, para custeio com alimentação. Já os alunos do curso de Agroecologia, que vai iniciar no segundo semestre (num total de 30), irão receber uma bolsa mensal de R$ 1.400,00 para ajudar no custo de alimentação.
Os alunos indígenas, durante o período de aulas (Tempo Universidade), pernoitam na unidade da Uems de Amambai de segunda a sexta-feira, durante 15 dias, voltando para suas localidades de origens aos sábados.
ESTRUTURA
O prédio da UEMS de Amambai inaugurado há quase 30 anos consta com 9 salas de aula (sendo duas delas transformadas de forma emergencial em alojamento), ampla biblioteca, laboratório de informática, laboratório de humanidades, sala de rede de saberes, uma brinquedoteca, uma cantina terceirizada, 1 auditório (bastante usado pela comunidade), vestiarios masculinos e femininos, uma quadra de esportes e bloco administrativo.
Flávio Lhopes explica que a unidade de Amambai se adequou com alojamentos para receber esses alunos durante o tempo de universidade. Segundo ele, em breve serão construídos um alojamento e cantina, obras que estão em fase de planejamento com recursos do Ministério dos Povos Indígenas.
Além do gerente da unidade de Amambai, Flávio Lhopes, a UEMS de Amambai conta com 16 professores, 07 secretários acadêmicos (sendo 1 cedido para o TRE) e 04 servidores terceirizados para garantir o atendimento aos alunos.
Do total de alunos da unidade de Amambai atualmente em todos os cursos, cerca de 65% são mulheres, num total de 87 alunas mulheres e 48 alunos homens, distribuídos em 36 alunos em Ciências Sociais; 28 em História; 33 em Pedagogia Intercultural I (convênio) e 38 alunos no curso de Pedagogia Intercultural Indígena II.
Fonte: Grupo A Gazeta