2008-09-06 11:56:00
O protesto dos produtores rurais contra as portarias da Funai prevendo a demarcação de novas terras indígenas reuniu milhares de pessoas na principal avenida de Dourados, a Marcelino Pires, nesta manhã.
Além de palavras de ordem, eles portavam faixas reconhecendo que era preciso respeitar a causa indígena, mas sem com isso inviabilizar o setor produtivo.A concentração se deu em frente da Câmara Municipal, a partir das 8h, e os manifestantes seguiram a pé até a Praça Antônio João. Esse já foi o segundo protesto em nível local. O anterior aconteceu no dia 23 de agosto, igualmente bastante concorrido.
Os produtores querem conscientizar o Governo Federal para o clima de insegurança e instabilidade instalado em Mato Grosso do Sul após o anúncio das portarias prevendo a demarcação de praticamente 1/3 das terras produtivas do Estado sem que se dê nenhuma garantia compensatória aos proprietários rurais.
Os comerciantes, em apoio ao movimento, fecharam as portas durante a caminhada.RedeFazendeiros da região de Dourados montaram uma rede de proteção contra invasões indígenas.
De acordo com Marisvaldo Zeuli, tesoureiro do Sindicato Rural da cidade, os produtores estão organizados para expulsar qualquer invasor das fazendas, "nem que seja a força". Os produtores se respaldam no artigo 5º da Constituição Federal, que trata da inviolabilidade do domicílio.
“Nós faremos o que for necessário, dentro da lei, tendo em vista o direito à propriedade privada”, garante lembrando que, se o diálogo com os invasores não funcionar “até a força pode ser usada para garantir nossos direitos”.
Segundo Zeuli, a rede funcionaria da seguinte forma: a região foi dividida em três, no caso de uma fazenda invadida o proprietário telefona para três outros proprietários, que ligarão para mais três, e dessa forma em dez minutos cerca de sessenta fazendeiros estarão a caminho da área invadida.
“Toda essa mobilização é legal”, garante. Ao chegarem a propriedade invadida, os fazendeiros tentarão negociar, garante o representante do sindicato. Caso não tenham sucesso, a ordem é "expulsar" os invasores, nem que tenham de usar força, admite o produtor, apesar de novamente afirmar que não "querem guerra".
O esquema foi criado após a Funai (Fundação Nacional do Índio) iniciar em Mato Grosso do Sul estudos antropológicos que podem resultar em desapropriações. Zeuli disse que não há a intenção de entrar em confronto direto com os índios, nem de usar armas.
“Nós não queremos outra situação como a que ocorreu durante a demarcação da aldeia Panambi, que foi muito dolorosa, e deixou marcas que são visíveis até hoje tanto entre índios, quanto entre brancos”, lembra. “Se for para desapropriar, que seja feito de forma transparente e ordeira, e que se pague o que for justo para o produtor”, acrescenta.
Economia – Conforme Zeuli, as terras que estão sob estudo compreendem uma área de mais de três milhões de hectares, enquanto a área plantada no Estado é de apenas um milhão e meio.
Ele ainda alerta que a sociedade não está ciente dos impactos que desapropriações nestas proporções podem causar na economia. “Até agora a briga só está entre os sindicatos rurais, a Famasul (Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso do Sul) e a Funai, mas a sociedade tem de lembrar que as economias de Dourados, assim como de Campo Grande são movidas pelo agro-negócio. Sem a produção no campo não tem comércio na cidade”.
Produtores Rurais de Caarapó também participaram do protesto.