2008-08-29 07:12:00
Vilson Nascimento
O líder comunitário guarani-kaiowá, Italiano Vasques procurou a imprensa essa semana para dizer que não reconhece o posto de “capitão” do outro líder comunitário, Rodolfo Ricarte, dentro da Aldeia Amambai e relatar que ele é o líder de fato da comunidade indígena, a segunda maior aldeia do Estado, com cerca de 7mil índios da etnia guarani-kaiowá.
Italiano apresentou uma ata datada de 16 de dezembro do ano passado (2007) onde aponta, segundo o documento que tem protocolo de autenticidade reconhecido pela Funai (Fundação Nacional do Índio) e pela Polícia Federal, que Italiano teria vencido a eleição dentro da reserva indígena.
“Realizamos a eleição na forma tradicional do povo guarani e kaiowá onde mais de 400 pessoas votam em mim e me elegeram líder da comunidade na presença de representantes da Funai, do Ministério Público Federal e da Polícia Federal, mas Rodolfo não reconheceu a derrota e dias depois forjou uma eleição. O povo não quer mais ele como líder da comunidade e ele tem que entender isso”, disse Italiano Vasques ao negar ter provocado o desentendimento que resultou em um indígena ferido à tiros na aldeia na semana passada.
“Foi o grupo do Rodolfo que atacou pessoas ligadas a mim que passaram na frente da casa deles. Ele tem arrumado freqüentes confusões dentro da aldeia, teve um problema com uma Igreja Evangélica, mandou agredir o ex-capitão Zé Bino, forjou as eleições para tentar se manter no poder contra a vontade da população da aldeia e agora provocou mais essa confusão que acabou deixando o patrício ferido”, disse Italiano ao relatar que não ouve casa queimada e nem animais domésticos mortos na como foi noticiado na semana passada.
Não existe mais capitão- Segundo Italiano Vasques, que essa semana esteve visitando nossa redação em companhia de outro líder comunitário da Aldeia Amambai, o presidente da Associação dos Produtores Rurais Kaiowá e Guarani, Lázaro Fernandes, o posto de “capitão” como era classificado anteriormente o líder da comunidade, não existe mais nas aldeias e as comunidades agora tem líderes de grupos.
“O cargo capitão não existe mais. Agora existem lideranças apontadas pela comunidade e essas lideranças devem trabalhar em conjunto pelo bem da comunidade para garantir saúde, educação, alimento e condições para que o índio possa tocar sua lavoura e produzir”, disse Italiano ao dizer que “se alguém quiser permanecer reconhecendo Rodolfo Ricarte como capitão, que coloque ele para ser capitão dos indígenas “desaldeiados” que residem nos barracos na periferia da Vila Cristina, no perímetro urbano da cidade. “Na Aldeia Amambai ele não é mais capitão não”, finalizou Italiano.
Demarcações- Em relação às demarcações de terras, Italiano Vasques foi categórico em defender a ampliação da área territorial da Aldeia Amambai.
“Nossa população precisa de mais terras para produzir alimentos e criar seus filhos. Todos sabem que a Aldeia Amambai é a segunda do Estado em termos populacional e estamos ocupando apenas parte das terras que são nossa por direito. A Aldeia Amambai que há 100 anos se chamava “Tekohá Itapoty, depois passou a se chamar “Guapo`Y” e só na década de 70, quando a Funai foi criada, denominou o Tekohá de Aldeia Amambai, tem
“Queremos reaver essas terras”, disse Italiano ao relatar que na Aldeia Amambai também existem outros grupos de indígenas desaldeiados que permanecem acampados e também vão lutar para recuperar as terras que, segundo ele, pela Constituição Federal pertencem a eles, porém seus antepassados acabaram expulsos no passado. “Eles também querem reaver essas terras”, disse Italiano.
Regras na Aldeia- Outra medida, que segundo Italiano Vasques, será intensificada a partir de agora na Aldeia Amambai é o controle da entrada de pessoas estranhas.
“Vamos montar postos de controle na entrada da aldeia e barrar a entrada de pessoas estranhas na reserva indígena. Não vamos barrar pessoas que estiveram trabalhando e com boas intenções. Nosso objetivo é barrar aquelas pessoas que exploram nossos patrícios, introduzem bebida alcoólica e drogas, provocando violência e dependência química em nossos jovens”, finalizou o líder guarani-kaiowá ao alertar que a partir de agora também só será permitida a entrada na aldeia, de agenciadores de trabalhadores para atuar no corte de casa para as usinas, que procurarem por Italiano.