2008-08-22 21:39:00
Vilson Nascimento
Por conta de disputas pela liderança o capitão da Aldeia Amambai, Rodolfo Ricarte, foi praticamente expulso da reserva indígena após receber ameaças de morte e o clima é extremamente tenso no interior da aldeia, a mais populosa na região com cerca de 7 mil índios da etnia guarani-kaiowá.
De acordo com o líder indígena que acusa outra liderança da reserva, Italiano Vasques, de tentar tomar o poder à força dentro da aldeia, a situação, que se arrasta por mais de anos, se agravou na manhã dessa quinta-feira (21) quando um grupo de índios, segundo Rodolfo, ligados a Italiano, teria chegado em sua casa e tentado agredi-lo, inclusive um dos agressores teria sacado de um revólver e apontado para o peito de Rodolfo, mas não teria atirado.
Durante o desentendimento, que ocorreu por volta das 10h da manhã, um indígena, segundo as informações, ligado a Italiano Vasques, foi ferido com pelo menos 5 tiros, mas acabou sobrevivendo.
Líder acusa Funai de omissão- Após o ocorrido, com o objetivo de evitar um novo confronto, Rodolfo Ricarte e alguns seguidores deixaram a reserva indígena e permaneceram durante todo o dia e a noite de quinta e durante o dia dessa sexta na cidade, mas a situação permaneceu tensa no interior da reserva indígena, inclusive, segundo a Polícia Civil de Amambai, no decorrer da noite houve novos confrontos onde uma residência teria sido incendiada e animais domésticos abatidos a tiros.
A Polícia Civil de Amambai, que por determinação superior está proibida de entrar nas aldeias para combater confrontos internos, registrou ocorrência relatando o grave problema e encaminhou cópia para a Polícia Federal de Ponta Porã, mas até a manhã desse sábado (23) a PF não havia dado uma resposta para a questão.
“Não estamos autorizados a entrar na aldeia para conter distúrbios internos. Nós da Polícia Civil e a Polícia Militar só vamos entrar na reserva indígena se a Polícia Federal solicitar apoio e mesmo assim, se estivermos acompanhados por alguém da Funai”, disse o Delegado de Polícia Civil de Amambai, Dr. Claudineis Galinari ao avaliar como grave a questão de segurança dentro Aldeia Amambai.
“Falta apoio da Funai que se mostra favorável as ações do Italiano e não toma nenhuma medida para solucionar o impasse”, disse o líder indígena ao afirmar que grupos ligados a seus adversários estariam se articulando para realizar novos ataques contra famílias que o apóiam dentro da aldeia.
Rodolfo disse ainda que durante uma reunião com ele e seus companheiros “exilados” na tarde dessa sexta-feira, funcionários da Funai que integram a “Equipe Sucuri” teriam sido categóricos ao afirmar que ele, Rodolfo Ricarte, teria comprado o delegado, o Juiz e o Promotor de Amambai para ficarem a seu favor e contra Italiano Vasques, atitude que o líder indígena apontou como ridícula.
“Passei a ser perseguido, inclusive pela Funai, depois que dei declarações na imprensa que sou contra a invasão de terras para pressionar demarcações e cobrei ações da Funai para que os índios produzam dentro das terras que já estão a nosso dispor”, finalizou Ricarte.
O líder indígena Italiano Vasques que quer assumir o posto de capitão da Aldeia Amambai em Amambai e Rodolfo Ricarte divergem em vários fatores, o que dificulta a relação dos grupos.
Italiano apóia a iniciativa da Funai, do Ministério Público Federal e dos antropólogos em promover estudos e demarcações de novas reservas indígenas na região. Já Rodolfo Ricarte, como declarou acima, defende maior investimento e assistência da Funai e do Governo Federal para que os indígenas produzam nas próprias terras que já possuem que hoje mais de 60% são improdutivas por falta de programas de apoio à agricultura familiar nas aldeias.
Rodolfo voltou para a reserva indígena e segundo a Polícia Civil de Amambai a situação permaneceu calma e sem incidentes na noite dessa sexta para sábado na aldeia.
Matéria atualizada às 10h desse sábado