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domingo, 5 de outubro de 2025

Índios querem assistência e não mais terras, diz líder

2008-08-12 01:19:00

Vilson Nascimento

Em entrevista ao jornal A Gazeta e ao site A Gazetanews nesse final de semana, o “capitão” da Aldeia Amambai, a aldeia mais populosa da região, com cerca de 7mil índios da etnia guarani-kaiowá, Rodolfo Ricarte, disse que a maior parte da população indígena, incluindo ele, são contrários a atitude da Funai em contratar antropólogos para realizar estudos e demarcações de terra na região.

“Não precisamos de mais terras. Precisamos de assistência e condições para explorarmos e produzirmos nas terras onde moramos”, disse o capitão ao relatar que 80% dos indígenas que residem na Aldeia Amambai não sabem o que está acontecendo e se quer tem conhecimento sobre os estudos e a ações que a Funai vem executando.

“Nunca a Funai reuniu a comunidade para colher sugestões ou mesmo ouvir os indígenas sobre a questão de aumento de reservas ou aldeias. Essas ação são frutos de atitudes tomadas por antropólogos fomentadas por ONGs e por segmentos da própria Funai sem a participação das partes que seriam as principais interessas, nós, os povos indígenas”, disse Rodolfo Ricarte ao lamentar que, por conta de uma suposta “lavagem cerebral”, aplicadas por antropólogos e alguns funcionários da própria Funai, alguns indígenas, atraídos por supostos líderes gananciosos, acabam promovendo invasões de terras, colocando suas próprias vidas em risco e manchando a imagem de toda, segundo ele, a sofrida população indígena que, de acordo com o capitão, por conta de uma ação de poucos, passam a ser discriminados de uma forma generalizada.

Sem assistência- “Hoje estamos praticamente sem assistência por parte da Funai. Estamos em período de preparação de solo e os quatro tratores que temos aqui na aldeia estão quebrados e a Funai se quer se manifesta em relação ao problema. Documentos deixam de ser emitidos por falta de funcionário. Após a demissão, sem maiores explicações, do Arsênio Vasque que por muitos anos realizava esse trabalho nesse setor, a Funai contratou um funcionários que se quer vem aqui na comunidade e a população da aldeia está completamente desamparada”,disse o líder indígena ao ressaltar que tanto a chefe do núcleo da Funai em Amambai com a administradora regional para o Conesul, que atua em Dourados, não vão às aldeias para averiguar os problemas existentes e se quer recebem as lideranças em seus gabinetes.

Líder contesta proibição- Rodolfo Ricarte também contesta a portaria expedida pela Funai proibindo a entrada de pessoas brancas nas aldeias da região.

“Nós dependemos da população branca e os não índios também dependem da comunidade indígena. Nosso interesse, como índios, é buscar uma integração entre nossos povos. Precisamos do comércio da cidade e os comerciantes precisam de nós e essa portaria da Funai proibindo a entrada nas aldeias vai distanciar ainda mais as duas culturas e aumentar a discriminação do branco em relação ao índio. Não queremos isso, o índio quer ter acesso a tecnologia, as facilidades da vida moderna e o direito, como cidadão brasileiro que somos, de ir e vir e nos relacionarmos com as pessoas. Não queremos essa regressão que estão querendo impor a nós, de viveremos isolados da sociedade”, desabafou o líder indígena

Rodolfo também contestou a atitude da Funai, dos antropólogos e do Ministério Público Federal de não reconhecer as lideranças indígenas como os capitães, por exemplo, e defender a idéia que os indígenas não precisam de líderes e tem que ser organizar em pequenos grupos.

“Essa atitude só vai gerar conflitos e desentendimento dentro das reservas indígenas como já vem ocorrendo”, disse o capitão.

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