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terça-feira, 7 de outubro de 2025

Crise da Aftosa ainda reflete no abate de gado em MS

2008-07-29 10:45:00

Suzana Machado

Alguns aspectos da crise da Aftosa, ocorrida há cerca de quatro anos no Mato Grosso do Sul, ainda se mantêm no mercado. O abate das matrizes nessa época, usado como medida para suprir o mercado após a crise, gerou uma escassez de carne bovina.

No Estado, vários frigoríficos suspenderam os abates, dando férias coletivas aos funcionários, alegando muita redução na oferta de boi gordo. Outro fator colocado pelas empresas de abate é o alto valor pago pela arroba do boi.

Em Amambai, no frigorífico local, os abates diminuíram também e estão sendo realizados três vezes por semana, de acordo com Jéferson da Luz Gonçalves, gerente de compra de gado. “Isso se dá pela falta do produto e também devido aos altos preços exigidos pelos produtores. Atualmente estamos pagando R$ 85,00 na arroba; nossa margem de lucro é muito pequena. Hoje abatemos cerca de seis mil cabeças por mês.”

Enquanto os abates para o mercado interno diminuem, o fornecimento para o exterior continua normalmente. De acordo com Jéferson, isso acontece devido aos contratos. “Aqui trabalhamos com mercado interno e externo. Só que para exportação são contratos fechados, então não importa o valor da arroba, a empresa tem que comprar o gado para poder fornecer ao exterior, independente do preço. Já para o mercado interno, é de acordo com o consumo.” O gerente de compra de gado também afirma que, a princípio, o frigorífico não tem a intenção de dar férias coletivas aos funcionários, como têm feito outras empresas de abate no Estado.

Para Samuel Pareja Filho, empresário do ramo de venda e compra de bovinos em Amambai, a falta de animais para compra no Estado é uma realidade. “Devido ao grande abate de fêmeas durante a crise da Aftosa, a quantidade de animais reduziu bastante. Não é que o produtor esteja segurando o produto para que os preços se elevem, mas o fato é que eles estão sem a matéria-prima, mesmo, para oferecer ao mercado.”

Segundo Samuel, a questão que os frigoríficos enfrentam, de falta de gado para o abate e preços elevados, é conseqüência da ausência de apoio por parte dessas empresas aos pecuaristas durante a crise. “A culpa maior disso tudo é da própria indústria frigorífica, que não se preocupou em cuidar do produtor. Na época, o preço da arroba foi jogado lá embaixo, prejudicando muitos pecuaristas. A recuperação agora repercutiu nesse aumento de preço.”

De acordo com Samuel, não é somente o Brasil que está sofrendo com a falta de gado para o abate. “Países vizinhos, como Argentina, Paraguai e Uruguai, também enfrentam o mesmo problema.”

 Confinamento – Nessa época do ano muitos fazendeiros estão iniciando a engorda de bovinos através dos confinamentos, porém o produtor precisa ter muita cautela no momento da venda desses animais.

“O produtor tem que ficar atento com os contratos futuros com a Bolsa, porque, talvez, no mês de outubro o mercado físico pode repercutir mal”, afirma Samuel. Isso ocorreria pelo fato de que, normalmente, no mês de outubro os produtores que mexem com confinamento efetuam a venda do gado, o que geraria muita oferta.

“Ano passado, foi no mês de outubro que tivemos os preços mais baixos para a venda do boi gordo e este ano temos que tomar cuidado para que a mesma situação não se repita. No caso do gado com confinamento, o produtor vai ter que saber negociar para não correr o risco de vender o animal num momento ruim, por um valor mais baixo.”

“No confinamento o produtor tem o tempo certo para vender o gado. Com isso teremos uma oferta maior de produto e a tendência é de que o mercado baixe o preço da arroba”, acrescenta Jéferson da Luz Gonçalves, gerente de compra de gado do frigorífico local.

Segundo Samuel, o pecuarista que trabalha com confinamento deve procurar vender o gado antes desse período ou depois. “Digo isso porque acredito que essa falta de oferta ainda irá se estender por muito mais tempo. Essa questão de outubro é uma falha de mercado que os frigoríficos aproveitam para obter lucro em cima do produtor devido à alta oferta do produto. Por isso os pecuaristas devem ter calma e vender o gado somente depois de pesquisarem bastante e obterem muita informação.”

 Certificação de área livre – Se for devolvido a Mato Grosso do Sul o certificado de área livre de febre Aftosa, a tendência é que o mercado de exportação melhore ainda mais e a carne tenha seu valor aumentado.

Está marcada para hoje (29), em Paris, na França, a reunião na qual os técnicos da OIE (Organização Mundial para a Saúde Animal) irão analisar a situação sanitária do gado bovino do Estado, com vistas a devolver a certificação de área livre de febre Aftosa com vacinação.

O Estado será representado pela secretária de Desenvolvimento Agrário, da Produção, da Indústria, do Comércio e do Turismo, Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias.

A OIE vai se basear na análise do relatório sobre as condições sanitárias do gado bovino em Mato Grosso do Sul elaborado pelo Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). O relatório foi checado por técnicos do MS antes de ser enviado à OIE.

Em casos como esse, de análise técnica, a Organização Mundial para a Saúde Animal costuma soltar o resultado em 15 dias, mas como isso não é uma regra, a OIE pode até dar a resposta no dia seguinte.

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