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terça-feira, 22 de julho de 2025

Os Mocinhos e os Bandidos – por " Alberto Eduardo Rings"

2007-06-18 10:40:37

    Nas estórias em quadrinhos, nos filmes no cinema e na teve, o enredo, geralmente, trata de personagens que representam o bem, os “mocinhos”, e personagens que personificam o mal, “os bandidos”. Os mocinhos são imbatíveis, tanto nas lutas corporais quanto nos tiroteios cujas balas nunca erram o alvo; os bandidos, por sua vez, vivem apanhando e seus tiros nunca atingem os heróicos mocinhos.

     Nos últimos tempos a sociedade brasileira vive, na realidade, aquilo que a ficção vinha tratando como irreal, fictício, e faz-de-conta. São escândalos políticos que se sucedem, tiroteios nos morros cariocas, marginais comandando o crime de dentro das prisões, invasões da propriedade privada, depredações da propriedade pública e tantos outros desmandos que a impressão é que a lei, embora exista na letra, não existe de fato. O problema mais grave, no entanto, é que há uma verdadeira inversão dos valores e os mocinhos se confundem com os bandidos e estes com aqueles.

     Você que é agro-pecuarista, produtor rural, pensa que é mocinho ou bandido? Vamos analisar os escândalos que acabei de citar e os últimos acontecimentos no setor agropecuário para responder a pergunta.

     Comecemos pelo escândalo do “mensalão” onde membros do PT pagavam valores mensais a certos políticos em troca de apoio nas votações na Câmara e no Senado. O personagem central era o Marcos Valério, vulgo “carequinha”, lembra? Tinha até um cidadão, parente de um político, que foi pego com dinheiro na cueca. Você acha que tem alguém deles preso? Não, porque eles são os mocinhos. Nesta mesma época, nós produtores amargávamos a primeira queda de safra das três que tivemos frustradas. Você se lembra que quisemos encontro com o presidente e ele não nos recebeu? Sabe por que? Porque nós somos os bandidos.

     Citemos agora o escândalo da venda de sentenças onde magistrados dos escalões superiores favoreciam o funcionamento dos bingos graças a liminares compradas. O máximo que aconteceu com eles foi o afastamento e de “castigo”, aposentadoria precoce com polpudos salários. Sabe por que? Porque eles são os mocinhos. Neste mesmo tempo, o MST continuou invadindo propriedades, depredando prédios públicos, invadindo e destruindo o  prédio do Congresso Nacional em Brasília; e sabe quantos deles estão presos? Nenhum, porque eles são os mocinhos. No mesmo período, amargamos mais dois anos de safras ruins prejudicadas pelo clima. Pedíamos renegociação de nossas dívidas e o máximo que conseguimos foi um paliativo que já começa a vencer sem que possamos pagar. Não fomos atendidos. Sabe por que? Porque nós somos os bandidos.

     E nos últimos dias, deparamos com a “operação navalha” onde, mais uma vez, nos vimos diante do descaso com que certos políticos tratam o dinheiro público, mancomunando-se com péssimos empresários e dividindo, descaradamente, o dinheiro roubado oriundo dos cento e quarenta dias que cada trabalhador brasileiro tem que trabalhar a título de  impostos recolhidos, exageradamente, pela nação, sempre sabedores que, mais uma vez, os mocinhos não serão punidos. Nesta mesma época, os produtores rurais colheram uma supersafra de cento e trinta milhões de toneladas de grãos. O governo festejou, pois nunca exportou tanto. Nunca tantos dólares entraram nos cofres da nação. O real se valorizou de tal forma que embora tenhamos produzido bem o preço não nos permite saldar compromissos do passado. Com que nos acenou o governo? Com nada! Nem do PAC fazemos parte. Sabe por que? Porque nós somos os bandidos.

     Os mocinhos fazem o abril vermelho, invadindo, depredando e ameaçando. (Agora temos também mocinhos índios e quilombolas). Invadem a usina de Tucurui, e o governo desloca o exército para “manter a ordem”. Negocia a desocupação de forma muito respeitosa. Afinal, esta lidando com os mocinhos. O líder do movimento, depois da desocupação, ameaça derrubar as torres de transmissão se não for atendido. No mínimo, deveria sair dali preso. Mas isto não é possível porque ele é o mocinho.

     Apesar de tudo, de não sermos atendidos, nós continuamos plantando. Não temos tempo de invadir prédios públicos, de derrubar torres, de ameaçar um governo incapaz de fazer cumprir a lei. Ao contrário, se o clima permitir, teremos uma super safrinha de milho. Vamos continuar exportando cada vez mais, não só a soja e a carne, mas também etanol. Isto tudo, se os mocinhos deixarem!

 Alberto Eduardo Rings
Eng. Agron. Agropecuarista
Sócio do Sindicato Rural

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