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terça-feira, 22 de julho de 2025

Opinião: Agricultura que te quero verde

2007-06-18 09:29:37

Hoje, com retórica inflamada,  comenta-se aos quatros ventos, que a economia do nosso país está atravessando céus de brigadeiro, e de que nunca esteve melhor: 120 bilhões de Dólares no Tesouro Nacional; Inflação controlada;  Recordes de superávit na balança comercial; Risco Brasil, um dos menores da história, e toda a grande  mídia, a encobrir uma realidade das mais duras, das mais brutais ao povo brasileiro,  realidade essa que sangra nos bastidores do cenário econômico, mas escondida da grande massa  desse país ( principalmente daquela massa das 03 refeições do Governo Lula),    lógico que em troca de pomposas somas, sejam aquelas oficiais, institucionais, com contratos bilionários, sejam aquelas de caixa 2,  que víamos nas CPI’s,  bem pouco tempo atrás.


O que uma reserva de tesouro estrondosa resolve, quando não criamos infra-estrutura? O que adianta um risco Brasil dos mais baixos em todos os tempos, se não acreditam na gente, e se continuam a investir na China, na Índia, na Coréia, Tailândia e Turquia? O que adianta dizer que não temos inflação e que o “Real está valorizado”, se a energia elétrica, as comunicações, água, combustíveis e tantos outros confortos, bens de consumo, triplicaram de preço  nos últimos 03 ou  04 anos?


Eu gostaria de chamar a atenção do leitor para o seguinte fato: de quanto é o superávit da Balança Comercial Brasileira? Em torno de 40 bilhões de Dólares, numa previsão otimista?


É triste quando temos que analisar que só a dívida corrente  dos produtores rurais desse país, da agricultura nacional, hoje, somadas as dívidas do mercado financeiro mais os débitos da iniciativa privada, totalizam cifras de R$ 80.000.000.000,00 ( Oitenta Bilhões de Reais), mais de 40 Bilhões de Dólares.


Por aí começa um dos nossos entendimentos, e a explicação do cenário do superávit nacional, uma vez que o agronegócio é superavitário em mais de 50 bilhões de dólares, pois exporta 56 bilhões e importa um pouco  mais  de 05 bilhões.


Só por aí, deduzimos  que todos os demais setores da economia, em se tratando da balança comercial,  quando somados, ainda são deficitários, e quem nos salva, ou melhor, salvava, era o agronegócio. É deveras triste constatar, por essa análise meramente  matemática, simples,  que cobraram e estão cobrando do produtor brasileiro, toda a carga, o ônus de segurar um país que já está resvalando pelos dedos, fugindo ao nosso controle, a resistência de nossas forças. 
É lastimável sabermos, que a atividade primária, aquela que alavanca o país, sempre foi tão desconsiderada e marginalizada, sem ter na verdade, uma política agrícola definida, recursos satisfatórios e um gerenciamento mais estratégico. Vamos compará-la com as demais agriculturas do mundo:


1-)  Enquanto as outras agriculturas tem no mundo, seguro produtividade, aonde o produtor segura a sua atividade, a sua produtividade (remuneração pelo seu trabalho que é a sustentação da sua família), contra todo e qualquer tipo de intempérie, dividindo com a sociedade todo esse risco, aqui ele não tem. Aqui o que temos é um seguro desses marginais que garante a instituição financeira. O que acontece na verdade, é que pagamos o prêmio do seguro ( quando ele existe e é compactuado), para garantirmos que a instituição financeira, repassadora dos recursos, receba o empréstimo realizado;


2-) A média dos  subsídios, hoje, na agricultura mundial, gira em torno de 30%, enquanto que a nossa não passa de 5%;


3-) Enquanto muitas agriculturas no mundo, praticam cargas tributárias altamente diferenciadas para   a aquisição de máquinas e equipamentos, fertilizantes e toda uma gama de insumos, aqui a carga tributária avilta,  tritura e inviabiliza as atividades no campo;


4-) Ao passo que algumas agriculturas no mundo, praticam um preço diferenciado para o combustível  usado na produção de alimentos ( combustível esse que tem uma coloração diferenciada, inclusive), aqui temos o combustível mais caro do mundo, e que já aumentou 300% dentro do tal famigerado “Real valorizado”.


5-) Outras agriculturas mundiais tem estatísticas de mercado mais apuradas, com um controle maior de oferta/procura, alocação de recursos mais direcionados e mais baratos, com conseqüentes regionalismos culturais (zoneamento agrícola), enquanto nós não temos nada disso, pois aqui não se sabe o quantitativo a nível de recursos, o custo,  o quanto se vai produzir, nem  consumir, e se temos capacidade de armazenamento de uma determinada região, para o montante a ser produzido naquela região;
 
Vislumbramos, hoje, os maiores preços internacionais para os produtos agrícolas, ainda assim, aqui dentro, a agricultura morre por inversões enormes que se fazem ver, pois as câmeras setoriais que deveriam controlar preços e abusos econômicos para o setor, na histórica  cadeia de custos,  nada fizeram, ou  não existiram. Esse governo medíocre que aí está,  vai acabar por triturar a agricultura nacional, pois,  mesmo com preços internacionais excelentes,  nunca vistos antes, essa famigerada agricultura, quando na conversão para a “moeda forte”,  não se sustenta nas pernas, e nem remunera, vendendo soja e milho a esses preços irrisórios. Imaginem então, quando os preços internacionais caírem quase pela metade, numa média histórica realista?


ESTAMOS VISLUMBRANDO NESSE GOVERNO, A MAIOR QUEBRADEIRA, QUE A AGRICULTURA BRASILEIRA JÁ SOFREU EM TODOS OS TEMPOS.
Não há suporte, mais, para tamanho sacrifício, para tamanha humilhação, a uma classe que só se ocupou em produzir alimentos, mas foi  fazê-lo numa terra aonde se é desrespeitado, desqualificado, denegrido, acusado de latifundiário, monocultor, depredador do meio ambiente, caloteiro, marginal, e tantos outros termos .
Muitas palavras depreciativas, pejorativas  são  proferidas contra o produtor rural, inclusive, até  depois do arroto satisfeito do bom prato, esquecendo-se o protagonista satisfeito e empanturrado, porém, o que comera na véspera, e quanta luta, suor e  lágrimas,  fizera a história da sua refeição.


Dói a constatação do desprezo, do descaminho, da falta do compromisso de um governo, com essa classe, que hoje representa 40% do PIB Brasileiro, e que tem que lutar contra tudo e contra todos, contra as pragas e doenças, falta de chuva, excesso de chuva, geadas, granizo, temporais…e ao final, ainda, a indiferença do cidadão urbano, principalmente aquele dos grandes centros, que  na sua sapiente ignorância,  deduz (porque a mídia mente)  no degustar de  suas batatas fritas, que no mínimo esse produtor rural  é magnata, que se banha em dinheiro como o Tio Patinhas, e que escraviza os seus trabalhadores no campo. São essas inverdades, esses mitos que se criaram, que precisamos desmistificar e colocar o quão estamos preocupados com os destinos do nosso país, e quanto espírito de cidadania para suportar tudo isso.


Se me perguntarem o que vislumbramos, daqui para frente, em relação a economia brasileira,  eu não relutarei em afirmar, da mesma maneira que levei a todos os alunos de segundo grau e nível superior de Amambai, ainda no ano passado, por ocasião do movimento dos produtores rurais, de que estamos caminhando para o buraco, a passos largos, apesar de toda a retórica veiculada na mídia a respeito de economia pujante,  pois o governo , hoje, já começa ver os índices de desemprego a baterem recordes, setores da economia a quebrarem na base ( setor de calçados, vinhos, móveis) e não adianta vir com linhas de  financiamentos junto ao BNDES, pois se forem pegos, não serão pagos, pois as inversões de custo, geradas pela “valorização do real”, sentenciou de morte muitos setores econômicos brasileiros, como tantos outros serão sentenciados ao longo dos próximos anos. Vimos há  poucos dias, o setor de siderurgia demitindo, e veremos logo, logo, outros setores da economia seguindo o mesmo caminho.


Não estranhem os senhores, se num dia qualquer, ainda este ano ou no próximo, formos dormir com um câmbio flutuante, e de acordarmos, surpreendidos,   com um câmbio fixo,  e com um discurso do governo, querendo nos convencer, que foi uma exigência da sociedade, do mercado. Ou o atual governo cria medidas para  que sejam sanadas as inversões dos custos da nossa moeda, o Real, ou esse caminho é inevitável, pois  perderemos a competitividade e nos transformaremos num país importador.


Falam-se  em medidas  a serem anunciadas no dia 26 de junho de 2007, medidas essas que seriam as diretrizes e recursos do PAC para a agricultura nacional. Creio que todos já saibam o meu pensamento a respeito do imPACto desse PAC.


Queira Deus, que não nos sobre só a casca!

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