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domingo, 13 de julho de 2025

Periscópio "Cara de Pau" – por Antonio Luiz

2007-06-01 10:12:00

Cara-de-pau


O meus leitores sabem que há tempos venho afirmando que uma das coisa que mais me deixam indignado é o fato de que esses políticos acham que o resto da população é de trouxas e bestas.


Já ouvimos baboseiras e mentiras de políticos importantes pegos com a boca na botija [ou a mão na grana?]. Já fomos obrigados a engolir o palavrório de Delúbios, Silvinhos, Marcos Valério, Duda Mendonça, Paulo Okamoto, Roberto Teixeira, Palocci, Zé Dirceu e outras excrescências que, nós brasileiros, permitimos que vicejassem em nosso pobre país.


Eu não duvido, embora imagine haver quem duvide, de que há comportamentos éticos que devam ser seguidas como regras básicas para uma vida privada e pública civilizada e decente.


O espetáculo que se viu na última segunda-feira no Senado só não foi mais patético porque estamos nos acostumando ao descalabro, à sem vergonhice. Afinal, já vimos um presidente dizer em rede nacional que seu partido fez caixa dois para pagar a sua campanha e que ele de nada sabia. Já vimos cabeças coroadas desse mesmo partido preparar uma trama para enlamear um adversário, sem que um só malandro tenha sido punido ou como um empreiteiro, no caso a Andrade Gutierrez, que mantém relações muito especiais com a Presidência da República, e isso também é visto como coisa normal.


A reportagem da revista Veja sobre as relações entre o presidente do Senado Renan Calheiros e Cláudio Gontijo, lobista da empreiteira Mendes Junior, é de deixar a gente chocado, mesmo num país sem a mínima vergonha na cara como o Brasil. Chocado, mas não surpreso. Nada me surpreende mais "nessepaiz" do Lula. Ou será que ainda haverá coisa que poderão me deixar boquiaberto?


A cara-de-pau e o cinismo que tomou conta, principalmente, dos políticos brasileiros é quase inacreditável. A palhaçada perpetrada por Renan Calheiros começa com a humilhante presença de sua mulher no plenário, como se estive avalizando a "pulada de cerca" do marido num espécie de melodrama de quinta categoria. Talvez ele seja corno também, quem sabe?


O presidente do Senado preocupou-se mais em escancarar sua vida privada – que, na verdade, não é da conta de ninguém desde que não haja relações promiscuas com empreiteiras – do que apresentar provas cabais de que nada poderia haver contra ele.


Seu discurso contra as acusações que lhe fez a revista, foi o próprio anti-climax , tudo continua nebuloso como antes e o senador nada disse que viesse esclarecer o assunto.


O autor da reportagem, Policarpo Junior, faz frontais e inequívocas acusações contra o senador:
"O lobista Cláudio Gontijo da Mendes Júnior pagou, até março passado, o aluguel de um apartamento em Brasília para o senador. O imóvel tem quatro quartos e fica em uma área nobre da capital federal. O aluguel saía por 4.500 reais". Além disso mantinha um flat para Renan no Hotel Blue Tree em Brasília.


"O lobista pagava 12.000 reais mensais de pensão para uma filha do senador, de 3 anos de idade. A pensão foi bancada por Cláudio Gontijo de janeiro de 2004 a dezembro do ano passado".


Gontijo admite que entregava o dinheiro, mas que só podia dizer uma coisa: não era dele. Calheiros então reconheceu que vinha dele, mas ao ser perguntado por que usar um intermediário? valeu-se do argumento dos culpados: "não falarei mais sobre o assunto". Mas a coisa continuou misturada, o valores dados na reportagem não coincidem com os primeiros dados por Renan e os que ele de agora, não cruzam com os primeiros. Claro nisso ficou a declaração no Jornal Nacional, de Pedro Calmon, advogado de Mônica Veloso que "o pagamento foi feito rigorosamente como foi relatado na revista Veja".


O presidente do Senado quer fazer-se vítima de uma trama urdida pela imprensa, mas isso não cola. Se ele acha que está sendo caluniado, então fica fácil resolver, é só processar a revista e fim de assunto. Também não adianta ele ficar martelando que sua privacidade foi invadida. Claro que foi invadida, mas foi ele que o permitiu, ao colocar nesse sujo circuito um lobista ligado a uma empreiteira que vive de negócios com o governo.


Para completar a farsa, deslavadamente pediu desculpas à mulher legal e aos filhos. Entretanto, nós, brasileiros, não aceitamos as desculpas como aquela horda de senadores puxa-sacos e fisiológicos beijando a mão do "virtuoso". Ele deveria renunciar se ainda lhe restasse um pouco de vergonha na cara.

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