2007-05-07 01:31:00
Emtrevista
Murilo Zauith, vice-governador do Estado, acredita que o desafio maior do governo atual é construir um novo tempo para Mato Grosso do Sul e como Presidente do Democratas, Murilo salienta as mudanças e principais propostas do novo partido, que possui como objetivo principal o fortalecimento da democracia.
Faça um breve retrospectiva da sua carreira política.
Murilo: Comecei como Secretário de Planejamento da Prefeitura de Dourados, quando tive a oportunidade de visualizar a dimensão social e econômica embutidas no trabalho feito a partir do município. Foi uma autêntica escola.
Depois fui eleito duas vezes seguidas Deputado Estadual, quando tive o privilégio de ampliar a visão do poder que a representação política tem sobre os destinos de um Estado do tamanho e da importância geopolítica de Mato Grosso do Sul. Foi a segunda grande escola que freqüentei, sempre preocupado em honrar compromissos assumidos e em desempenhar minhas funções com dignidade e honra.
O terceiro passo da minha carreira política teve início com minha eleição para Deputado Federal, logo após o meu ingresso no PFL, partido que me acolheu como parte de um amplo acordo político entre o PSDB e o PMDB para costurar a candidatura de André Puccinelli ao Governo do Estado.
Compensa rememorar. Todos ainda se lembram que, quando o André decidiu não sair candidato a governador nas eleições de 2002, preferindo permanecer como Prefeito de Campo Grande (e eu seria indicado candidato a Vice-Governador na chapa encabeçada pelo André), todos tivemos que fazer um grande esforço para viabilizar outra candidatura, terminando na escolha da Marisa e do Marçal Filho pelo PSDB e o PMDB.
Naquele momento tive pouco tempo para pensar e decidir sobre minha candidatura a Deputado Federal. Mas num disputado pleito, fui eleito Deputado Federal pelo PFL e, logo em seguida, recebi do comando nacional a responsabilidade de presidir e organizar o PFL em Mato Grosso do Sul.
Minha terceira grande escola foi a Câmara dos Deputados, em Brasília, como vice-líder. Ali tive a oportunidade de participar dos grandes debates políticos nacionais e, como membro da CPI dos Correios, constatar, de corpo presente, a gravidade da situação nacional em função da corrupção que gravita e alimenta o funcionamento de parte do poder político nos últimos anos.
Lutei, questionei, sugeri e briguei para que a moral e a ética substituíssem a malversação do dinheiro público e, no lugar da indolência e da falta de iniciativa, o governo federal tivesse uma proposta de crescimento econômico com a geração de novos e melhores empregos. Essa postura sintetiza o pensamento do Partido da Frente Liberal.
Entre 2002 e 2006, como Presidente do PFL-MS, consegui, com a ajuda de várias lideranças e o envolvimento de uma militância em formação, organizar o Partido da Frente Liberal em 73 municípios do Estado de Mato Grosso do Sul.
A minha eleição como vice-governador na chapa encabeçada pelo André Puccinelli, é fruto do trabalho político de todos esses anos. O André disse, quando formalizou o convite para o PFL indicar o candidato a vice-governador, que fazia questão da minha presença em sua chapa, “para que eu pusesse toda a minha experiência empresarial e política a serviço do desenvolvimento do Estado de Mato Grosso do Sul”.
Posso dizer, com tranqüilidade, que a imagem que a população de Mato Grosso do Sul tem da minha pessoa como político é muito boa. Se de um lado essa imagem é agradável para mim, ela impõe a responsabilidade de continuar trabalhando com determinação e seriedade pelos interesses maiores da população do nosso Estado.
Com a mudança do PFL para Democratas, o que o novo partido traz em termos de propostas e princípios?
Murilo: O PFL teve uma participação muito forte para implantar e consolidar a democracia representativa no Brasil. Eleições periódicas e respeito à Constituição e demais leis é fundamental para consolidar o Estado de Direito.
Hoje a população brasileira está acostumada com a idéia de que todo governo eleito governa e assume as suas responsabilidades. Poucas horas após uma eleição, os resultados das urnas são conhecidos, e ninguém contesta, ninguém reclama. O PFL teve uma participação muito forte para introduzir o Estado de direito no Brasil e implantar o modelo de governo democrático que presenciamos.
Mas estes objetivos foram atingidos. O modelo está esgotado. O momento exige que repensemos um novo horizonte para o trabalho político do Partido da Frente Liberal. O Democratas representa esse nov desafio. O objetivo agora é fortalecer a democracia e promover o crescimento econômico com justiça social. Para isso temos:
– um compromisso com todas as formas de liberdade e, paralelamente, combatemos todas as formas de autoritarismo que venha cercear essas liberdades;
– um compromisso com a ampliação da qualidade de vida do cidadão brasileiro;
– o compromisso de conter o aumento sem necessidade da carga fiscal e não permitir que o Estado amplie seus domínios sobre as atividades econômicas;
– mas afirmamos nossa disposição de luta para que o interesse social prevaleça sobre o individual;
– o democratas prega que o crescimento econômico é feito para servir a todas as famílias brasileiras, sem distinção de raça, situação econômica e credo;
– o democratas é fiel aos interesses nacionais, à preservação da nossa identidade cultural e ao nosso desenvolvimento científico e tecnológico;
– o democratas entende que governar é uma atividade essencialmente ética; vai lutar para que a população confie nos políticos, preservando a credibilidade de nosso sistema representativo e a participação do povo no planejamento e nas ações de governo; essas atitudes são essenciais para o êxito da administração pública;
– plural, democrático e aberto, o Democratas lutará pela reforma política e por uma nova Constituição capaz de consolidar as nossas instituições democráticas e consagrar as transformações surgidas da temperatura das cidades e do campo.
Como Presidente do Democratas em Mato Grosso do Sul, o senhor pode nos adiantar se haverá reorganização do novo Partido?
Murilo: Já iniciamos essa reorganização por Costa Rica, Chapadão do Sul, Cassilândia, Paranaíba e Inocência;
Em poucos dias, iremos a Sidrolândia, Maracajú, Itaporã e Vicentina discutir com nossas lideranças a nova maneira de fazer política do Democratas, centralizada em fidelidade partidária, compromisso com a democracia e disposição de trabalhar dia e noite pelo crescimento da economia de mato grosso do sul a partir dos municípios.
O PL se tornou PR, Partido da República. E o PFL se tornou Democratas. Há alguma mudança na filosofia partidária, uma vez que os dois partidos eram liberais e agora teoricamente estão com pensamentos opostos? Quem mudou? O PL ou o PFL, já que nos Estados Unidos os Democratas e os Republicanos têm pensamentos antagônicos?
Murilo: Essas mudanças fazem parte da tentativa de ajustamento dos dois partidos à realidade nacional. Não vejo antagonismo entre um e outro, mas preocupação em servir ao país por intermédio da representação política. Mudança de enfoque, diferentes compromissos, diretrizes e novos estatutos são armas políticas que os dois partidos estão utilizando para procurar servir bem ao país.
Em sua opinião essa mudança de nome representa a vontade do Partido de fazer a reforma partidária?
Murilo: A mudança de nome representa a decisão do partido em investir pesado na ampliação da democracia, no respeito ao cidadão que trabalha e paga impostos, e no crescimento econômico do Brasil.
Claramente, a sociedade brasileira há tempos clama por uma ampla reforma política, que facilite a transparência do “atividade governar com responsabilidade e determinação”, e democratize o acesso da juventude e da inteligência nacional aos cargos públicos eletivos.
O partido mudou de nome para fortalecer a sua imagem perante o eleitor e o senhor é vice-governador do Estado, cujo governo vem sofrendo um desgaste atribuído à abolição de alguns projetos sociais. O senhor acha que isso pode afetar a sua imagem e, conseqüentemente, a imagem dos Democratas?
Murilo: O que o governo André Puccinelli vem fazendo, é imprimir um mínimo de organização em uma estrutura administrativa repleta de vícios e relativamente acostumada com a ociosidade.
O governo está preocupado com suas responsabilidades – dentro delas o ajustamento fiscal é prioridade máxima – não se pode assumir despesas sem a certeza que haverá receitas para pagá-las nas horas acordadas.
Estou convencido que a imagem do PMDB, do Democratas e do psdb sairá fortalecida após essa administração, até porque o povo gosta de ver um governo compromissado com trabalho e disposto a colocar e a premiar o trabalho como fator de crescimento da economia sul-mato-grossense.
Senhor contribuiu muito para a formação da coalizão que elegeu o atual Governador, principalmente abdicando da candidatura para o Senado. Na sua opinião, o Democratas tem um espaço no governo do tamanho da sua contribuição na campanha?
Murilo: Estou convencido da importância do PFL, hoje Democratas, para o fortalecimento daquela coligação e, conseqüentemente, para a eleição do governador André Puccinelli. Igualmente, estou seguro das minhas reais possibilidades se tivesse mantida a decisão de candidatar-me ao Senado.
Mas o desafio maior não era a minha eleição para o Senado, mas entender que para o sucesso de toda aquela coligação e desse projeto, alguém teria que ceder mais.
Sei que o espaço que o Democratas ocupa na estrutura do governo não guarda relação com a nossa importância para o sucesso eleitoral da coligação, mas a questão central, válida para todos os partidos, incluindo os deputados eleitos, é que faltou espaço, a demanda foi bem menor que a oferta e, por aí, todos ficamos insatisfeitos com nossos espaços.
Na sua história política o senhor defendeu ações de inclusão para os indígenas. Sendo da região de Dourados, na sua opinião o que deve ser feito para resolver o problema da desnutrição nas aldeias indígenas da região?
Murilo: Penso que a causa indígena deve ser a preocupação de todos os governantes, seja em nível nacional, estadual ou nos municípios. Acredito que com uma estrutura melhor de trabalho a Funai e a Funasa, com apoio dos governos estadual e municipal pode vencer estas dificuldades.
Ainda falando de Dourados. A aliança que elegeu o Governador André se repetirá nas eleições municipais de 2008? O senhor pretende disputar a prefeitura em 2008?
Murilo: Este não é o momento de se discutir eleição para prefeito. Acabei de ser eleito vice-governador e o meu compromisso junto com o André é de administrar Mato Grosso do Sul. Estamos enfrentando este momento difícil de recolocar as finanças do Estado em ordem para criar condições de fazer os investimentos necessários para garantir o desenvolvimento, a geração de empregos e de renda. Nosso desafio é construir um novo tempo para Mato Grosso do Sul.
As discussões sobre a sucessão em Dourados passam pelos partidos, pelas lideranças locais, pelas políticas de aliança, mas penso que isso tem que ser discutido no tempo certo. A eleição é só no ano que vem.