2007-04-15 09:12:00
Para entender o efeito da queda do dólar na economia, é preciso ter em mente que a valorização do real tem dois lados: é benéfica para o consumidor, que paga menos pelos produtos importados, mas prejudica setores produtivos que sofrem a concorrência direta dos produtos vindos de fora. E são justamente os segmentos que mais empregam – calçados, vestuário e eletroeletrônicos – os mais afetados pelos produtos importados.
Segundo o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Edgar Pereira, a queda do dólar ajudou a reduzir preços e, conseqüentemente, elevou a renda do trabalhador brasileiro. Por outro lado, ela está afetando justamente os setores da indústria que são grandes geradores de emprego. Para evitar o aumento do desemprego, o governo federal está traçando um plano para reduzir os encargos trabalhistas pagos pelos setores que têm os maiores prejuízos com o crescimento dos importados.
De acordo com Pereira, as estatísticas oficiais já mostram uma contradição: a produção industrial continua a crescer, enquanto o nível de emprego diminui. “Quando você olha no curto prazo, a renda do trabalhador sobe (com a queda do dólar). Mas no médio e longo prazo há um efeito negativo. Para que o consumidor possa se beneficiar de um dólar mais barato ele tem de estar empregado”, diz Pereira.
Mais importações – Por enquanto, os números mostram que o brasileiro, pelo menos enquanto pode, está aproveitando a invasão de importados. Em março, as compras do exterior cresceram em todas as categorias de produtos, principalmente no caso de bens de consumo (44,6%), como eletroeletrônicos, perfumes e vestuário. O aumento na importação de alimentos e roupas chega perto dos 40%. O crescimento das compras de produtos de higiene e beleza ultrapassou os 70%, segundo dados da balança comercial.
Para quem tem dinheiro para gastar, o efeito da queda do dólar, que está perto de R$ 2 pela primeira vez em seis anos, é na verdade duplamente positivo: o aumento da concorrência de produtos de fora também ajudou a baixar o preço de mercadorias nacionais voltadas para a exportação. Esse efeito pode ser visto, por exemplo, na queda de preço de produtos eletrônicos e no aumento do consumo de alimentos mais caros, como bacalhau e camarão.
Outro setor beneficiado foi o turismo. O número de turistas brasileiros que viajaram para os EUA cresceu 50% entre 2003 e 2006. O número de passageiros que voaram para o exterior cresceu quase 20% no mesmo período, segundo o Ministério do Turismo.
Taxa de juros – A taxa de juros brasileira é apontada como a maior responsável pela queda do dólar. Até por isso, cresceu a aposta de que o Banco Central deve acelerar novamente no segundo semestre o ritmo de corte na taxa Selic. Nesta semana, empresários reunidos em Brasília disseram que, caso o juro real caia no Brasil, o dólar vai automaticamente subir.
A teoria é correta, de acordo com Daniel Gorayeb, analista de investimentos da Spinelli Corretora, a forte queda do risco-país nas últimas semanas aumentou ainda mais a entrada de dólares no Brasil. “A queda do risco deveria fazer com que os juros também caíssem. Isso ajudaria a diminuir a diferença de juros com outros países e faria com que esse fluxo de dólares ficasse menos intenso”, explica.
Ele diz acreditar que a queda dos juros e a redução no saldo da balança comercial brasileira, devido ao aumento das importações, ajudem a levar o dólar para um nível “mais equilibrado” até o final do ano, próximo de R$ 2,10. “Não dá para dizer exatamente se o dólar vai ficar abaixo dos R$ 2, mas a expectativa é que ele volte a subir até o final do ano”, diz.