2007-04-11 21:28:00
No centro de Campo Grande, na Rua Dom Aquino, poucas quadras acima da Estação Rodoviária. É o endereço de uma clínica que faz abortos por cerca de R$ 5 mil. O flagrante foi revelado na noite desta terça-feira em reportagem do Jornal da Globo. Com uma câmera oculta, foi filmado todo o atendimento.
Na clínica, que se apresenta como sendo de planejamento familiar, a paciente paga R$ 120 pela consulta e é encaminhada para uma psicóloga. Simone Souza foi a primeira pessoa no atendimento a usar a palavra aborto. Ela fez um trabalho de convencimento e informou o valor, que varia de acordo com o estágio da gestação. “O valor do procedimento é de R$ 5 mil", diz. Ao perceber a reação, aconselha a paciente: "Respira”.
A psicóloga diz que faz orientação sexual; a médica dona da clínica, Neide Mota Machado, recomenda contraceptivos, e ainda assim mulheres voltam, novamente grávidas. “Aí já é sacanagem”. As pacientes, disse Simone, são mulheres que os namorados, maridos e amantes- “na maioria das vezes”- rejeitam a gravidez.
“Todo mundo é contra…até o momento que a gente vê a necessidade de a gente fazer”, argumenta. Ela explica que o procedimento dura cerca de três horas. É colocada uma cânula no útero para aspirar o feto. É retirada uma bolha de sangue, “do tamanho de uma ervilha”, explica. Ela afasta questões morais, dizendo que seria uma vida ainda em formação, comparando a um “feijãozinho” brotando. Procurada depois da gravação com câmera oculta, a psicóloga disse que não trabalha mais na clínica.
A médica atendeu a reportagem da TV Morena, que produziu a matéria. Neide Mota Machado admitiu que realiza abortos há cerca de 20 anos.Disse que faz o procedimento, proibido por lei, com punição prevista no Código Penal, para oferecer um atendimento seguro.
Segundo a médica, mulheres que não podem pagar colocam a saúde em risco. “Se elas não têm onde fazer bem feito, vão fazer mal feito e vão morrer”, disse à reportagem. E prosseguiu, dizendo que muitas “perdem a vida, o útero, deixam os filhos pequenos”.
Ao fim, a médica defende mudança no Código Penal, com a regularização do aborto, que no Brasil só é permitido em caso de risco de vida para a gestante ou estupro. O enquadramento na lei é para a mulher que faz, quem realiza o procedimento e quem ajudar a gestante. Se houver dano à saúde a pena é ampliada e agravada em caso de morte.
Esta manhã, a reportagem do Campo Grande News tentou em mais de uma ocasião contato telefônico com a clínica. O número só sinalizava ocupado.