2007-03-14 11:03:00
A Fundação Nacional do Índio (Funasa) registra mais uma morte de criança desnutrida, na Reserva Indígena de Dourados. No atestado de óbito assinado no domingo consta que Rogério, de 1 ano de dois meses, morreu vítima de desidratação grave causada por uma diarréia infecciosa, explica o médico coordenador do distrito sanitário especial indígena, o pediatra Zelik Trajber.
Segundo ele, o bebê vinha recebendo tratamento contra desnutrição moderada, ficou desidratado e só foi encaminhado ao hospital pela família quando o quadro já era bastante grave.
O menino esteve internado entre os dias 6 e 10 de março até que sua mãe o retirou do Hospital da Missão sem licença médica. “Ela desapareceu, não foi encontrada em lugar nenhum e a família só contatou a equipe da Funasa na segunda-feira, quando a criança já estava morta há horas”, diz Zelik. O médico enfatiza que, apesar do quadro de desnutrição moderada, Rogério poderia ter reagido, não fosse pela resistência da família que não cooperou com o tratamento. A criança, que já deveria ter cerca de dez quilos no mês passado, estava com 7,55 quilos e ao dar entrada no Hospital da Missão já teria perdido peso.
CAOS NAS ALDEIAS
O cacique guarani Carlos Antônio Duarte, conhecido na Aldeia Jaguapiru como Piritita, contatou a redação do Douradosagora e O PROGRESSO para denunciar o caos instalado na Reserva de Dourados.
Piritita cobra a Fundação Nacional do Índio (Funai) pela falta de segurança nas terras indígenas que acaba incentivando o tráfico de drogas, álcool e, segundo ele está acabando com a vida dos nativos e atingindo diretamente “as crianças menores que acabam doentes e desnutridas”. Ele menciona a gravidez precoce e também o uso de álcool cada vez mas cedo, especialmente entre as mulheres.
Desde o inicio deste ano, quatro crianças morreram nas aldeias Bororó e
Jaguapiru. Zelik reforça que a desnutrição associada a outras causas respondem pelos óbitos. No dia 25 de fevereiro, um outro menino morreu na Aldeia Bororó, vítima de desnutrição. Antes dele, foram mais duas crianças. A Funasa confirma até três mortes.
O Pólo Indígena de Dourados, que inclui as aldeias Bororó, Jaguapiru, Lagoa
Rica, Panambizinho, Porto Cambira e acampamentos, têm hoje 2.500 crianças
com menos de cinco anos. Cerca de 2% são vítimas de desnutrição grave e outros 6%, moderada, diz Zelik.
No ano de 2003, a Funasa atendia 60% das crianças abaixo de cinco anos.
Naquele ano, registrava-se 14,58% de crianças com desnutrição grave ou
moderada e 16% em situação de risco nutricional. Em 2006, a cobertura aumentou para 95%, com 8,22% de desnutridos e 14% em risco.
Zelik acrescenta que em 2006, a prematuridade foi a primeira causa de óbitos de crianças abaixo de um ano, com 11 mortes, cinco por prematuridade extrema.
No pólo de Dourados, existem hoje 510 crianças indígenas na faixa de seis
meses a dois anos, diz Zelik. Cerca de 30 têm desnutrição grave. Elas são monitoradas diariamente por agentes de Saúde da Funasa que vão até as casas das famílias. Em torno de 180 estão com desnutrição moderada e outras 300 estão em situação de risco nutricional, calcula o médico Zelik Trajber.