2007-01-16 07:35:00
Vilson Nascimento
Em Amambai, município que abriga três aldeias e uma população estimada em 10 mil índios guarani-kaiowá, índios de várias as idades perambulam pelas ruas, pedindo esmola e revirando latas de lixo a procura de restos de comida para se alimentarem por não terem a quem recorrer.
Na cidade também está se tornando cada vez mais comum as pessoas se depararem com indígenas embriagados caídos pelas calçadas, muitas vezes com crianças pequenas nos braços, passando fome e frio. Na tarde desse domingo, 14, mais um triste capítulo dessa história se repetiu.
Moradores da região da Vila Cristina em Amambai, depois de manterem contatos com vários órgãos do município, a Polícia Militar, o Corpo de Bombeiros Militar e a Funasa (Fundação Nacional de Saúde) e não ver o problema ser resolvido, entraram em contato com a nossa reportagem para denunciar que um casal de indígenas embriagados e com uma criança, estavam caídos por várias horas no meio da rua na região da citada vila.
Segundo os moradores o menino havia caído em uma poça de lama e estava completamente encharcado, a ponto de contrair uma doença, foi quando as pessoas tomaram a iniciativa de limpar e trocar as roupas do garoto.
Só após nossa reportagem chegar ao local, uma equipe da Funasa, que segundo os moradores da região, já havia passado pelo local, mas não teria solucionado o problema, retornou ao local, recolheu os indígenas, que segundo a Fundação Nacional de Saúde eram “desaldeiados” e residiam na região da própria Vila Cristina em Amambai e levaram para sua casa.
Atribuições e Responsabilidades
Todos os setores, a polícia, o Corpo de Bombeiros e a própria Funasa se isentam da responsabilidade em atender indígenas abandonados e em estado de embriagues e apontam a Funai (Fundação Nacional do Índio) como sendo o órgão responsável por realizar tais atendimentos.
As polícias Civil e Militar informam que têm agido em todos os casos que estão dentro se suas atribuições como espancamentos, tentativas de homicídios, estupros e homicídios. Já o Corpo de Bombeiros Militar informou que também não se furta em atender os casos de emergência envolvendo indígenas na cidade, mas afirma não ser de sua atribuição prestar atendimento em caráter social.
A Funasa (Fundação Nacional de Saúde) também se isenta da responsabilidade em prestar assistência a índios embriagados e mendigos e atribuem essa função a Fundação Nacional do Índio. De acordo com a Funasa, que é a responsável pela saúde indígena, as equipes de plantão na CASAI (Casa do Índio), uma casa de apoio que fica em perímetro urbano da cidade em Amambai, atende sim indígenas que estejam perambulando pela cidade, mas desde que estejam visivelmente doentes ou feridos por conta de alguma agressão. “Nesses casos socorremos, encaminhamos ao hospital e prestamos acompanhamento”, disse um funcionário da Funasa ao ressaltar que a CASAI é um centro de recuperação de indígenas que recebem alta de hospitais e necessitam de atenção especial.
“Abrigamos aqui indígenas de várias as idades, inclusive muitas crianças e índias jovens. Se colocarmos um indígena embriagado aqui dentro, estaremos colocando em risco a segurança dessas pessoas”, concluiu o funcionário.
Funai Reconhece Deficiência
A Funai (Fundação Nacional do Índio) reconhece que o problema existe, mas afirma não ter como manter uma equipe de plantão para atender esses tipos de casos por falta de pessoal e recursos financeiros.
Segundo o órgão federal, que é responsável pela tutela do índio em todo o território nacional, o correto seria manter uma equipe de plantão permanente, durante todos os dias da semana para atender casos de índios abandonados, praticando pequenos furtos e embriagados perambulando pelas ruas, mas a sede regional do órgão em Amambai não tem condições de oferecer essa assistência atualmente, principalmente por falta de efetivo.
“Essa reivindicação é antiga, não só da sociedade, mas também das autoridades públicas de Amambai. Nos últimos meses do ano passado tivemos aqui o Moacir Andrade que atendia esses tipos de situação, mas com seu retorno para Cuiabá o setor ficou vago e os problemas voltaram a surgir”, disse Cleomar Vaz Machado, diretor do SPRIMA (Setor de Patrimônio Indígena e Meio Ambiente) da sede administrativa regional da Funai em Amambai ao informar também que está na meta da instituição, criar ainda esse ano, um serviço de plantão na Funai em Amambai, que estará interagindo com os mecanismos de segurança pública local para atender com exclusividade, casos dessa natureza em Amambai.