2011-01-07 15:48:00
O tabagismo é o principal fator de risco de morte modificável no mundo.A influência do tabagismo no idoso ocorre por alterações anatômicas e funcionais de um processo acumulativo.
Tal processo causa: disfunção endotelial (endotélio é o revestimento interno das artérias, o qual produz o óxido nítrico, substância capaz de dilatar os vasos); aumento da adesividade plaquetária (predispondo à formação de trombos ou coágulos sanguíneos); diminuição do HDL-colesterol ("colesterol bom"); e aumento do LDL-colesterol ("colesterol ruim"), entre outras alterações.
Apesar dos malefícios do tabagismo na terceira idade, idosos apresentam maior probabilidade de sucesso quando tentam parar de fumar.
Estudos demonstraram que o efeito negativo do tabagismo perdura no envelhecimento.
Um estudo americano realizado em Chicago, analisou a mortalidade por doença cardiovascular em 2.674 pacientes entre 65-74 anos, e verificou que sua incidência era 52% maior em tabagistas do que em não tabagistas ou ex-tabagistas.
Outro estudo, o Systolic Hypertension in the Elderly Program Study, avaliou pacientes com idade média de 72 anos e constatou aumento significativo de infarto do miocárdio (ataque cardíaco), morte súbita e acidente vascular cerebral (derrame cerebral) em fumantes em comparação a não fumantes.
O estudo Established Populations for Epidemiologic Studies of the Elderly observou, realizado com 7.178 idosos de ambos os sexos (50% acima de 75 anos), demonstrou os resultados benéficos da interrupção do hábito de fumar, mesmo no idoso tabagista de longa data: o risco de mortalidade cardiovascular entre os ex-tabagistas idosos equiparou-se ao risco de mortalidade dos idosos que não fumavam. Esse efeito ocorreu também entre os pacientes acima de 75 anos.
O estudo INTERHEART demonstrou que tabagismo é um fator de risco para infarto do miocárdio entre os idosos, embora com menor risco relativo do que entre os mais jovens.
O “tabagismo passivo” é um importante problema de saúde pública.O tabagista passivo é representado por indivíduo não fumante exposto ao fumo em ambientes fechados.
A exposição a longos períodos de tabagismo passivo aumenta o risco de desenvolver doença arterial coronariana (formação de placas de gordura na parede das artérias do coração).
O pesquisador japonês Kawachi e seus colaboradores seguiram por 10 anos 32 mil mulheres não tabagistas, com idade entre 36-71 anos, e constataram que o risco relativo de desenvolver doença arterial coronariana aumentou para as mulheres expostas ao fumo.
A exposição ocasional ao cigarro aumentou seu risco relativo em 58%, enquanto que a exposição regular aumentou o risco relativo em 91%.
O tabagismo passivo tem sido negligenciado principalmente entre idosos que, não esclarecidos pelo médico, deixam de evitá-lo.
O abandono espontâneo do tabagismo não é fácil nem habitual, dada a dependência física e psíquica.
Por se tratar de um hábito crônico, o idoso está menos propenso a abandonar o tabagismo do que os pacientes mais jovens.
Na maioria das vezes, considera como interferência em seus hábitos, e não como preocupação da equipe de saúde com a melhoria de sua qualidade de vida.
Estudos mostram que os fumantes idosos apresentam menor intenção em abandonar o cigarro se comparados aos jovens; no entanto, apresentam maior probabilidade de sucesso quando tentam parar de fumar.
Com frequência, o sucesso na interrupção é obtido após um evento coronário agudo, como o infarto do miocárdio, agravamento de doença pulmonar obstrutiva crônica, como a bronquite crônica e o enfisema pulmonar, ou por doença vascular periférica sintomática e limitante (obstruções das artérias das pernas por placas de gordura na parede das artérias).
O aconselhamento médico para a cessação do fumo deve ser firme, com ênfase nos benefícios em curto e médio prazo.
Práticas agressivas relacionadas à suspensão do tabagismo devem ser adotadas.
Evidências mostram eficácia em idosos na utilização do “método dos 4 ‘A’”: Averiguar (ask); Aconselhar (advise); Ajudar (assist); e Acompanhar (arrange follow up).
Diversas abordagens, tais como intervenções por meio de aconselhamento individual realizado por profissionais de saúde, materiais de autoajuda adequados para a faixa etária, utilização de nicotina (adesivos transdérmicos ou goma de mascar) ou emprego de medicamentos específicos (como, por exemplo, a bupropiona, um antidepressivo), vêm se mostrando eficazes no tratamento do tabagismo em idosos.(Sociedade Brasileira de Cardiologia)