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sexta-feira, 19 de abril de 2024

Pesquisa analisa perfil de praticantes de barebacking

2009-08-22 10:17:00

Um estudo realizado pelo psicólogo Luís Augusto Vasconcelos, da Universidade Federal do Vale de São Francisco, em Pernambuco, analisou o perfil e os motivos que levam homens brasileiros a praticarem barebacking – sexo desprotegido entre homens de forma intencional, conscientes da possibilidade de contrair o vírus HIV.

O aumento da prática no Brasil foi denunciado pelo JB em uma série de reportagem publicadas em janeiro ro desse ano. O pesquisador analisou, por entrevistas online, durante mais de um ano, os hábitos de 30 homens de diferentes idades e regiões do país, principalmente São Paulo e Rio de Janeiro.

A maioria dos entrevistados era profissional de nível superior e estudantes universitários que disse não se importar com a possibilidade de contrair HIV, mas apenas três deles eram soropositivos. Um deles chegou a terminar a relação com o parceiro soropositivo que se negou a fazer sexo sem preservativo.

“Não necessariamente porque ele queria contrair HIV, mas porque ele repudiava os limites impostos pelo parceiro na relação”, explica o autor, que afirma ser um equívoco as pessoas acharem que os praticantes de barebacking necessariamente querem contrair o vírus HIV. A seguir, trechos da entrevista com o autor de Desejo à flor da pel@: a relação entre risco e prazer nas práticas de barebacking, primeira tese de doutorado no país que aborda o tema e publicada pelo Cadernos de Saúde Pública da Fiocruz.

Como foi realizada a pesquisa?
Em 2006 eu comecei a acompanhar comunidades e grupos de discussão tanto no oculto, quanto na comunidade que havia no yahoo group. Falei com as pessoas que era uma pesquisa de doutorado, que não tinha nenhum interesse na prática.

Aí elas me cadastravam no MSN e eu realizei essas entrevistas on-line. Houve pessoas que a conversa on-line durou mais de duas horas, algumas tinham dúvida se realmente praticavam o barebacking. Havia os que praticavam sexo desprotegido mas tinham dúvida se o que estavam fazendo era o barebacking, quanto a intencionalidade do ato.

Afinal, qual a maneira correta de definir a prática de barebacking?
Hoje você já encontra o conceito muito diluído, muito difuso. Na verdade alguns se definem como praticantes do barebacking só porque praticam sexo sem camisinha. Outras pessoas são mais claras e afirmam que o barebacking ocorre só quando envolve a intencionalidade. Ou seja, decididamente já aboliram a camisinha.

As pessoas sabem que correm o risco. Muitas delas, no entanto, não querem, conscientemente, contrair o vírus. Alguns definem o barebacking como qualquer sexo desprotegido, Essa é a definição mais precisa.

Com base em sua pesquisa, qual o perfil do praticante de barebacking no Brasil?
É uma questão difícil de falar. Você tem desde pessoas mais jovens, com 18 anos, a pessoas com mais de 40 anos. Você tem um número grande de jovens que começam a praticar. Peguei pessoas com idades bem distintas, mas eram basicamente entre 18 a 40 anos. A classe social talvez seja o que está diferenciando.

São pessoas esclarecidas que transitam na internet. Pertencem à classe média, média alta, pessoas com instrução, que estão em grandes centros urbanos, têm poder aquisitivo, sabem inclusive as forma de infecção, as consequências.

Quais os motivos que levam esses homens a praticarem o barebacking?
O principal motivo é a busca de prazer imediato, livre, sem obstáculos, sem limite. Sexo livre, prazer imediato, maior contato, maior intimidade. Lógico que há também uma discussão, que também desenvolvo na minha pesquisa, sobre a vontade de transgredir a norma, ou seja, ir de encontro a um discurso de questionamento imperativo da saúde, do sexo seguro, sempre. Então tem essa questão também de transgressão, ir de encontro a proibição, contra a normatização do sexo seguro, da saúde.

A qualidade do tratamento de Aids no Brasil faz com que os praticantes sintam-se mais seguros?
As pessoas acham a Aids não mata mais. Elas sabem que podem ficar bem com medicamento e não vão morrer. É realmente uma justificativa que aparece no meio desses outros aspectos – a questão do prazer, da liberdade. Então o outro aspecto também é esse – a Aids não mata mais. Não estou falando que é só isso, mas para algumas pessoas essa é uma justificativa importante.

As pessoas entrevistadas faziam os exames de HIV rotineiramente?
Alguns, sim, outros, não. Alguns não queriam mais fazer porque achavam que já tinham o vírus. Outros não faziam porque diziam que o resultado não o fariam mudar a prática. Era uma ânsia de não estar, a resposta sempre dava uma adrenalina, um sentido de “continuo sem ter o vírus”, de ser mais forte do que a doença, do que a infecção, para superar limite, tudo isso aparece.

Algum desses praticantes começou a praticar porque queria morrer mas não tinha coragem de se matar?
Isso apareceu em alguns momentos. Eles queriam morrer porque não estavam satisfeitas com a vida. Mas depois que constatam que a Aids não mata, o barebacking deixa de ser uma questão de morte e passa a ser só prazer.

Elas diziam: “Ah, a Aids não mata”. E eu questionava: “Então por que você faz isso?”. E elas diziam: “É porque é o único prazer que tenho na vida”. A questão sexual aparece como um prazer importante na sua vida.

Os praticantes usam drogas?
Em alguns desses encontros a droga aparece. Veja bem: quem pratica, não necessariamente o faz em grupo. Há pessoas que praticam com apenas um parceiro. Mas em alguns encontros aparecem as drogas. Não necessariamente todos usam, mas a droga é disponível. Digamos que faz parte do cenário.

O senhor diz que muitos fazem os exames e depois sentem a sensação de que venceram a morte e que são mais fortes do que a doença. Mas tem também os que ficam tristes e deprimidos, porque não adquiriram o vírus?

Nenhum dos meus entrevistados sentiram isso. Há uma confusão de que as pessoas que praticam o barebacking querem adquirir o vírus. É um equívoco. Elas são indiferentes ao vírus, querem apenas o sexo livre, só o prazer, não querem nem ficar pensando.

O vírus aparece como uma consequência, um efeito, uma possibilidade. Evidentemente, existe uma tensão constante entre o risco da infecção e o prazer que a prática oferece. Talvez seja esta ambiguidade que faz com que o barebacking instigue tantas pessoas.

No estudo um dos entrevistados fala que perdeu o prazer com o parceiro porque este era soropositivo e recusou-se a fazer sexo sem preservativo…

Ele perdeu o prazer porque o parceiro estava colocando limite. Ele queria realizar o sexo sem camisinha e o parceiro estava impondo limite. Então ele se aborreceu.

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