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quinta-feira, 25 de abril de 2024

Medo de morrer, de matar e de se contaminar…

2017-10-13 07:06:00

Para a maior parte das pessoas, uma toalha, um jornal ou sapatos não são nada além de objetos comuns. Mas, para algumas pessoas, itens como estes podem desencadear pensamentos invasivos difíceis de serem controlados.

Se você não tem o transtorno obsessivo compulsivo (TOC), pode ser difícil entender como um objeto inofensivo pode atrapalhar o cotidiano de uma pessoa e colocá-la em uma espiral incontrolável.

Este distúrbio de ansiedade é caracterizado por pensamentos invasivos, recorrentes e persistentes que geram inquietação, medo e preocupação, e desencadeando compulsões – comportamentos repetitivos com os quais os pacientes tentam reduzir sua ansiedade.

É um transtorno mental comum, de acordo com o serviço de saúde pública do Reino Unido (NHS, na sigla em inglês). Ele afeta homens, mulheres e crianças e pode desenvolver-se em qualquer idade, embora apareça com mais frequência no início da idade adulta.

A BBC falou com três pessoas que sofrem de TOC e pediu-lhes que apontassem para um objeto que simbolizasse todo o seu sofrimento.

Estas são suas histórias, contadas em primeira pessoa.

Eve e os jornais

"Sempre pensei o pior de mim mesma. Na minha melhor avaliação, eu era um fracasso que não agradava e que não deveria agradar a ninguém. Na pior das hipóteses, eu era uma pessoa terrível.

Mas, quando eu tinha 22 anos, o ódio que sentia por mim mesma piorou ainda mais.

Comecei a me preocupar com a possibilidade de que isso me tornasse uma pessoa perigosa, que eu pudesse machucar os outros.

Não consigo descrever quão horrível era esse sentimento. Comecei a evitar todo mundo, com medo de que pudesse machucar alguém.

"IlustraçãoDireito de imagemGETTY IMAGES
Image caption'Artigos de jornais – e as próprias notícias – juntaram-se à longa lista de coisas que eu temia', diz Eve

Um dia eu li um artigo sobre um estuprador e assassino. A agitação inicial e o horror que senti foram rapidamente substituídos pela ideia de 'e se eu me tornasse uma pessoa tão ruim assim?'.

Artigos de jornais – e as próprias notícias – juntaram-se à longa lista de coisas que eu temia.

E se as histórias de alguma forma contaminassem minha mente e me piorassem ainda mais?

Para alguém que não possui TOC e tem uma opinião razoável de si mesmo, isso pode parecer ridículo. Mas fazia todo o sentido para mim.

Então comecei a evitar os jornais. Não passava por lojas que os vendessem, nem os tocava, e também evitava pensar neles.

Viajar a trabalho de trem tornou-se algo horrível. Eu mantinha minha cabeça para baixo e balançava-a constantemente para tentar livrar-me de qualquer imagem que pudesse ter visto acidentalmente. Fiquei presa na minha própria bolha de medo.

No final, consegui superar minha desordem com terapia cognitivo-comportamental e com psicoterapia. Ainda é um problema para mim às vezes e ainda tenho muita ansiedade, mas aprendi a ser minha própria psicoterapeuta e a desafiar meus medos.

Espero que as pessoas compreendam que o TOC é exaustivo e realmente pode fazer você se odiar.

Não confiar em si mesmo, ter de lutar constantemente contra pensamentos indesejados e criar compulsões que você sabe não fazerem sentido, tudo isso explode sua autoestima."

Alice e os sapatos

"Sei que meus pensamentos são irracionais, mas não posso controlá-los. A cada minuto de todos os dias, imagens assustadoras de infecções vêm à minha mente. As pragas de insetos são o meu maior medo. Se meus pensamentos se transformassem alguma vez em realidade, creio que ficaria tão ansiosa que não poderia respirar.

"SapatosDireito de imagemGETTY IMAGES
Image caption'Volto para casa com os pés descalços', diz Alice, para quem sapatos desencadeiam crises de ansiedade

Os insetos vivem no solo e o solo não pode ser evitado. Então, meus sapatos e meias estão frequentemente contaminados. Se eu vejo algo pelo canto do olho que se parece um inseto, minha ansiedade me golpeia. Meus sapatos e meias ficam imediatamente sujos, mesmo que nunca tenham tocado o inseto imaginário.

Então eu evito tocá-los e frequentemente os tiro e largo na rua, voltando para casa com os pés descalços.

Mas eu tenho que tirá-los sem usar minhas mãos. Eu queria que as pessoas não olhassem para mim quando faço isso. Queria que as pessoas não pensassem que eu sou estranha por isso, mas, acima de tudo, gostaria de ter uma vida normal."

Grace e as toalhas

"Toda vez que eu tiro a toalha de meu corpo, vejo a imagem do meu cadáver sendo transportado em uma maca. E quando você imagina que algo vai acontecer, você acha que isto vai acontecer mesmo. É assim que o TOC funciona.

"MulherDireito de imagemGETTY IMAGES
Image caption'Quando eu aprendi o ponto de vista científico, fiquei sem fé para me proteger da inevitabilidade da morte', lembra Grace

A única maneira de sair dessa sequência de pensamento era pedir que outra pessoa tirasse a toalha da minha vista – assim eu não imaginava meu corpo sem vida ao seu lado.

Este é apenas um exemplo das diferentes maneiras pelas quais meu distúrbio se manifestava.

Eu estudei psicologia e fui diagnosticada quando estava na faculdade. Quando aprendi sobre a teoria da evolução, parei de acreditar em Deus e comecei a pensar em mim como um organismo natural, que não iria ao céu ou ao inferno, mas se decomporia como uma planta.

Agora eu entendo como foi que desenvolvi TOC naquele momento. Como a inevitabilidade da morte é tão esmagadora, nos concentramos em coisas como religião ou política para amortecer o conceito de morte.

Quando aprendi o ponto de vista científico, fiquei sem fé para me proteger da inevitabilidade da morte.

Aprender sobre a evolução combinado com a perda de minha visão de mundo me causou tanta ansiedade que inconscientemente tentei recuperar o controle através de comportamentos obsessivos compulsivos.

Agora, a teoria da evolução me faz sentir mais segura. Aprender sobre como os nossos antepassados Homo sapiens evoluíram e sobre os caminhos que eles fizeram, me ajudou a entender por que eu existo hoje, de onde eu venho e para onde eu vou."

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