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A verdadeira razão pela qual o parto é tão doloroso e perigoso

2017-01-22 23:09:00

Dar à luz pode ser um processo longo e doloroso. E também mortal. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 830 mulheres morrem todos os dias devido a complicações durante a gravidez e o parto.

E este número é 44% menor do que o registrado em 1990, segundo a OMS.

"Os números são simplesmente terríveis", diz o professor Jonathan Wells, do University College de Londres.

"É muito raro que entre os mamíferos as mães paguem um preço tão alto para ter filhos", continua.

Então por que o parto é tão perigoso para o ser humano? Existe algo que possamos fazer para reduzir esta taxa de mortalidade?

Os cientistas começaram a estudar o parto humano em meados do século 20. E logo construíram uma teoria que parecia explicar o que estava acontecendo.

Evolução e parto

O problema começava, disseram, nos nossos mais antigos antepassados da cadeia evolutiva – os Hominini, uma tribo de primatas que faz parte da família Hominidae.

Os fósseis de Hominini mais antigos têm sete milhões de anos e revelam animais com poucos traços em comum conosco, exceto um: andavam eretos sobre duas patas.

Para andar bem assim, o esqueleto do Hominini teve que ser esticado e ganhou uma nova configuração. Isso afetou a sua pélvis.

Na maior parte dos primatas, o canal vaginal, destinado ao nascimento dos filhotes, é relativamente reto.

Nos Hominini, porém, ele logo tornou-se muito diferente. O quadril ficou mais estreito e o formato da vagina foi distorcido – tornou-se um cilindro que varia de largura e forma ao longo da sua extensão.

Assim, os bebês Hominini devem ter tido que se contorcer e virar para passar pela vagina e nascer. E isso tornou o nascimento bem mais difícil que antes.

Mas as coisas ainda iriam piorar. Cerca de dois milhões de anos atrás nossos ancestrais Hominini começaram a mudar novamente.

 

Eles perderam as características dos primatas como o corpo pequeno, os braços longos e o cérebro pequeno.

O 'dilema obstétrico'

Em compensação, ganharam traços mais humanos: ficaram mais altos, com braços mais curtos e cérebros maiores. Esta última característica foi especialmente ruim para as fêmeas Hominini.

As fêmeas tinham que ter a pélvis estreita, com a vagina comprimida, para poderem andar bem sobre as duas pernas. Por sua vez, os fetos estavam desenvolvendo cabeças maiores e foi ficando cada vez mais difícil para os filhotes passar por pélvis tão estreitas.

O nascimento tornou-se doloroso e potencialmente mortal – e continua assim até os nossos dias.

Em 1960, o antropólogo americano Sherwood Washburn deu a esta ideia o nome de dilema obstétrico.

Alguns cientistas, entre eles Wells, não estão satisfeitos com a explicação e começaram a questionar o dilema obstétrico.

Eles acreditam que a teoria de Washburn é muito simplista e que muitos outros fatores também contribuíram para o problema do parto humano.

Holly Dunsworth, da Universidade Rhode Island, ouviu falar do dilema obstétrico quando ainda era estudante de graduação.

"Achava muito interessante e queria encontrar evidências para comprovar o dilema obstétrico", diz. "Mas logo tudo começou a mudar".

O problema eram as análises de Washburn.

"Quando escreveu seu artigo, ele disse que o dilema obstétrico foi resolvido com as fêmeas dando à luz num estágio relativamente inicial do desenvolvimento dos bebês", diz Wells.

Voltemos então ao momento em que os cérebros humanos começaram a ficar maiores, dois milhões de anos atrás.

Gestação mais curta?

Washburn sugeriu que os humanos encontraram uma solução para o dilema: reduzir o tempo de gravidez.

Assim, os bebês humanos foram forçados a vir ao mundo antes do que realmente deveriam, para assim continuarem sendo menores e com cérebros pequenos.

A explicação de Washburn parece lógica. Basta segurar nos braços um recém-nascido para verificar como ele é frágil e pouco desenvolvido.

A visão científica dominante é de que outros primatas, que mantiveram o período maior de gestação, dão à luz filhotes mais bem desenvolvidos.

Mas isso não é verdade, diz Dunsworth. "Temos bebês maiores e gestações mais longas do que se imagina".

A gestação humana é longa. Dura entre 38 e 40 semanas, enquanto a do chimpanzé tem 32 semanas e gorilas e orangotangos dão à luz depois de 37 semanas.

A gravidez humana é 37 dias mais longa que a de um primata do nosso tamanho.

O mesmo vale para o tamanho do cérebro. As mulheres dão à luz bebês com cérebros maiores do que o de um primata com a mesma massa corporal. Isso significa que um ponto central do dilema obstétrico de Washburn está incorreto.

Há ainda outros problemas em relação às ideias de Washburn.

A base do dilema obstétrico afirma que o tamanho e o formato da pélvis humana – e da pélvis feminina especialmente – são muito afetados pelo nosso hábito de caminhar eretos.

Em 2015, Anna Warrener e seus colegas da Universidade Harvard questionaram esta hipótese.

Importância da nutrição

Eles coletaram dados metabólicos de voluntários de ambos os sexos, que caminhavam e corriam.

Os voluntários com quadril mais largo não eram menos eficientes ao caminhar e correr do que aqueles com quadris mais estreitos.

"A premissa básica do dilema obstétrico – de que ter uma pélvis menor ou estreita é melhor para a eficiência biomecânica – não está correta", disse Helen Kurki, da Universidade de Victoria, no Canadá.

Kurki não participou do estudo de Warrener, mas sua própria pesquisa identificou mais problemas na hipótese tradicional do dilema obstétrico.

Se a pélvis feminina é mesmo controlada por duas forças que se opõem – a necessidade de ser estreita para andar e a de ser larga para dar à luz – o formato da vagina iria variar pouco entre as mulheres. Teria sido "estabilizado" pela seleção natural.

Mas depois de analisar centenas de esqueletos humanos, Kurki relatou em 2015 que a vagina varia muito de tamanho e forma.

"Creio que minhas descobertas trazem mudanças para o dilema obstétrico," diz Kurki.

Deste modo, a tese de Washburn não parece mais tão satisfatória.

Dunsworth acredita que falta uma peça importante neste quebra-cabeça: a energia.

"As últimas semanas e meses de gravidez são cansativos", diz ela, que também é mãe.

Algumas grávidas costumam dizer brincando que o desenvolvimento do feto é como o de um parasita. Em certo sentido, é isso mesmo: seu consumo de energia aumenta a cada dia.

Os cérebros humanos têm uma fome insaciável de energia. Desenvolver um segundo pequeno cérebro no seu útero pode levar uma grávida à beira do esgotamento em termos metabólicos.

Dunsworth chama isto de hipótese da energia e gestação do crescimento (EGG, em inglês).

Ela sugere que a duração da gravidez humana é determinada pela dificuldade em continuar a nutrir um feto depois de 39 semanas – não pela dificuldade de espremer um bebê pelo canal vaginal.

A pesquisadora acha que as pessoas se preocupam demais com a relação entre o tamanho da cabeça do bebê e a largura da vagina. Ela diz que a pélvis simplesmente evoluiu para ter o tamanho adequado.

Teoricamente, a evolução poderia ter feito a pélvis das mulheres maior – mas isso não aconteceu.

Kurki concorda. "O canal vaginal é grande o bastante para a passagem do feto", diz.

É verdade. Mas vejamos os números de mortes de mães: 830 por dia.

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