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sexta-feira, 19 de abril de 2024

Monitoramento do clima reduz uso de agrotóxicos no cultivo do tomate

2014-03-10 12:37:00

Produtores de tomate do Rio de Janeiro reduziram o uso de agrotóxicos no combate a doenças causadas por fungos. A ação é resultado de um projeto piloto que faz o monitoramento do clima. O cultivo de tomate é conhecido por ser o cultivo que mais utiliza agrotóxicos e, por isso, foi escolhido para a experiência pioneira.

Normalmente, os produtores protegem suas lavouras através de pulverizações de agrotóxicos que seguem um calendário. Por isso, é natural que a chegada de uma nova tecnologia que determine a hora certa de pulverizar o veneno ou até quando não pulverizar gere insegurança. Afinal, ninguém quer arriscar uma lavoura que custa, em média, R$ 18 mil por hectare, sem contar a mao de obra.

A nova tecnologia são estações de monitoramento agrometeorológico. Depois de um trabalho de convencimento dos agricultores, 18 estações foram instaladas nas lavouras de Nova Friburgo em 2013. Desconfiado, o agricultor Valdenir Faria fez o teste em apenas uma pequena área. “A gente fica até com receio de dar prejuízo. Eu instalo, perco uma área da minha produção. A gente ficou com medo”, relata.

Cada estação custa entre R$ 18 mil e R$ 30 mil. O projeto piloto foi fruto de uma parceria entre a empresa que detém a tecnologia e a Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro). “Ela vai atender um raio de, no mínimo, cinco quilômetros de atuação e vai poder varrer de 50 até 120 produtores, dependendo das microbacias que a gente vai trabalhar. Hoje são 37 produtores atendidos, todos na cultura de tomate, em diferentes fases de crescimento”, explica Silvio José Elia Galvão, agrônomo da Pesagro.

Através de alguns sensores, a estação registra dados importantes para a cultura. “São monitorados quatro parâmetros: chuva, através de um pluviômetro, temperatura, umidade e três placas de molhamento folhear. Essas placas simulam as folhas das plantas e qualquer gotícula de água, seja por orvalho ou chuva, essas placas vão estar detectando e informando para nosso servidor”, relata o engenheiro mecânico Vitor Balbi.

Os dados coletados a cada 15 minutos são enviados via sinal de celular  para um servidor que fica em São José dos Campos, em São Paulo. No local, um programa de computador cruza as informações de temperatura e umidade para determinar o risco de aparecimento na lavoura de duas doenças causadas por fungos: a requeima e a pinta preta.

A proliferação dos fungos tem sempre relação com as condições de temperatura e umidade. Segundo o agrônomo Lucas Baroni, a requeima é uma doença grave: “Você pode sair da lavoura durante a tarde, ter um pouquinho de requeima, voltar no outro dia e estar a lavoura inteira queimada. É perda de 100%. É uma doença muito difícil de se controlar depois que entra na lavoura”.

Já a pinta preta estraga os frutos, mas não é tão grave como a requeima. “A pinta preta é mais de final de ciclo e requer temperaturas elevadas. Ela não tem esse poder de severidade que a requeima tem, mas é uma doença que vai causar uma queda na produção”, garante Baroni.

É o agrônomo Baroni que faz a leitura dos dados transmitidos pela estação de monitoramento. Em frente à tela do computador, de qualquer lugar, ele pode avaliar o risco do aparecimento das doenças. “O sistema vai dando uma nota diariamente, de zero a quatro. Zero é quando o clima não está favorável. Foi um curto período de molhamento folhear, no caso da requeima, com temperaturas elevadas. O quatro seria um longo período de molhamento folhear, com temperaturas baixas, no caso da requeima é o que vai favorecer. A partir do momento que essas notas somadas, durante o intervalo de dias, atingem o índice de 18, é quando há recomendação da pulverização. Se nada for feito de sete a 11 dias, é a certeza de ter dano econômico e surgimento de sintomas na lavoura”, analisa.

Quando os dados indicam que é hora de pulverizar agrotóxicos, Baroni liga para o produtor. Uma das dificuldades é o sinal de celular dos produtores. A agricultora Joselma de Miranda Moura Rosa, por exemplo, pendura o celular na antena parabólica e coloca no viva voz para não mexer no aparelho e tentar manter a qualidade da ligação.

Mesmo com a dificuldade, Joselma diz que sempre dá um jeito para receber a informação passada pelo agrônomo. Na lavoura com 19 mil pés de tomate, ela e o irmão, Jocimar de Miranda Moura, se mostram satisfeitos. “Leva menos agrotóxico, bem menos. E menos serviço também, porque o tempo que a gente dava duas aplicações por semana, a gente passou a dar uma só. Eu não fiz conta, mas acredito que economizei uns 30%. Meu tomate passou a ter um valor melhor no mercado. Eu vendo diretamente no Ceasa do Irajá e se o tomate chegar com qualquer resíduo, ninguém quer comprar, porque dizem que tem agrotóxico. Chegando com tomate limpinho, eles querem”, conta Jocimar.

O agricultor Bruno Lopes de Oliveira também participou da experiência. Ele diz que o sistema funcionou, mas tem suas críticas: “A ideia do sistema é interessante, principalmente se eles ampliarem o sistema para outros tipos de doenças. Nas principais doenças, que mais influenciam a gente na produção e no custo, o aparelho não tem essa influência. Principalmente doenças de solo”.

As estações também podem funcionar  para outras culturas que enfrentem problemas causados por fungos. Para a equipe da Pesagro, a experiência foi bem sucedida. “Reduçoes de 30% até 42% no uso de agrotóxico. Você expõe menos o trabalhador rural ao produto, o produto final fica mais livre de agrotóxicos e resíduos e você ainda tem uma grande economia de água, porque todo produto químico aplicado na lavoura precisa de água doce e pura para ser dissolvido. Então, a gente acredita que vai ser uma boa ferramenta para a redução do uso de agrotóxico”, afirma Silvio José.

A Pesagro pretende ampliar o uso das estações para outras culturas como alface, rosa e caqui. A ideia é instalar cerca de 25 estações e atender mais de 300 agricultores. Porém, isso ainda depende do levantamento de verbas para cobrir o custo de R$ 500 mil.

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