2008-11-21 15:47:00
Antonio Luiz
Por desencontro de dados, a comunidade amambaiense foi informada de que apenas 29 mil hectares, em todo o município, estavam destinados para o cultivo da soja na safra 2008/09. Na verdade já foram vistoriados pelo Iagro mais de 43 mil hectares, sendo que quase 40 mil já se cadastraram junto àquele órgão. Ou seja, Amambai, se o clima colaborar, deverá colher quase 50 por cento a mais do que anteriormente foi divulgado.
Para tratar desse tema, o Sindicato Rural de Amambai convocou uma reunião realizada no dia 30 de outubro último e que contou com Christiano Bortolotto, presidente do Sindicato, Erny Agostini e Remi Bellé, ambos diretores do Sindicato, representantes das cooperativas Coamo, CVale e Lar e agrotécnicos das empresas Planar e Agrotec, além do fiscal estadual agropecuário da Iagro engenheiro agrônomo Emerson Shirota. No encontro se discutiu as dificuldades que os produtores rurais vêm encontrando para concretizar sua atividade nessa próxima safra.
Vários tópicos foram abordados na reunião e foi consenso geral que existem problemas em áreas como a da aplicação de tecnologia, em que houve uma redução de 5 por cento na adubação da área plantada em face os altos custos e à falta de crédito para grande parte dos produtores o que diminui a produtividade por hectare, quando a tendência seria que com mais experiência, o agricultor extraísse uma maior produtividade de sua plantação.
Os financiamentos também foram reduzidos em cerca de 10 por cento em relação ao ano passado. Não apenas pelo alto custo para o plantio, mas também porque os recursos disponibilizados pelas quatro instituições bancárias da cidade para a safra 2008/09 não chegaram a 11 milhões de reais. O governo federal, oportunistamente, faz marketing em cima de liberação de recursos para o agronegócio, mas trata-se de um dinheiro fictício, pois a maior parte não chega às mãos do produtor. Com uma alta taxa de inadimplência causada pelas frustrações de safras passadas e recursos escassos os produtores tiveram seus créditos cortados pelos bancos. Segundo o gerente do Banco do Brasil, Marcos Sozza, o valor médio do financiamento é de mil reais por hectares. Daí se deduz que apenas 30 por cento dos produtores conseguiram financiamento público. Os setenta por cento restantes se socorreram com as cooperativas, que realmente têm um papel importante no contexto do agronegócio da região.
Outro assunto bastante debatido foi a questão dos investimentos na área do plantio. Segundo os especialistas, há uma visível necessidade de investimentos em maquinário, abertura de área e, sobretudo, correção de solo em que há uma perda de fertilidade de 10 por cento ao ano. Com o preço do calcário nas alturas, fica inviável essa correção, pois a rentabilidade atual não compensa para o produtor. Ou seja, não vale a pumena investir em algo sem retorno compensatório.
Também abordaram fato que há muito tempo aflige os produtores é o preço do frete para o escoamento da safra. A rodovia Guairá-Porã está quase intrafegável, absolutamente deteriorada o que eleva os custos de transporte. A rodovia Amambai-Juti, onde se localiza quase setenta por cento do município sequer é asfaltada e qualquer chuva a torna intransitável. A solução seria a construção da ferrovia, já projetada pelo governo do Estado, que liga Maracaju a Porto Paranaguá, passando por Dourados, Caarapó e entre Amambai e Juti.
Como reclamação pouca é bobagem, sobrou também para a Embrapa, instituição que já foi referência em pesquisa, mas que nos últimos anos sofreu uma enorme politização pelo PT que direciona suas atenções para os projetos de agricultura familiar, numa clara demonstração de sua índole populista. A distância entre a Embrapa e os produtores rurais hoje é abissal. Há anos não se vêm em Amambai um campo de pesquisas assessorado pela Embrapa. Esse desinteresse do órgão tem contribuído decisivamente para a estagnação nos níveis de produtividade e qualidade das culturas do município.
