2007-03-12 16:54:00
A proposta do Governo estadual de criar um "cinturão sanitário" de proteção contra a entrada do vírus da febre aftosa em Mato Grosso do Sul, eliminando os rebanhos bovinos na faixa de fronteira, é vista com grande apreensão pelos pecuaristas da região e também pelos pequenos produtores rurais. Eles temem que a idéia lançada em Eldorado possa atingir também cidades como Ponta Porã e Bela Vista, além daquelas localidades onde se verificaram os focos de aftosa.
Durante reunião em Eldorado, município onde surgiu o primeiro dos 34 focos de febre aftosa registrados em outubro de 2005, o governador André Puccinelli (PMDB, propôs que os pecuaristas da região busquem outras alternativas econômicas de forma que a pecuária venha a ser substituída gradualmente em praticamente toda a região de fronteira, pelo menos numa faixa de 50 quilômetros, numa primeira fase.
O objetivo dessa medida, que alteraria significativamente toda a economia e consequentemente a vida das comunidades locais, é eliminar os rebanhos de municípios como Eldorado, Japorã, Mundo Novo, Iguatemi, entre outros, para evitar que novos focos de febre aftosa atinjam a economia dessas localidades e, principalmente, do Estado.
Só que a criação desse "cinturão sanitário" causa uma extrema preocupação principalmente entre os pequenos pecuaristas da região de fronteira. É o caso do assentado Alexandre Oliveira, que disse possuir 28 cabeças de gado. "Meu gado é vacinado sempre na época certa, vivo do que arrecado com a venda do leite. Ouvi essa proposta através do rádio e ainda não entendi bem. Sinto medo de perder o pouco que tenho. Nesse pequeno espaço de terra que minha família possui acho que não daria para sobreviver de plantio de cana, como já ouvi algumas propostas".
O pecuarista Ricardo Souza Rosa disse ao Correio Rural que Bela Vista é um município que vive estritamente do dinheiro da pecuária. "Estamos vendo essa proposta do governador com muito receio. Acho que ele pode até ter boa intenção, mas não é o ideal para o nosso município, já que tudo aqui gira em torno da pecuária. O movimento econômico aqui não é do comércio, da indústria ou de qualquer outro setor, é exclusivamente da pecuária".
Segundo o pecuarista, o sindicato rural está discutindo com os produtores rurais a criação do suposto "cinturão sanitário" e que todos estão apreensivos em relação às medidas que possam ser adotadas pelo Governo do Estado. "Acho que é uma proposta que não cola, mas se de repente aparecer arrendatários que paguem mais pelas nossas terras para cultivar cana-de-açúcar, aí podemos até negociar. Mas é complicado acabar com a pecuária na fronteira".
A proposta de mudar a base econômica na fronteira esbarra principalmente no conservadorismo da maioria dos pecuaristas. Boa parte deles não consegue sequer se imaginar desenvolvendo outra atividade que não a da criação de bovinos. Para muitos, é o que tem sido desenvolvido durante dezenas de anos pelas suas famílias e uma mudança agora representa, na verdade, uma quebra de paradigma, uma mudança de cultura, e muitos não estão preparados para enfrentá-la.
Processo lento
A alteração da base econômica de toda a região de fronteira, se ocorrer, será gradual, a partir de um programa e um planejamento técnico bastante criteriosos, esclarece uma fonte do Governo estadual. "Nada será feito de forma atabalhoada nem irresponsável, vai ser feito a partir de um estudo de viabilidades que será realizado emergencialmente", esclareceu a mesma fonte.
A secretária da Produção e do Turismo, Teresa Cristina Corrêa da Costa, procurada pelo Correio Rural, ainda não forneceu mais detalhes a respeito dessa proposta governamental e do estudo que estaria sendo iniciado. (Com informações ReporterMS).
