2008-08-31 03:06:00
A agropecuária comanda o crescimento de 80% das cidades, que dependem dos bons resultados no campo. Com os preços das commodities em alta – especialmente pela demanda internacional – e com melhores safras, esses municípios conseguiram registrar maior movimentação de renda e bens.
Os 4.350 municípios agrícolas também comemoram a aprovação pelo Senado, na semana passada, de medida provisória (MP 432/08) que permite ao governo renegociar R$ 75 bilhões de dívidas de 2,8 milhões de agricultores e que poderá dar mais fôlego ao produtor para plantar a safra 2008/2009.
O sucesso na safra, porém, só é sentido em alguns períodos, geralmente após a venda da colheita, duas vezes por ano. É o caso da soja, que tem sua grande safra plantada entre setembro e outubro e colhida a partir de novembro, e a safrinha, plantada em fevereiro e março e colhida nos meses seguintes.
Depois de alguns produtos atingirem recordes nos preços, o valor de algumas commodities começa a baixar – a saca da soja, comercializada a R$ 50 em junho, está em R$ 30. Muitos produtores não conseguiram usufruir dos ótimos preços dos últimos meses por terem negociado as safras antecipadamente, como em Mato Grosso.
O professor de Economia e Agricultura da Universidade Federal do Paraná Eugênio Stefanello lembra que, quando o setor está em alta, o produtor investe em tecnologia, compra de equipamentos e contrata pessoal, o que também gera ganhos para os municípios.
A dívida rural foi em parte formada com a edição sucessiva de planos econômicos como o Cruzado, Bresser, Verão, Collor e Real, enfatiza Stefanello, já que houve um descasamento do custo de produção do valor praticado para os produtos, sem contar problemas cíclicos como variações climáticas, desvalorização do câmbio e oscilações nos preços internacionais.
"Para conter a inflação, os governos editam medidas que seguram os preços dos alimentos. Adotam, por exemplo, a venda de estoques em momentos inoportunos, como no período em que o produtor está para vender sua safra. Isso gera baixa no valor e dificuldade para cobrir o custo da produção", expõe o professor.
Segundo o presidente da Confederação Nacional dos Municípios, Paulo Ziulkoski, a renegociação da dívida ajuda a evitar ainda o êxodo rural, já que os produtores poderão empregar e consumir mais. Para que os produtores não voltem a ficar no vermelho, Eugênio Stefanello sugere uma política para o setor com definição de preços mínimos – hoje praticada somente para o feijão – e ampliação do seguro rural.