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sexta-feira, 29 de março de 2024

Embrapa estuda funcionalidade de microrganismos

2017-06-30 14:02:00

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) investe na conservação de plantas, animais e microrganismos desde a sua criação há mais de quatro décadas. Os microrganismos, que podem ser bactérias, vírus, fungos, leveduras, entre outros, são conservados a curto, médio e longo prazo de diferentes formas, dependendo da espécie e da finalidade. As formas mais comuns são a liofilização, o congelamento em ultra freezers e a criopreservação em botijões de nitrogênio líquido, nos quais são mantidos por longos períodos a 196ºC abaixo de zero. Mas, independentemente da forma como é feita a preservação, as coleções microbianas são verdadeiros mananciais genéticos à disposição da pesquisa agropecuária brasileira, especialmente pela multifuncionalidade dos microrganismos, que têm potencial de aplicação em vários setores da economia, como agricultura, alimentação e bioindústria, entre outros.

“Hoje, o foco está cada vez mais voltado para a busca da funcionalidade dos microrganismos de forma a atender o setor produtivo”, explica a pesquisadora da Embrapa Clima Temperado, Maria Laura Mattos. Ela e outros 30 pesquisadores de oito unidades de pesquisa da Embrapa – Agrobiologia (Seropédica, RJ), Cerrados (Planaltina, DF), Clima Temperado (Pelotas, RS), Gado de Leite (Juiz de Fora, MG), Meio Ambiente (Jaguariúna, SP), Quarentena Vegetal (Brasília, DF), Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília, DF),Soja (Londrina, PR) e Suínos e Aves (Concórdia, SC)– se reuniram em Brasília entre os dias 21 e 23 de junho para discutir os desafios e oportunidades associados à conservação de recursos genéticos microbianos e a adequação das coleções às normas de qualidade internacionais.

A Embrapa possui hoje 21 coleções de microrganismos distribuídas por 18 unidades de pesquisa de vários estados brasileiros, abrangendo cerca de 45.000 linhagens de microrganismos. Elas compõem a vertente microbiana do Portfólio “Gestão Estratégica de Recursos Genéticos para Alimentação, a Agricultura e a Bioindústria, coordenada pela pesquisadora da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia Sueli Mello. O gerenciamento das ações a partir de portfólios garante a manutenção dos acervos genéticos da Embrapa de forma organizada, integrando ações relacionadas à manutenção, enriquecimento e caracterização do material genético mantido nas coleções, entre outras.

Microrganismos biorremediadores de agrotóxicos: Embrapa busca parceiros para produzi-los em larga escala

Segundo Maria Laura, atualmente os cientistas da Embrapa priorizam a qualidade em detrimento da quantidade do material preservado. Ela é responsável pela coleção de Microrganismos Multifuncionais da Embrapa Clima Temperado, que hoje conta com aproximadamente mil linhagens de microrganismos, principalmente bactérias. “O nosso foco está cada vez mais voltado para estudos que comprovem as funcionalidades dos recursos microbianos, de forma a atender às demandas do setor produtivo.

De acordo com a pesquisadora Sueli Mello, o uso de bactérias para fixar nitrogênio do solo nas plantas já é uma realidade de sucesso há décadas no Brasil, principalmente para o plantio de soja e feijão. Esse trabalho foi iniciado pela pesquisadora Johanna Döbereiner, na Embrapa Agrobiologia na década de 1970.

Hoje, como explica a Maria Laura, essas pesquisas estão sendo estendidas para arroz irrigado, azevém (gramínea usada em pastagens de inverno na região sul do país, muito importante na integração lavoura-pecuária) e soja cultivada em terras baixas.

Para isso, os pesquisadores já estão em busca de linhagens de bactérias capazes de resistir ao frio e encharcamento do solo, que possam atender às demandas dos produtores de arroz irrigado, azevém e soja.

Uma novidade é a utilização de bactérias como agentes biorremediadores de solos onde há persistência de agrotóxicos. “As linhagens biodegradadoras mais eficientes já foram identificadas, os experimentos deram bons resultados e, no momento, estamos em busca de parceiros para colocar essa tecnologia no mercado”, comenta a pesquisadora da Embrapa Clima Temperado.

Ela acredita que a tecnologia de fixação biológica de nitrogênio (FBN) para gramíneas e leguminosas de clima temperado vai despertar o interesse do setor produtivo, já que atende também ao mercado de alimentos orgânicos, que cresce alheio à crise econômica no país. Segundo dados do Conselho Nacional da Produção Orgânica e Sustentável (Organis), o mercado nacional de orgânicos cresceu 20% em 2016, com faturamento estimado de R$ 3 bilhões. E a expectativa aponta para crescimento ainda maior em 2017 de, no mínimo, 10%.

A consolidação desse setor na economia brasileira é um reflexo direto do consumidor contemporâneo, que cada vez mais busca aliar nutrição e saúde em seu dia a dia.

Sueli Mello lembra ainda que a Embrapa Meio Ambiente, unidade da Empresa em Jaguariúna, SP, mantém um importante acervo de microrganismos diversos, incluindo cianobactérias e bactérias da Antártica, que também tem muito potencial para ser explorada.

Microrganismos como agentes de controle biológico de pragas

Se nas unidades de Clima Temperado, Meio Ambiente, Agrobiologia e Soja, as pesquisas estão mais voltadas para o uso de bactérias como fixadoras de nitrogênio e agentes de degradação de agrotóxicos, na Embrapa Recursos Genéticos, há estudos avançados para utilização desses microrganismos no controle biológico de insetos-praga e mosquitos transmissores de doenças.

A unidade de Brasília mantém um banco com mais de 2.600 estirpes de bactérias denominadas entomopoatogênicas, o que significa que são específicas para controlar os insetos-alvo, sem fazer mal aos demais seres vivos e ao meio ambiente.

Desse banco, já saíram bactérias que foram usadas na formulação de inseticidas biológicos capazes de controlar o mosquito Aedes aegypti (transmissor da dengue, zica, chikungunya e febre-amarela e lagartas que atuam como pragas nas culturas de soja, milho e algodão.

O mais recente, desenvolvido em parceria com a empresa Strike de Alagoas, para controlar o Aedes aegypti, já está em fase final de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e deve chegar em breve ao mercado. O produto, chamado STRIKE Bio-BTI, foi formulado a partir da bactéria Bacillus thuringiensis, recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS), já que é usada há mais de 40 anos em programas de controle biológico em nível mundial sem nenhum registro de danos à saúde humana e de animais.

O novo bioinseticida será vendido diretamente ao consumidor em supermercados, floriculturas e outras lojas do ramo, graças a uma recente mudança na regulamentação da Agência, voltada ao registro de saneantes. Antes, a venda desse tipo de produto era restrita a empresas especializadas ou para campanhas de saúde pública.

Outros produtos à base de fungos – como por exemplo, Beauveria bassiana, Nomuraea rileyi e Metarhizium anisopliae – e vírus também estão em desenvolvimento na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia para controle de insetos-praga. Há também os fungos biocontroladores de doenças de plantas, entre os quais se destacam os pertencentes ao gênero Trichoderma, que são alvo de estudos em todo o mundo pelo seu potencial como agentes de controle biológico de doenças agrícolas, promotores de crescimento, produtores de enzimas de interesse industrial e de substâncias antibióticas. “Temos hoje na Unidade, em Brasília, DF, mais de 1.000 linhagens desses fungos”, complementa Sueli Mello.

Objetivo é o mercado

Em comum entre todas as unidades da Embrapa que mantêm coleções microbianas está o objetivo de intensificar a parceria com o setor privado para que as tecnologias geradas a partir dos microrganismos cheguem de forma rápida ao mercado brasileiro. As biotecnologias são opções viáveis para atender aos anseios da sociedade na busca constante por soluções sustentáveis.

“É preciso aproveitar esse cenário positivo para inserir as tecnologias da Embrapa no mercado brasileiro”, ressalta Maria Laura. Os produtos biológicos, desenvolvidos a partir de recursos genéticos microbianos, representam uma oportunidade para a inovação e competitividade na agricultura brasileira e atendem às perspectivas ambientais e ao uso sustentável dos serviços ecológicos.

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