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Se manter livre de aftosa é o desafio de MS, diz Famasul

2007-11-12 13:05:00

O grande desafio de Mato Grosso do Sul é manter esse status livre de aftosa com vacinação, declarou o presidente da Famasul (Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul), Ademar da Silva Junior, em entrevista exclusiva ao site de notícias MIDIAMAX, da capital do Estado, Campo Grande. 

Ele ressaltou que para isso será feita uma força-tarefa entre todos os órgãos sanitários para manter esse status por tempo indeterminado.

Ademar explicou ainda que está sendo executada uma zona de fronteira entre os municípios fronteiriços com o Paraguai e Bolívia para controlar de forma mais rigorosa a doença, por dois anos aproximadamente. Uma das ações também está relacionada com o período de vacinação nos municípios fronteiriços e também nos animais paraguaios, atingindo de mamando a caducando.

O presidente acredita que se a reunião da OIE (Organização Internacional de Sanidade Animal) não ocorrer em janeiro de 2008, o governo do Estado deve pagar pela realização de uma reunião extraordinária, visto a tamanha importância da carne para a economia do Estado.

Ele acrescenta ainda que a liberação do status livre de aftosa com vacinação não deve inflacionar o preço da carne para o consumidor, visto que se os supermercadistas elevarem o preço, o consumo do produto cai.

MIDIAMAX – O que representa para o Estado a liberação do status livre de aftosa com vacinação?
ADEMAR – Essa foi a melhor notícia que recebemos em 2007. Porque nesses últimos dois anos sofrermos muito em todos os aspectos, seja na dificuldade dos órgãos de vigilância, Ministério da Agricultura, Iagro, Seprotur e a classe produtora. Nessas dificuldades todas, focos ocorreram em assentamentos, algo que não estávamos acostumados a enfrentar, pois tem uma outra realidade das propriedades e isso gerou um impacto muito grande, além de toda a mídia negativa que se produziu, ficando com uma imagem muito arranhada, tanto no mercado nacional quanto no internacional. Nós éramos a “Geni”, todo mundo jogava pedra em Mato Grosso do Sul. Com essa liberação comprovando tecnicamente que o Mato Grosso do Sul retoma o status livre de aftosa com vacinação, houve uma motivação a mais para todos e percebo que nesses últimos dias conseguiu fazer um trabalho junto com o Ministério da Agricultura, Iagro, Seprotur e a própria classe produtora, que inverteu esse quadro de desacertos com uma união muito grande. Tem coisas que a gente questiona, mas na hora de tomar uma decisão é de todos coletivamente e isso tem dado resultado. O grande desafio é manter esse status.

MIDIAMAX – O que será feito para isso?
ADEMAR – Estamos com uma zona de fronteira considerada como uma zona endêmica considerada pelos organismos internacionais e estamos sendo obrigado a criar uma zona tampão, uma zona de alta vigilância, com características diferenciadas, com um controle mais rigoroso, com uma movimentação de rebanho mais controlada, mas supervisionada pelos órgão de defesa e um trabalho maciço de educação sanitária, de capacitação dos produtores, da melhoria de alguns itens, que são fundamentais para que não ocorram essas ocorrências.

A cada três ou cinco anos aparecem um caso e é nessa região de fronteira geralmente, sendo em Porto Murtinho, Naviraí, proveniente de gado do Paraguai e por último em Eldorado, Mundo Novo e Japorã. Então vamos intensificar o trabalho nessa região. E com isso tenho certeza que vamos sair dessa sazionalidade de a cada dois e cinco anos aparecer um caso. Vamos manter com esse esforço o Estado livre da doença por tempo indefinido, para que a gente não tenha mais problema com a aftosa.

Porque tem municípios e regiões de Mato Grosso do Sul que há mais de 25 anos não aparece e isso é um ponto positivo. Acho que agora temos que identificar todos esses animais de fronteira. Esse primeiro passo, passo difícil, passo complexo que é um volume muito grande de animais e vamos começar a identifica-los nos próximos dias.

O programa Sanidade sem fronteira vai bancar para os assentados a identificação desses animais e incluí-los no banco nacional de dados do Sisbov para que a gente possa ter a garantia dessa movimentação. Isso deve ser feito também pelo Iagro e pela Secretaria Estadual de Produção a identificação individual de todos os animais. Já fizeram em três municípios, Iguatemi, Eldorado e Mundo Novo, já com 100% e deve fazer agora no restante do rebanho da fronteira e outra coisa é o reforço de vacinação.

A campanha começou dia 1º de novembro e vai até o dia 30 de novembro em grande parte do Estado, já naquela região vai começar dia 20 de novembro para coincidir com a vacinação do Paraguai, então vamos vacinar os nossos rebanhos, o rebanho do Paraguai, para fazer uma vacinação maciça desse rebanho naquela região, até 20 de dezembro. Sendo que no Estado a vacina de novembro é prevista com animais de até 24 meses, na região de fronteira vai vacinar de mamando e caducando.

MIDIAMAX –  Esses cuidados vão ficar somente nesta etapa ou vai continuar nas etapas seguintes?
ADEMAR
– Essa região tem um período de alta vigilância assistido por nós, para que haja cultura melhor com relação a vacinação e as proteções que precisam e que a gente possa provar tecnicamente que a região não tem problema com endemismo. Isso deve ocorrer em torno de dois anos e vai depender muito do avanço que vamos ter lá dos exames sorológicos.

MIDIAMAX – A alta vigilância não vai interferir nas relações comerciais
ADEMAR
– Se interferir, vamos ter que achar mecanismos, a gente já está conversando sobre isso. Se houver uma diferença no preço da arroba do boi daquela região com o restante do Estado, a gente vai ter que achar medidas compensatórias. Estamos conversando junto aos fundos constitucionais FCO, Banco do Brasil, para colocar linhas de crédito para esses produtores, com os frigoríficos e com o governo para ver a questão de tributos para diminuir ou se haver necessidade retirar a parte fiscal desses negócios para que possa compensar essa diferença.

Porque, se houver prejuízo, todo esse trabalho feito vai para o ralo e não terá efeito, pois você só consegue controlar uma doença nos países desenvolvidos leva isso em consideração, pois você remunera, você dá todos os cuidados possíveis, já que em muitos casos quando a doença aparece precisa ser denunciada e ninguém vai fazer isso se estiver tendo prejuízo. Por isso não pode haver diferenciação de preço.

A Famasul está com um grupo de profissionais do Iagro, da Seprotur, Acrissul, sindicatos rurais, junto com especialista, Ênio Marques, que está trabalhando toda uma revisão da legislação e vai trabalhar todo um planejamento para a sanidade de Mato Grosso do Sul, um novo modelo que possa surtir resultados, isso em parceria com Estado, União e produtores, uma melhoria com um novo modelo.

Esse último caso de aftosa no Estado trouxe exemplos que ficaram marcados para nós, pois nos outros havíamos resolvidos com seis meses no máximo e desta vez não, o impacto foi muito grande, com mais de dois anos.

MIDIMAX – Qual foi o prejuízo nesse período?
ADEMAR –
O prejuízo é quase incalculável, pois envolve todo um complexo, pois você tem prejuízos da pecuária de corte, citando como exemplo a arroba do boi, que naquela época estava R$ 60,00 e caiu para R$ 45,00, uma queda muito brusca e muitos produtores ficaram por mais de seis meses sem efetivar nenhuma venda, pois a região estava todo bloqueada. E aí o reflexo ocorre no supermercado, na padaria, pois vendem menos, pois a economia está no agronegócio.

A gente era o rei do mercado internacional naquele momento, em dois anos fomos a lona, perdemos o status de maior importador de carne, começaram a migrar, como exemplo o frigorífico Independência, onde suas unidades eram praticamente de exportação e praticamente quebrou e teve que comprar frigoríficos fora, arranjar recursos em bancos para adquirir unidades fora do Estado para não ter que fechar as portas.

Mato Grosso do Sul se quiser continuar sendo o principal produtor e exportador de carne tem que fazer muito o dever de casa. Não podemos mais cometer erros. Melhorar o sistema de vigilância e conscientizar a comunidade o tamanho do impacto social que essa doença causa na sociedade e voltar a mostrar para o Brasil e para o mundo que temos carne de qualidade e certificada por todos os seus certificados sanitários.

Acho que 2008 vai ser o ano da redenção da pecuária de Mato Grosso do Sul, já estamos vendo o preço da arroba do boi melhorar, nesta semana chegou a R$ 67,00 em algumas regiões, reflexos dessa notícia. Estou vendo toda uma ação do Estado para a retomada dos mercados e vai se movimentar rápido para retomar as exportações. Agora é hora de colocar a cabeça no lugar.

MIDIAMAX – Quanto tempo pode levar?
ADEMAR –
Depende desse empenho que vamos ter, pois já houve uma resposta de imediato como o aumento na arroba do boi e reabrir o mercado da Argélia já é um caminho, mas vai depender dos trabalhos dos frigoríficos, do governo estadual e federal, se reunindo ainda mais para recuperar esses mercados perdidos. E a partir do ano que vem vamos buscar esse principal certificado, que é da OIE.

Através do certificado dela é que vamos buscar os principais mercados, como o europeu e em janeiro a gente já pode levar um relatório para mostrar que o Estado já resolveu a questão da aftosa e reorganizou sua estrutura de defesa e está pronto para o certificado da OIE. Pela qualidade dos nossos frigoríficos e quantidade de carne que temos, retomar esses mercados é uma questão de tempo. O empenho que dermos é que vai dizer se isso vai levar um, dois, três, ou mais meses.

MIDIAMAX – A reunião da OIE deve ocorrer quando?
ADEMAR – Existem já alguns encaminhamentos para que ela ocorra no fim do mês de janeiro. A comissão da OIE vem agora em dezembro, a gente já pede a reunião para levar o relatório, eles marcam a reunião. Senão, o Mato Grosso do Sul através do governo do Estado, caso não consigamos uma reunião em janeiro, pode pagar para ter uma reunião e apresentar seu relatório e se não conseguirmos essa reunião em janeiro, o Estado tem de bancar isso. Pelo tamanho do nosso Estado não deve ser caro. E temos que fazer esse investimento e mostrar para o mundo que Mato Grosso do Sul voltou para o negócio está pronto e aprendeu com todo esse prejuízo e que não deve se repetir.

MIDIAMAX – A abertura desses mercados pode inflacionar o preço da carne para o consumidor interno? Qual o impacto que isso pode provocar?
ADEMAR
Não vejo inflação, até o contrário, pois estávamos tendo prejuízo há três anos e impactou com a aftosa. O custo de produção de uma arroba de boi, calculado pela Embrapa Gado de Corte, foi de R$ 71,41 e estamos vendendo a arroba a R$ 67,00, tendo um prejuízo de R$ 4,41. Estamos bancando essa diferença. E tivemos em 2005 preços abaixo de R$ 45,00, quando o mercado sinalizava acima de R$ 65,00 no custo de produção.

A pecuária de corte de Mato Grosso do Sul teve um empobrecimento muito grande, onde o produtor teve que capitalizar dinheiro junto às entidades financeiras para bancar essa diferença e agora, o que está havendo uma recuperação desse prejuízo. É obvio que de alguma forma passa para o consumidor, mas vai ser pouco, pois a cadeia vai absorver isso. Se o supermercado aumentar demais para o consumidor cai o consumo e como tem produção muito alta o frigorífico não consegue repassar. A alta não será significativa para o consumidor.

MIDIAMAX – O primeiro prognóstico do IBGE revela que a produção de cana-de-açúcar vai aumentar 33% no Estado nesta safra. Agora é a vez do Estado desponta por esta cultura?
ADEMAR – Mato Grosso do Sul dizia que era o Estado do boi e da soja, e hoje podemos dizer que somos o Estado do boi, da soja, da cana-de-açúcar, florestas, piscicultura e ovinocultura. O Estado tem se diversificado e aproveitou esse bom momento da cana-de-açúcar para crescer nesse setor. As indústrias vieram e dinamiza mais a economia do Estado. Estamos com 15 usinas em funcionamento e com a previsão de mais de 70 usinas de cana-de-açúcar no Estado, sem perder os principais produtos.

MIDIAMAX – Qual sua avaliação com relação à crise do leite no País? E quais os reflexos no Estado?
ADEMAR – Essa crise era anunciada pela classe produtora. As indústrias maquiavam o leite em um outro produto, vender bebida láctea como leite é uma enganação ao consumidor. E agora a gente vês esses casos, que vai refletir nos próprios produtores, que não tem culpa nenhuma, pois entrega o produto com a melhor qualidade. O consumo cai e a oferta maior faz com que o preço cai, como caiu R$ 0,10 e mais uma vez a classe produtora é prejudicada por falta de fiscalização do governo. Precisamos de fiscalização.
















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