2017-05-08 08:20:00
Ao que tudo indica, a recessão ficou mesmo para trás, de acordo com economistas consultados pelo G1. Além da boa surpresa da supersafra de grãos, a inflação em queda e os cortes de juros melhoraram as perspectivas de que a economia brasileira finalmente conseguirá ganhar fôlego e entrar numa nova fase. O vai e vem de indicadores ora positivos, ora negativos em alguns setores, entretanto, retratam uma recuperação ainda oscilante e não disseminada, segundo os analistas, o que torna a retomada lenta e modesta, num cenário ainda marcado por fraca demanda e desemprego alto.
As projeções apontam para um crescimento forte da economia no 1º trimestre, puxado quase que exclusivamente pelo agronegócio, o que deve garantir que o país registre o primeiro PIB (Produto Interno Bruto) positivo após 8 trimestres seguidos de contração. No ano passado, a economia brasileira aprofundou a crise ao encolher 3,6%, marcando a mais longa recessão da história.
O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, estima que a economia deve ter crescido entre 0,7% e 0,8% entre janeiro e março, na comparação com o quarto trimestre do ano passado. Já as projeções do mercado variam de 0,4% a até mais de 1%. Para o ano, a maioria dos analistas continuam esperando um crescimento abaixo de 0,5%. Os números oficiais do PIB do 1º trimestre serão divulgados pelo IBGE no dia 1º de junho.
1º trimestre anabolizado
O grande empurrão neste começo de ano veio do setor agropecuário, que começou a tirar do chão aquela que deverá ser a maior colheita da história do Brasil. Segundo a última estimativa do IBGE, a safra deve crescer 25,1% neste ano, para 230,3 milhões de toneladas. Na primeira estimativa para a safra de 2017, divulgada em novembro de 2016, a previsão era de aumento de 13,9%. A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) estima em 8,5% a alta o PIB do setor em 2017, após um recuo de 6,6% no ano passado.
A economista Sílvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Ibre/FGV, calcula que a agropecuária pode ter registrado uma expansão até superior a 10% no primeiro trimestre, representando um impacto positivo de ao menos 0,7 ponto percentual na variação do PIB de janeiro a março.
“O primeiro trimestre parece ter sido um pouco anabolizado. Se não fosse a contribuição da agropecuária, teríamos uma contração no 1º trimestre ou quase uma estagnação”, afirma Matos, para quem o PIB do país cresceu 0,6% no primeiro trimestre e deverá avançar 0,4% no ano.
As mudanças metodológicas efetuadas pelo IBGE na PMC (Pesquisa Mensal do Comércio) e na PMS (Pesquisa Mensal de Serviços), mudando significativamente os resultados de janeiro e fevereiro, também colocaram mais pressão e dúvidas sobre o resultado do PIB do 2º trimestre.
“Existe uma enorme chance de ter sido antecipada uma alta que será devolvida no 2º trimestre”, alerta José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, que projeta um avanço de 1,2% no 1º trimestre.
O analista avalia, no entanto, que a economia brasileira ainda passa por um processo de estabilização, não podendo ser afastada a possibilidade de um PIB até mesmo negativo no 2° trimestre. “Estamos num processo de altos e baixos. O PIB ainda deve oscilar nestes 3 trimestres. A minha dúvida é se isso não será uma estagnação”, afirma.