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Quase 3,5 milhões de hectares estão afetados pelas inundações na Argentina: saiba o que aconteceu até agora

2017-01-20 11:45:00

Uma imagem de satélite revela que quase 2,5 milhões de hectares estão com graves problemas por conta das inundações no centro sul de Santa Fe, no norte de Buenos Aires e no leste de Córdoba, na Argentina. Além disse, havia também outro 1 milhão de hectares com inconvenientes, porém, em condições mais leves.

O fenômeno, que deixou acumulados até 600mm nos últimos 30 dias, surpreende porque o habitual para esta época seria um período com chuvas não tão abundantes. Com esse risco, nos últimos anos o plantio dos cultivos começou a ser atrasado.

Os dados de imagem foram apresentados ao jornal La Nación por Pablo Ginestet, especialista da empresa de serviços de imagem e análise Ripear e membro pelas Confederações Rurais Argentinas (CRA) na Comissão Nacional de Emergências e Desastres Agropecuários. Ginestet mostrou uma imagem de anteontem do satélite Terra que, por conta da nebulosidade, não incluiu a província de Entre Ríos.

Por províncias, segundo a análise de Ginestet, os hectares afetados são os seguintes: 1.063.452 hectares em Buenos Aires (no Norte e no Oeste), 821.463 hectares em Santa Fe (sobre o Centro Sul) e 483.307 hectares no leste de Córdoba. Desses quase 2,5 milhões de hectares comprometidos, 351.491 hectares estão inundados, 1.440.603 hectares alagados e 588.821 hectares saturados.

Segundo a Bolsa de Cereais de Buenos Aires, toda a região central representa 12,5 milhões de hectares do plantio total de soja do país, ou seja, 65% do plantio total projetado. Para Ginestet, dessa região, há 700.000 hectares com soja em problemas, 5,6% do total. O restante dos hectares afetados correspondem a outros cultivos, pecuária, atividade leiteira e locais próximos à área urbana.

Pode não parecer uma perda importante, mas vale ter em conta que, em relação ao ano passado, o plantio da oleaginosa no país caiu 800.000 hectares e estes 700.000 agregam uma incerteza ao resultado final da safra. "A metade desses 700.000 hectares estão com alto risco de perda", disse o especialista, acrescentando que, mesmo no caso de não haver uma perda, os rendimentos poderão ser menores. Para o milho, de 180.000 hectares já comprometidos, 100.000 estão com alto risco de perda.

"Para esta época do ano não houve algo tão generalizado em chuvas nos últimos cinco anos", disse Ginestet. Em Santa Fe, as inundações chegaram no outono nos três últimos anos e, em Buenos Aires, na saída do inverno ou na primavera, como em outubro passado, em General Villegas, que hoje está com problemas novamente.

O contraste é a seca no sul de Buenos Aires e no leste de La Pampa, onde o plantio de soja de primeira etapa finalizou com uma queda de 20% na superfície em relação aos planos iniciais. Por sua parte, a soja de segunda etapa de plantio teve apenas 50% da área plantada.

Soja em risco e suas estimativas

Com isso, as estimativas de uma superssafra de soja na Argentina começam a diminuir. Enquanto o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) projeta uma safra de 57 milhões de toneladas para o país e o Ministério da Agroindústria do país diminuiu sua previsão de 56 para 55 milhões de toneladas, outras estimativas indicam uma perda mais severa.

O consultor internacional Michael Cordonnier, que é especialista na produção sul-americana, aponta uma projeção de 51 milhões de toneladas para a safra da Argentina. Enquanto isso, Pablo Adreani, da consultoria AgriPAC, fala em 50 milhões de toneladas. O presidente da Federação Argentina de Contratistas de Máquinas Agrícolas (Facma), apontou para o jornal La Nación uma estimativa de 52 milhões de toneladas.

Na última segunda-feira (16), o governo de Santa Fe fez uma estimativa de que 4 milhões de hectares estavam afetados na província, com perdas que devem ser avaliadas em US$1,1 bilhão. Considerando as províncias de Buenos Aires e Córdoba, as perdas podem chegar a US$1,75 bilhões, segundo estimativas oficiais e privadas.

Em Buenos Aires, estima-se ainda que haja uma área de 1 milhão de hectares sem plantio: 300.000 por conta da seca que afetou o sul da província e 700.000 por conta das inundações.

Marina Barletta, da Bolsa de Comércio de Rosário (BCR) disse que ainda falta o plantio de um milhão de hectares de soja e que há 500.000 hectares que estão comprometidos entre excessos de água e déficit hídrico. No entanto, ela acredita que nem tudo está perdido. "Os produtores esperarão até o final do mês para plantar soja. Se as águas diminuirem e o solo permitir, poderão terminar de plantar os hectares que faltam", explicou.

Esteban Copatí, chefe de Estimativas Agrícolas da Bolsa de Cereais de Buenos Aires (BCBA), explica que ainda é complexo fazer um balanço correto das perdas porque muitos produtores ainda não terminaram de plantar e a água não baixou no centro e sul de Santa Fe e Córdoba e nem ao norte da província de Buenos Aires.

Em seu último relatório, a Bolsa de Cereais de Buenos Aires manteve a estimativa da área de plantio de soja em 19,3 milhões de hectares para o país, número que ainda pode ser atualizado até o final do dia de hoje.

Condições para a safra

Em entrevista ao Notícias Agrícolas, Telmo Amado, professor da Universidade Federal de Santa Maria (RS) apontou que "é muito grave" o que ocorre na Argentina neste momento. O volume de 600mm de chuvas que ocorreu apenas em um mês, segundo ele, "é a precipitação que a soja demandaria em todo o seu ciclo".

O professor lembra que, se a soja ficar um período de algumas horas debaixo de chuva – e, nesse caso, são muitos dias – o fator se torna bastante prejudicial para a planta, com danos irreversíveis de produtividade. Além disso, algumas plantas podem acamar ou morrer, causando uma diminuição no estande de plantas.

Com a previsão de mais chuvas, em meio a um verão atípico, a Argentina poderá ter ainda um grande dano se esse quadro persistir, analisa o professor.

Para o período compreendido entre quarta-feira (18) e terça-feira (24), as previsões indicam que desde o início até o final do período, as condições climáticas serão estáveis para as áreas atingidas, como informa o Sistema de Estimativas Agrícolas de Santa Fe.

Haverá um leve aumento nas temperaturas médias diárias, com poucas a nulas probabilidades de chuva em toda a área de estudo, o que permitiria visualizar a capacidade de reação nos sistemas produtivos após os excessos hídricos registrados.

Já o último boletim do Instituto de Clima e Água da Argentina, que previu as chuvas do último final de semana, apontou que as chuvas que afetam a zona semanalmente devem desaparecer apenas em fevereiro ou março. Sendo assim, nas áreas mais baixas, a situação de emergência nessas localidades pode se prolongar até a próxima primavera nas áreas mais baixas, como apontam os dados do boletim.

Emergência agropecuária

O presidente da Argentina, Mauricio Macri, incluiu o tema em sua agenda na manhã da última terça-feira (17), durante uma coletiva de imprensa na Casa Rosada. Ele disse que será declarada a emergência agropecuária para o setor e que o governo daria "assistência com todas as ferramentas que possui".

Na ocasião, ele apontou ainda que "a mudança climática está cobrando o seu preço", mas evitou comentar as perdas econômicas geradas pelas chuvas e pelas inundações, embora tenha reconhecido a necessidade de avançar com obras de infraestrutura para mitigar os efeitos das chuvas.

Com informações do La Nación

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