2007-03-08 14:09:00
Continua fechada a MS 156, que corta as aldeias indígenas de Dourados e dá acesso à cidade de Itaporã. O protesto por contratos de trabalho começou na manhã de ontem e não tem hora para acabar. No local, oito ônibus permanecem bloqueando a rotatória que delimita a fronteira entre Dourados e a Reserva. Outros quatro estão estacionados em outros da 156 e estradas vicinais nas aldeias, para impedir os desvios.
Segundo o líder guarani Tibúrcio Fernandes de Oliveira, indigenas de várias aldeias da região estão se juntando aos 300 nativos da Bororó e Jaguapiru, da Reserva de Dourados, para engrossar a manifestação que até agora é pacífica.
Os índios querem apoio do Ministério Público do Trabalho (MPT) para garantir contratos regulares junto às usinas de álcool. Tibúrcio conta que os trabalhadores ganham entre R$ 41 a R$ 47 por dia e chegam a obter até R$ 1 mil por mês. No entanto, eles trabalham 70 dias e ficam três meses desempregados, segundo contrato fechado anteriormente entre o MPT e Ministério Público Federal (MPF).
Para eles, a situação é insustentável. "Precisamos de segurança, nossas famílias passam necessidade e têm crianças morrendo de desnutrição aqui nas aldeias", enfatiza o presidente da Comissão de Segurança da Reserva de Dourados e também lider do grupo de trabalhadores rurais indígenas.
A Polícia Rodoviária Militar Estadual orienta os motoristas que não tentem cruzar as aldeias já que, segundo Tibúrcio, os índios estão mobilizados e até agora já apreenderam três veículos
"Não estamos prendendo pessoas, só os carros. Isto é só para chamar a atenção das autoridades. Quem sabe alguém liga informando da situação e pedindo ajuda. Assim, quem sabe alguma autoridade vem até aqui para ajudar", diz.
Ontem, lideranças estiveram reunidas a portas fechadas no MPF, com a assessoria do defensor federal Charles Estevão Motta Pessoa. Segundo Tibúrcio, nada foi definido. Eles aguardam a chegada de representante do MPF, de Campo Grande. Uma reunião, ainda sem local definido, ficou marcada para as 17h de hoje. "Preferimos que o encontro aconteça na Reserva e, de preferência, mais cedo", diz Tibúrcio.
É visível a indignação dos trabalhadores indígenas com a atual situação que, agregada à falta de segurança pública na aldeias, escassez de terra, problemas nas escolas que estão sem estrutura para iniciar o ano letivo, podem detonar uma crise sem precedentes.
"Nós temos título de eleitor, carteira de trabalho, mas não entanto estamos sendo prejudicados, sem contrato de trabalho com garantia a longo prazo. Somos trabalhadores, temos a melhor mão-de-obra do Estado e ainda somos tachados de vagabundos, que só dependemos de cestas básicas. Isto é mentira. Só queremos direito de trabalhar com dignidade, para comprar comida, remédios, materiais escolares para nossos filhos, uma bicicleta nova. É isto…", conclui Tibúrcio Fernandes de Souza.