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sábado, 27 de abril de 2024

Oleiros do Porto Morumbi estão desabrigados

2007-02-01 15:25:00

Pelo menos cem pessoas moradoras no Porto Morumbi, em Eldorado, estão passando por dificuldades em consequência das chuvas e da abertura das comportas da Usina Sérgio Motta. Esses moradores, que são pequenos oleiros, estão há pelo menos 60 dias sem poder produzir e não recebem auxílio do Governo.
As olarias artesanais, situadas nas margens do rio Paraná e que movimentam a economia na região, estão praticamente submersas e muito tijolo foi perdido. Os "oleirinhos", como são chamados, são obrigados a recorrer a trabalhos de "bóia-fria" para sobreviver, já que dependem única e exclusivamente dos tijolos.
Mas além de todo esse problema, os oleirinhos enfrentam ainda outra situação complicada: eles têm prazo até 31 de março para encontrar outro local para montar suas olarias. O Ibama junto com a Secretaria Estadual de Meio Ambiente, atendendo à legislação ambiental, não vai mais permitir que haja exploração de argila no local.
Além disso, todas as olarias estariam instaladas muito próximas do rio, de forma irregular e causando danos ao meio ambiente. A prefeitura de Eldorado já estaria estudando a possibilidade de adquirir uma nova área para reinstalar esses pequenos oleiros, mas tudo ainda depende de estudos, inclusive da qualidade da argila.
SOBREVIVÊNCIA
O Porto Morumbi, localizado no distrito de Morumbi, município de Eldorado, está a 22 quilômetros da cidade, numa via sem pavimentação e de difícil acesso. Antes da construção da ponte que liga Mundo Novo (MS) a Guaíra (PR), esse porto era o local da travessia do Rio Paraná, por balsas.
O distrito era bastante valorizado e bastante procurado para moradias, já que as alternativas de exploração comercial eram várias, incluindo-se a pesca, lanchonetes, restaurantes e outras atividades comerciais. Com a construção da ponte, o porto foi desativado e só sobrou a pesca e o trabalho com argila, ou seja, as olarias e cerâmicas.
Atualmente os moradores que não são pescadores profissionais (número bem reduzido), possuem pequenas olarias ou trabalham nas três cerâmicas, de porte maior, que existem no distrito.
Os pequenos oleiros mantêm atualmente 12 olarias artesanais e utilizam-se de mão-de-obra familiar para a produção de tijolos. Em toda a região são os maiores produtores, com média em cada uma dessas olarias, de dois mil tijolos ao dia.
Segundo o presidente da Associação dos Pequenos Oleiros, Jair Afonso, essas pessoas só dispõem dessa atividade para sobreviver. "É um valor pequeno por mês, mas que é o sustento das nossas famílias", destacou ele. Pelos cálculos da própria entidade que ainda não foi regularizada, a média que cada oleiro tira por mês é de R$ 800. Um valor que, segundo Jair, não compensa toda a mão-de-obra, mas que é a única alternativa.
Nilson Francisco Lopes também é um pequeno oleiro e contou ao Correio do Estado que está desesperado com a situação. "Não é a primeira vez que isso acontece. A gente enfrenta esse problema todos os anos, só que a cada ano que passa a situação fica ainda pior porque enquanto estamos trabalhando, o preço do tijolo só vai caindo e quando vem a temporada de chuva nem produzir a gente pode", desabafou.
O presidente da associação contou que a categoria não recebe nenhum tipo de auxílio do Governo nesse período. Ele fala em relação a cestas de alimentos que, segundo ele, "são distribuídas até mesmo para sem-terra que estão acampados nas margens da rodovia, sem produzir nada".

Jair informou que se recebeu cesta básica foi uma ou duas vezes em todo o tempo que trabalha com tijolos, que já chega a 20 anos. Os pequenos oleiros estão com suas atividades paralisadas há aproximadamente 60 dias. Nesse período a maioria corre pelas fazendas à procura de serviço como bóia-fria, para garantir o sustento de suas famílias.

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