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Haddad é petista com menor apoio no Nordeste desde 2002, mostram pesquisas

2018-10-05 04:01:00

Após ser confirmado como candidato do PT nas eleições de 2018Fernando Haddad teve um crescimento meteórico no Nordeste, importante base eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva. Em pouco mais de um mês, o ex-prefeito de São Paulo passou de 5% para 38% da intenção de voto na região, segundo o Datafolha.

Mas as pesquisas dessa semana apontam que o crescimento de Haddad no Nordeste arrefeceu. Em vez de continuar subindo, o candidato oscilou negativamente para 36%, mostra o Datafolha divulgado nesta terça-feira.

Em votos válidos (que são os considerados no resultado do pleito, excluindo-se brancos e nulos), são 43%. É o menor apoio a um candidato do PT no Nordeste no primeiro turno, desde 2002, segundo levantamento da BBC News Brasil.

Assim, se os números das pesquisas do começo dessa semana se confirmarem nas urnas, a taxa de apoio ao PT no Nordeste pode retornar para os patamares anteriores aos governos petistas. Para reverter esse quadro, Haddad teria de subir mais de 15 pontos na região em apenas três dias.

Em 2014, na reeleição de Dilma Rousseff, a petista teve 60% dos votos válidos na região. Em 2010, 62%. Na reeleição de Lula, em 2006, foram 67%..

A intenção de voto em Haddad no Nordeste é menor até que a registrada por Lula em sua primeira eleição, em 2002: 46%. Naquele ano, o mapa eleitoral do Brasil ainda não estava tão dividido, com a votação de Lula ficando na casa dos 40% em todas as regiões do país.

Só em 1998 o apoio a um presidenciável do PT no Nordeste em primeiro turno foi mais baixo. Na disputa contra Fernando Henrique Cardoso, Lula teve 32% dos votos válidos na região. O opositor se reelegeu em primeiro turno.

"O aumento das dificuldades do PT, inclusive no Nordeste, onde historicamente os candidatos lulistas têm maior apoio, tem a ver com rejeição elevada ao governo Dilma Rousseff e ao próprio PT. Seja na questão econômica, seja com relação à corrupção", afirma o cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria.

Ainda assim, os 36% de intenção de voto no Nordeste fazem Haddad liderar com folga na região. Enquanto o petista oscilou dois pontos para baixo no Nordeste, seu adversário mais próximo, Jair Bolsonaro (PSL) subiu quatro pontos e chegou a 20%. Ciro Gomes (PDT), em terceiro lugar na região, caiu três e tem 14%.

Dessa forma, mesmo com uma possível redução de votos, o candidato do PT ainda deve ser o mais votado no primeiro turno na região.

A BBC News Brasil analisou os dados das pesquisas divulgadas esta semana e mostra abaixo esse e outros destaques.

1) Haddad tem baixo apoio no Nordeste se comparado com Lula e Dilma

Em agosto, antes da candidatura de Lula ser barrada pela Lei da Ficha Limpa, o ex-presidente tinha 71% dos votos válidos no Nordeste, segundo pesquisa Ibope da época. Era um patamar mais alto do que qualquer candidato petista já registrou na região.

De olho nesse apoio, o PT investiu no discurso de que "Lula é Haddad, Haddad é Lula", para transferir os votos de um para outro. Mas essa campanha pode ter chegado a um limite.

Além da oscilação negativa na pesquisa estimulada, Haddad caiu ainda mais na pesquisa espontânea, aquela em que o entrevistador não mostra a lista de candidatos e espera a resposta que o eleitor tem na ponta da língua: foi de 30% para 25%. Enquanto isso, Bolsonaro subiu de 14% para 17% na espontânea no Nordeste.

"O potencial de transferência de votos de Lula no Nordeste é menor do que nas eleições anteriores. A mensagem de que 'Haddad é Lula' tem limites evidentes. Do ponto de vista da biografia, Haddad não poderia ser mais distinto de Lula – pelo local de nascimento, trajetória educacional e política", afirma Cortez.

2) Em todo o Brasil, Haddad fica estável

As pesquisas também indicam que a candidatura de Haddad pode ter entrado em um novo momento no Brasil todo. No resultado nacional, em cerca de um mês, o petista havia disparado de 4% para 22%, de acordo com o Ibope. Já nas três pesquisas seguintes, oscilou dentro da margem de erro: 21%, 21% de novo e agora 23%.

O Ibope traz outro indicativo de que a trajetória de alto crescimento de Haddad pode estar perto do limite. Uma das perguntas feitas pelo instituto é: sendo Haddad o candidato apoiado por Lula, você votaria nele?

Em 25 de setembro, 26% diziam que votariam com certeza em Haddad. Eram 4 pontos a mais do que a intenção de voto no candidato, o que apontava que ele tinha mais alguns pontos para subir sem muita dificuldade. Mas na pesquisa Ibope divulgada na segunda-feira, esse percentual caiu de 26% para 22%. O novo número é praticamente equivalente à intenção de voto atual do candidato.

"Esse quadro de estagnação do Haddad mostra um possível teto tanto da transferência de votos de Lula, como da própria expressão política de Haddad", avalia a cientista política Magna Inácio, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

A principal explicação, diz Magna, é que "Haddad herdou parte dos votos do Lula, mas herdou também a rejeição e o antipetismo".

"Certamente, Haddad não chegaria aos mesmos patamares de Lula. Mas havia uma expectativa de que pudesse aglutinar mais a esquerda e crescer. O próprio PT esperava que, nessa semana, Haddad viesse a crescer e superar Bolsonaro. A estagnação de Haddad mostra a dificuldade da campanha petista de lidar com a radicalização à direita, que aumenta o antipetismo", completa.

2) Bolsonaro cresce no Nordeste e entre eleitores de baixa renda

Até a semana passada, o perfil de eleitores de Bolsonaro e Haddad era oposto: enquanto Bolsonaro liderava com folga entre quem tinha maior renda, maior escolaridade e nas regiões Sudeste e Sul, Haddad subia cada vez mais entre os mais pobres, de baixa escolaridade e no Nordeste. Pesquisa após pesquisa, essa diferença aumentava.

Já essa semana, algo mudou nessa equação. Bolsonaro continuou crescendo no seu principal perfil de eleitor, mas também avançou muito nos grupos onde Haddad se sai melhor.

No Datafolha divulgado na terça-feira, Bolsonaro cresceu 9 pontos no Sul, enquanto Haddad oscilou um ponto para baixo. Já no Nordeste, Bolsonaro cresceu 4 pontos e Haddad desceu 2.

Entre os mais ricos, Bolsonaro cresceu 7 pontos e Haddad perdeu 4. Entre os mais pobres, Bolsonaro subiu três e Haddad não saiu do lugar.

"O que vimos nas últimas pesquisas é que há um aumento de rejeição nesses segmentos ao Haddad. Isso pode significar um deslocamento desse eleitor, que passa a ficar mais disponível à campanha de Bolsonaro", afirma Magna Inácio, da UFMG.

"Essa eleição é muito atípica e o eleitor vai se movimentar até o dia da eleição. Como em 2014, quando mais de um quinto dos eleitores definiram a escolha para presidente nos últimos dias antes da eleição", lembra Magna.

3) Um terço dos eleitores não cita nenhum candidato na pesquisa espontânea

Em quem você pretende votar para presidente? Diante dessa pergunta, um terço dos brasileiros ainda não tem um nome para apontar, mesmo faltando menos de uma semana para as eleições. Segundo a pesquisa Ibope divulgada na segunda-feira, 14% dizem que votam branco ou nulo e outros 19% não sabem, totalizando 33%.

Essa pergunta é a primeira a ser feita por Ibope e Datafolha. Já em seguida, os entrevistadores dos institutos repetem a questão, apresentando um cartão com o nome dos candidatos. Confrontados com o cardápio eleitoral, o número de eleitores sem candidato cai para 17%.

A diferença entre as perguntas é que a primeira capta o desejo espontâneo do eleitor. Por isso, é um termômetro de quão certo ele está do seu voto. O fato de haver um terço de entrevistados que não citam ninguém aponta que ainda há espaço para mudanças de última hora.

O percentual de pessoas que não cita ninguém é maior entre grupos em que o PT tradicionalmente vai melhor: 41% entre mais pobres, 40% entre menos escolarizados, 38% na periferia. Também é maior entre as mulheres: 39%. Os últimos dias de campanha serão cruciais para esses grupos definirem seus votos.

"O eleitor ainda está observando o cenário eleitoral. Essa semana, a gente começa a ter as últimas definições de voto", afirma Magna Inácio. Segundo a cientista política, outro fator para somar a essa balança é o alto número de eleitores de candidaturas menos competitivas, como Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB), que dizem que podem mudar de voto.

"Em conjunto, esses dois fatores podem gerar uma volatilidade na reta final das eleições. Mas não é uma volatividade que tende a migrar de polos – ou seja, o eleitor não vai saltar de Bolsonaro para Haddad", completa.

4) Definição no primeiro turno depende de uma série de fatores

Segundo a pesquisa Ibope divulgada ontem, Bolsonaro tem 38% das intenções de voto. É um percentual ainda distante do necessário para uma vitória no primeiro turno – 50% mais um. Além disso, é um patamar inferior ao registrado pelos candidatos que ocupavam a primeira colocação em eleições anteriores.

Assim, uma vitória em primeiro turno é, nesse momento, improvável. Uma série de fatores teriam de mudar até domingo para haver essa definição.

Em primeiro lugar, Bolsonaro teria de crescer mais. Além disso, para que a votação do candidato seja mais representativa, a quantidade de votos válidos teria de ser menor – em outras palavras, a taxa de brancos e nulos, que são excluídos dos votos válidos, teria de subir em relação a eleições anteriores.

Outro fator que poderia interferir seria uma alta abstenção entre eleitores que não votam em Bolsonaro. Isso também reduziria o total de votos necessários para vencer a eleição.

5) Ciro e Alckmin mantêm patamar, dificultam voto útil e brigam pelo posto de 'terceira via'

Os candidatos do PDT e do PSDB ficaram ainda mais distantes dos dois primeiros colocados e têm hoje pouquíssima chance de chegar ao primeiro turno.

Por outro lado, ao contrário de Marina Silva (Rede), Ciro e Alckmin estão resistindo. Desde meados de setembro, eles não sobem, nem caem acima da margem de erro. Juntos, eles têm entre 17% e 20% das intenções de voto.

Com isso, os dois estão evitando uma subida maior de Bolsonaro e de Haddad. E, desta forma, contribuindo para levar a disputa para o segundo turno.

De olho nisso, a campanha de Bolsonaro vem atacando Alckmin, pregando o voto útil no ex-capitão do Exército para derrotar o PT. Já Alckmin mantém uma acirrada campanha contra Bolsonaro (só interrompida temporariamente após o atentado sofrido pelo candidato do PSL), tentando evitar uma fuga ainda maior de votos.

6) Eleitor de Bolsonaro é o que mais usa WhatsApp para se informar sobre política

O Datafolha divulgado na terça-feira também perguntou se as pessoas usam redes sociais para ler sobre política e eleições. O resultado comprova que os apoiadores de Bolsonaro são os que mais usam WhatsApp: 61%.

O ex-capitão do Exército conta com inúmeros grupos de apoiadores no app de conversas, muitas vezes sem nenhuma relação com a campanha oficial, dedicados a espalhar propaganda, coordenar ações, responder a críticas e atacar adversários. Desde julho, a BBC News Brasil está acompanhando alguns desses grupos.

Um dos maiores apoiadores de Bolsonaro, Major Olímpio, candidato a senador por São Paulo, disse à Revista Piauí que está em 897 grupos de WhatsApp. Acrescentou que o mesmo ocorre com Bolsonaro e seus filhos. Segundo Olímpio, em poucos minutos, essa "rede Bolsonaro" consegue atingir 1 milhão de pessoas.

Já do lado rival, na campanha petista, os números são bem diferentes. Apenas 38% dos apoiadores de Haddad dizem usar o WhatsApp para se informar sobre política.

A greve dos caminhoneiros, em junho deste ano, já apontava que o WhatsApp seria extremamente importante nas eleições de 2018. "A rede social das eleições de 2018 vai ser o WhatsApp. Hoje, muito mais pessoas têm smartphones no Brasil do que em 2014", avaliou Maurício Moura, pesquisador da George Washington University, nos Estados Unidos, em entrevista para a BBC News Brasil em junho.

7) Brasileiros se sentem inseguros e tristes

O Datafolha também perguntou qual é o sentimento dos eleitores em relação ao Brasil. O resultado é uma nuvem pairando sobre o país: 88% estão inseguros, 79% estão tristes, 68% estão com raiva.

"Não me lembro de outro momento com tanto desencanto. Nem no auge da inflação, quando as pessoas também estavam temerosas com relação ao futuro. Mas seria surpreendente se fosse diferente. Com uma crise econômica desse tamanho, uma crise política que se arrasta desde 2014, problemas de segurança agravados…", avalia Maria Herminia Tavares, professora de ciência política da Universidade de São Paulo (USP).

 

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