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"Cadê o Lula e onde estou eu?", diz Ciro Gomes sobre repertir aceno de petista ao mercado

2018-06-14 15:02:00

 

 

"Ciro

Direito de imagem

DIEGO PADGURSCHI/BBC

Image captionPDT é o sétimo partido ao qual Ciro Gomes se filia; ele já foi deputado estadual, federal, prefeito de Fortaleza e governador do Ceará

 

 

Sob o olhar de Getúlio Vargas, João Goulart e Leonel Brizola, na sede paulista do PDT, o presidenciável Ciro Gomes recebia uma camada de base sobre o rosto para conter o brilho do suor. Embora fizesse um clima ameno em São Paulo na última segunda-feira, Ciro tinha motivos para suar. Em um cenário sem o ex-presidente Lula (PT), ele disputa com Marina Silva (Rede) a vaga para o segundo turno do pleito de 2018, com 10% a 11% dos votos, de acordo com o último Datafolha.

Para garantir a vaga, tenta aglutinar em torno de si os partidos de esquerda, especialmente o PSB, que lhe acrescentaria 1 minuto e 23 segundos diários de exposição televisiva na campanha. Ao mesmo tempo, tem aberto diálogo com partidos de centro e direita, como DEM, PP e Solidariedade. Mas declarações recentes suas criaram mal-estar entre os possíveis aliados, que a equipe de Ciro tentava debelar enquanto ele falava à BBC News Brasil.

Ele disse que, antes de sentar à mesa com essas siglas, se dedicará a garantir a "hegemonia moral e intelectual" da candidatura, o que foi entendido pela centro-direita como um demérito. "O que há nesse momento é uma brutal onda de especulação, muita intriga", exaltou-se o ex-governador do Ceará, negando conversas com partidos como DEM.

"Aliança é por definição contraditória. O que elimina essa contradição é o propósito com o qual ela é firmada", explicou-se, em referência ao termo "hegemonia moral e intelectual". Se nega que as conversas estejam em curso, Ciro não perde oportunidade de elogiar o atual presidente da Câmara e presidenciável do DEM Rodrigo Maia, "por quem tenho estima desde garoto".

Equacionada a questão política, Rodrigo Maia, deputado com bom trânsito no mercado financeiro, poderá ser um importante aliado para que Ciro consiga reduzir resistência nessa frente.

"Nenhum liberal desses toscos mal lidos chegará perto do meu governo", dispara o candidato. Questionado sobre a autonomia do Banco Central para conduzir a política de juros, Ciro afirma que a instituição passará a ser orientada a obter "a menor inflação a pleno emprego".

O pedetista critica duramente o sistema bancário nacional e garante que ampliará a competição entre bancos na sua gestão, a fim de reduzir os juros reais praticados no país. Afirma que fará o ajuste fiscal reduzindo as desonerações a setores da indústria, implantadas sobretudo no governo Dilma Rousseff (PT), e criando impostos sobre heranças e doações e sobre a distribuição de lucros e dividendos a empresários e investidores.

Para a Previdência, defende um modelo de capitalização público, em que o trabalhador resgate como aposentadoria algo proporcional ao que depositou ao longo da carreira.

Ciente do temor do mercado em relação a seu nome, Ciro diz que em "hipótese nenhuma" fará um texto de compromisso como a Carta ao Povo Brasileiro, apresentado por Lula na campanha de 2002 para assegurar contratos e pagamento de dívida. "Olha no que deu. Cadê o Lula e onde estou eu", diz.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

BBC News Brasil – O senhor tem excluído a possibilidade de aliança com MDB, chama de "ladrões" alguns integrantes do partido. No entanto, o partido com mais condenados pela Lava Jato é o PP, do qual pode sair seu vice, Benjamin Steinbruch. Não é uma contradição?

Ciro Gomes – O que há nesse momento no Brasil é uma brutal onda de especulação, muita intriga, o que também não me assusta, que é muito própria dos tempos.

O que eu tenho buscado fazer é buscar alianças com partidos que não têm candidato a presidente da República. Nesse momento, o único partido desse campo que não tem candidato é o PSB.

 

 

"MichelDireito de imagemEPA/JOEDSON ALVES
Image caption'Nós precisamos destruir o MDB, pelos caminhos democráticos', diz Ciro sobre partido de Temer

 

 

Isso dito, o jornalismo me pergunta às vezes, instrumentalizado por fofoca – e o jornalista não é culpado disso: 'E o PP, você aceita?' Claro que aceito. 'E o Democratas, você aceita?' Claro que aceito. E começam as especulações.

E o que eu digo, e isso elimina possibilidade de contradição, no Brasil nenhum partido político terá mais de 10% da Câmara Federal, se tiver mais do que 10%, será 11%, mas 12% seguramente nenhum partido terá. Mesmo eu ganhando, não tenho a chance de fazer 12% com o meu partido.

BBC News Brasil – Nem o MDB?

Ciro – Nenhum partido. Nenhum. O MDB vai encolher, o PT vai encolher.

BBC News Brasil – É uma novidade o que o senhor está antevendo. Por que até hoje não foi assim…

Ciro – O MDB hoje tem 70 deputados, é um pouco mais de 10% (o MDB elegeu 66 deputados em 2014, mas hoje a bancada tem 51 deputados, o que equivale a 10%), a Câmara tem 513 deputados. Nenhum fará 12%.

O que quer dizer que qualquer presidente responsável que queira traduzir suas promessas em compromisso resgatado com o povo tem que anunciar desde antes que aqueles a quem o povo depositar o voto, será com eles que nós teremos que negociar.

Eu sou um homem muito vivido e sempre disse que o problema não são as contradições da aliança, porque a aliança é por definição contraditória. Se não fosse contraditória, não era aliança.

O que elimina essa contradição é o propósito, no meu caso é claramente a fixação de um programa muito explícito, até julho ficarão muito claras as providências que eu pretendo tomar no ambiente de reformas interativas com o Congresso Nacional.

E, de outra forma, aquilo que eu chamo de hegemonia moral e intelectual, ou seja, o que importa aqui é a qualidade, o cimento da aliança e o propósito com o qual ele é firmado.

Nesse sentido, eu excluo o MDB apenas por isso: porque ele escapuliria claramente de qualquer possibilidade de hegemonia moral e intelectual. O que eles têm feito hoje – o MDB está comandando o poder a partir de um golpe; o que ele fez ontem – traiu e desmontou o projeto de aliança com o PT; o que ele fez anteontem – destruiu o governo Fernando Henrique Cardoso. Sempre com a mesma característica: fisiologia, clientelismo e roubalheira.

BBC News Brasil – O DEM, com quem o senhor estaria tendo conversa, é fiador desse governo Temer.

Ciro – Eu não tive nenhuma conversa com o DEM. O DEM tem candidato à presidência da República, ninguém menos do que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, por quem tenho estima desde garoto.

As pessoas não sabem, mas sou velho amigo do pai de Rodrigo Maia, César Maia. Ajudei o César Maia em campanhas importantes dele no Rio de Janeiro, tenho respeito pelo César Maia e esse respeito imediatamente se transferiu para o Rodrigo, de maneira que eu não cometeria nenhuma indelicadeza porque ele é candidato.

Se ele não for e, não sendo, admitir conversar comigo, a conversa estará aberta.

BBC News Brasil – O senhor já se colocou contra o teto de gastos e a reforma trabalhista. Vai revogar todas as reformas do Temer?

Ciro – Os valores perseguidos por essas reformas são valores corretos: equilíbrio fiscal, modernizar as relações trabalhistas. Só que, a pretexto disso, o Brasil fez coisas selvagens e incongruentes, coisas insustentáveis no campo da aritmética básica.

Por exemplo, você estabelecer, sem qualquer precedente e sem legitimidade, um status constitucional de que o Brasil está proibido de expandir seu gasto em termos reais com educação e saúde, colide com coisas evidentes.

 

 

"DilmaDireito de imagemROBERTO STUCKERT FILHO/PR
Image caption'No primeiro governo Dilma fez-se o quê em matéria de nacional desenvolvimentismo? Renúncia fiscal?', questiona o candidato

 

 

Isso vai constranger o custeio da máquina. Você não vai repor os carros da polícia? A munição da polícia? Se eventualmente a inflação ficar perto de zero, como queremos, em torno de 3%, você vai crescer só 3% as viaturas do Exército e da Polícia?

Isso daqui (o teto de gastos) tem que ser revogado pura e simplesmente. Mas, como o valor é correto, nós admitimos discutir. Mas nunca por status constitucional e nunca pesando sobre educação, saúde e investimento.

BBC News Brasil – Como faria o ajuste fiscal? De um lado, você defende que não haja diminuição do investimento público, mas, mesmo com o ajuste fiscal que a gente tem hoje, com redução de investimentos, há um deficit previsto nas contas públicas até 2021. Como vai dar pra o Estado voltar a investir e ao mesmo tempo sanear as contas públicas?

Ciro – É só a gente raciocinar e sair das interdições ideológicas. O raciocínio é básico e todo mundo está sabendo fazer em casa nesse momento trágico de dificuldade, em que 13,7 milhões de brasileiros estão desempregados.

Como essa gente faz todo dia? Diminui a despesa – às vezes na conta do sacrifício, como é o caso do nosso povo – e procura aumentar a receita. Tem muita gente aí no bico, fazendo hora extra, trabalhando 14, 16 horas.

BBC News Brasil – A diferença é que o governo tem uma série de gastos que não podem ser diminuídos…

Ciro – É só a gente ir em linha com o mundo. Qual é o país do mundo que compromete metade de seu orçamento com despesa financeira? Aqui você tem que cortar custo com juro e rolagem de dívida.

Quem determina a taxa de juros é um conjunto de variáveis práticas. Mas no Brasil essas variáveis práticas têm sido violadas em favor de uma especulação patrocinada pelo governo, claramente. A conta de juro no Brasil não fecha.

Mas a outra grande questão é aumentar a receita e, para isso, considerar criticamente três grandes passos: é razoável um país com esse nível de deficit ter renúncias fiscais da ordem de quase meio trilhão de reais por ano?

No mundo inteiro, cobra-se tributo progressivo sobre as grandes heranças e doações. O Brasil cobra 4% em média.

O mundo inteiro, menos o Brasil e a Estônia, cobram imposto sobre lucros e dividendos empresariais.

Por esse caminho e mais algumas outras providências de combate à corrupção, de garantia da eficiência, tudo isso permite a mim visualizar, dependendo do nível de apoio que eu conseguir granjear na população brasileira, de virar o jogo de deficit em 24 meses.

BBC News Brasil – Está no horizonte criar impostos, então?

Ciro – Acabei de falar em dois, que teriam que ser criados, como o imposto sobre lucros e dividendos, ou mudados em sua orientação, no caso de heranças e doações.

BBC News Brasil – Sim, ambos recaem sobre uma parcela específica da população…

Ciro – Só a maioria rica. Nesse país, cinco pessoas têm renda acumulada equivalente às posses de 100 milhões de brasileiros.

BBC News Brasil – No seu governo haveria interferência sua sobre a política de juros do Banco Central?

Ciro – Minha não, o Banco Central Brasileiro será orientado no meu governo para perseguir a menor inflação a pleno emprego. Portanto, a lógica do mandato do Banco Central mudará e voltará para ser um mandato em linha com as nações mais civilizadas do planeta Terra.

BBC News Brasil – Não haverá independência e autonomia do Banco Central?

Ciro – Não, ele será autônomo para perseguir a menor inflação a pleno emprego.

BBC News Brasil – O mercado financeiro tem sinalizado que prefere Jair Bolsonaro ou Marina Silva ao senhor. O senhor cogita formular uma espécie de Carta ao Povo Brasileiro?

Ciro – Não, em nenhuma hipótese. A minha autoridade para reformar o país depende de que fique muito claro que meu patrão é o povo brasileiro e o interesse nacional.

 

 

 

 

Isso não quer dizer que eu tenha qualquer tipo de preconceito ou hostilidade contra qualquer grupo de interesse, mas eu não aceito a tutela do autorreferido mercado, que se trata, na verdade, de meia dúzia de especuladores financeiros, sobre a democracia.

 

 

"JairDireito de imagemSEBASTIÃO MOREIRA/REUTERS
Image caption'Felizmente para nós, o Bolsonaro é um intérprete ridículo de valores muito sérios e ameaçadores pra humanidade', diz Ciro Gomes

 

 

Isso é uma perversão absolutamente grave que tem destruído a economia brasileira. Repare bem, veja se é razoável: recebi a prefeitura de Fortaleza com 3 meses de funcionalismo atrasado e toda receita corrente só pagava 80% de uma folha. Não pratiquei um ano de deficit, saí com o superávit maior entre as capitais. Depois fui governador do oitavo Estado brasileiro (Ceará), não tive um único dia de deficit.

Por que o mercado quer me tratar agora como uma pessoa não austera? É por que eu estou dizendo que, nesse país, 26% da dívida pública está vencendo em quatro dias clandestinamente e isso não é nada austero, isso é corrupção.

BBC News Brasil – O senhor se refere às operações compromissadas do BC?

Ciro – Operações compromissadas do Banco Central (títulos vendidos ao mercado financeiro para serem posteriormente recomprados pelo BC), R$ 1,1 trilhão que vencem em quatro dias. Pergunte a qualquer especialista do planeta Terra se isso não cheira a crime, bandalheira, corrupção.

BBC News Brasil – O Lula cometeu um erro ao fazer a Carta ao Povo Brasileiro?

Ciro – Absolutamente, olha no que deu. Cadê o Lula e onde estou eu? Adiantou isso? O Lula foi 8 anos presidente do Brasil com superavit primário ao redor de 3% ao ano, o quê que adiantou?

BBC News Brasil – O senhor considera que foi o mercado financeiro que o colocou na cadeia?

Ciro – Eu não considero nada, eu estou perguntando a você o que adiantou aceitar que 85% das operações de um país como o Brasil sejam concentradas em cinco bancos.

BBC News Brasil – O senhor ativamente mudaria a estrutura bancária do país?

Ciro – Claramente. Vai ter mais banco e, com certeza, a partir do primeiro dia vai ter mais concorrência porque os dois bancos públicos – Banco do Brasil e Caixa Econômica – estão ali cartelizados junto com os três privados.

BBC News Brasil – Outros candidatos, liberais – como João Amoêdo, do Novo -, batem na mesma tecla e defendem privatização dos bancos públicos como parte do processo do aumento de concorrência para poder baixar

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