2007-07-21 18:28:37
Por absoluta falta de provas, e até mesmo de réus, deve ser “impronunciada”, segundo o termo jurídico, a denúncia contra o traficante Luiz Fernando da Costa, 40 anos, que o aponta como mandante do assassinato de João Morel, o patriarca de uma família ligada ao narcotráfico no Estado que, depois de ter sido aliado de Beira-Mar, transformou-se em inimigo e acabou morto a facadas, numa cela do Presídio de Segurança Máxima de Campo Grande, em janeiro de 2001.
O juiz reponsável pelo caso, Júlio Roberto Siqueira, afirmou, em entrevista ao Campo Grande News que a denúncia contra Beira-Mar não se sustenta. A possível ligação dele com o crime, por meio de um plano envolvendo outros detentos, não conseguiu ser provada pelo MPE (Ministério Público Estadual).
Em abril, o promotor que cuidava do caso, Celso Botelho, chegou a pedir novas providências, como a cópia dos depoimentos de Morel à CPI que investigou o narcotráfico, que poderiam provar a delação de Beira-Mar feita por ele, considerada um dos pivôs para que o traficante encomendasse a morte do ex-sócio. Na época, o promotor avisou que, se as novas diligências não dessem resultado, ele próprio pediria a chamada impronúncia, ou seja, a extinção da acusação contra Beira-Mar.
Mortes – O magistrado que cuida do caso comentou sobre o número de réus no processo que, ao longo do trâmite do caso, desde fevereiro de 2001, acabaram morrendo. Foram três desde então. O processo em que Beira-Mar é o réu principal, que tinha sete acusados, hoje tem 4, contando com ele.
A primeira morte foi de José Ivanilson Melo da Silva, na penitenciária de Oswaldo Cruz, em São Paulo, em novembro de 2004. Ivanilson, que cumpreu pena no Estado e foi transferido em 2002, era apontado como um dos fundadores da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). Outro réu morto, foi Welverlon Santi Lopes Ferreira, morto em janeiro deste ano, aos 28 anos, com três tiros. Ele já tinha sofrido uma tentativa anterior de assassinato.
Neste mês, a justiça recebeu a comunicação da morte de Luiz Marcos da Silva Santos, conhecido como “Francês”, que foi transferido da Máxima em Campo Grande a uma penitenciária de Florianópolis, de onde foi considerado foragido em 2005.
O advogado Willian Maksoud, que representou o único condenado do caso até agora também foi morto, em abril de 2006, num crime também atribuído a integrantes da facção criminosa.
Um condenado – Até hoje, só Odair Moreira da Silva foi condenado pela morte de Morel. Logo depois do assassinato, ele disse que matou Morel por legítima defesa. Havia pelo menos mais 4 detentos na cela, e um deles apontou uma versão diferente, dizendo que havia um plano, a mando de Beira-Mar, para executar Morel, e que o crime teria sido encomendado por R$ 180 mil, dos quais R$ 50 mil seriam destinados ao detento.
Há também a versão de que a família de Odair teria recebido uma chácara próximo a Campo Grande de Beira-Mar, transação que não foi provada e que seria considerada também uma das provas contra Beira-Mar.
Diante de tantas incertezas, o magistrado que cuida do caso acredita que Beira-Mar, condenado em diversos processos, a maioria por tráfico, saia ileso dessa acusação. Hoje, ele ainda é considerando o comandante do narcotráfico na região de fronteira, e o “legado” de Morel teria ficado para o paraguaio Líder Cabral.